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“O jogo do bicho nunca parou, só mudou [temporariamente] de dono”, diz delegado

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“O jogo do bicho nunca parou, só mudou [temporariamente] de dono”, diz delegado
Foto: Camilla Zeni/O Livre

Quinze anos foi o tempo que João Arcanjo Ribeiro ficou preso, acusado dos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, homicídio e contravenção penal. Este último pela promoção de jogos de azar (o jogo do bicho), com a qual também ganhou fama em todo o Mato Grosso. Apesar disso, a jogatina ilegal nunca parou.

Foi o que afirmou o delegado Luiz Henrique Damasceno, da Delegacia Especializada de Fazenda e Crimes Contra a Administração Pública (Defaz), em entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (29), após a deflagração da Operação Mantus, que cumpriu 33 mandados de prisão preventiva e outros 30 de busca e apreensão.

De acordo com Damasceno, ainda em 2017, quando estava à frente da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), uma denúncia anônima informou à polícia que o jogo do bicho persistia. Na época, Arcanjo estava preso. Quem, então, comandava os negócios do ex-bicheiro? A resposta, segundo a polícia, era seu genro, o empresário Giovanni Zem Rodrigues.

O levantamento de informações e o serviço de inteligência levaram a polícia a uma empresa administrada por Giovanni, mas que estaria em nome de uma de suas sobrinhas, de cerca de 25 anos, que vive em Mato Grosso do Sul. “É uma típica situação de lavagem de dinheiro”, explicou o delegado.

Nesse local, a polícia apreendeu R$ 100 mil, além de anotações sobre o jogo do bicho. De acordo com a polícia, a mesma planilha foi encontrada durante apreensão feita em Sinop (500 km de Cuiabá), o que significava que a equipe do interior enviava o dinheiro “arrecadado” e Giovanni conferia. No quarto de Giovanni, na casa de Arcanjo, a polícia também encontrou documentos sobre os jogos de azar e cerca de R$ 201 mil em dinheiro.

Conforme Damasceno, foi Giovanni quem tocou “os negócios da família” enquanto Arcanjo estava preso.

E Arcanjo?

Conhecido e temido em todo o Mato Grosso, Arcanjo teria deixado a organização criminosa? “Ele é do tipo de pessoa que jamais deixaria de ser líder”, respondeu o delegado à imprensa.

Depois de 15 anos preso, João Arcanjo Ribeiro conseguiu liberdade na Justiça em fevereiro de 2018. Por cerca de seis meses ele chegou a não se envolver em escândalos, até que, em julho daquele ano, a Polícia Civil fechou um ponto de jogatina e, entre os documentos apreendidos, constava nome de familiares do ex-comendador.

No mesmo mês, ele foi acusado pelo Ministério Público de ter descumprido suas medidas cautelares e retomado os negócios ilegais. Na época, um homem registrou um boletim de ocorrência afirmando ter sido agredido por pessoas que seriam seguranças de Arcanjo, no estacionamento de propriedade da família do ex-comendador localizado na Avenida do CPA, em Cuiabá.

A agressão seria por disputa de ponto de jogo do bicho e, sobre o caso, João Arcanjo Ribeiro chegou a ser convocado no Fórum para prestar depoimento. Na ocasião, ele garantiu à imprensa: “Não sou bobo de cometer esse crime de novo“.

No entanto, foi nesse mesmo estacionamento que a Polícia Civil encontrou, nesta quarta-feira, diversos documentos de jogo do bicho, além de uma quantia ainda não informada pelos agentes. Por isso, ele foi preso de forma preventiva.

Concorrência forte

João Arcanjo Ribeiro não era o único nome forte do jogo do bicho em Mato Grosso, segundo as investigações. Por trás de uma segunda organização criminosa, chamada FMC, está Frederico Muller Coutinho, que chegou a ser alvo de outra grande operação da Polícia Civil: a Sodoma 2, da qual foi delator.

Foi por meio da FMC que as investigações sobre a continuação da jogatina ilegal começaram. “Ele competia acirradamente com o pessoal do Arcanjo”, revelou o delegado Luiz Henrique Damasceno.

“Eu não sei o que é que ele tem com relação ao Arcanjo, mas, recentemente, ele conquistou o título de comendador também. Foi agraciado pela Câmara Municipal, com o mesmo título que o comendador Arcanjo. Então, para ter uma noção de como era acirrado, até nos títulos eles iriam se equiparar”, comentou.

Uma terceira pessoa chegou a tentar acabar com o “reinado” dos dois grupos dominantes, segundo apontaram as investigações. No entanto, ela desistiu depois que sua casa foi alvo de tiros, provavelmente por uma das bancas concorrentes, disse o delegado.

De acordo com as investigações, em apenas um ano as duas organizações criminosas teriam movimentado pelo menos R$ 20 milhões. Os valores identificados referem-se apenas a transações bancárias que, segundo a polícia, seriam bem inferiores ao que foi movimentado em dinheiro vivo.

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