Crônicas Policiais

Membros de organização se chatearam com chefe que “retirava dinheiro demais”

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Membros de organização se chatearam com chefe que “retirava dinheiro demais”
Foto: Reprodução

Maior concorrente do ex-comendador João Arcanjo Ribeiro nos jogos de azar em Mato Grosso, o empresário Frederico Muller Coutinho, líder da organização criminosa Ello/FMC, movimentou quase R$ 12 milhões com a jogatina ilegal, segundo a Polícia Civil. O valor era constantemente retirado do “caixa” da organização, o que teria chateado outros membros.

Frederico, que era chamado de “Dom” pelos funcionários – tratamento dado à monarcas e pessoas importantes -, foi um dos 33 alvos de mandados de prisão preventiva cumpridos pela Polícia Civil, no âmbito da Operação Mantus, deflagrada contra o jogo do bicho, na quarta-feira (29).

De acordo com as investigações movidas pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e Delegacia Fazendária (Defaz), Frederico Muller iniciou as operações de jogo do bicho há cerca de dois anos, em Cuiabá, e já tinha ramificações no interior de Mato Grosso.

Por meio de interceptações telefônicas, a polícia percebeu que “Dom” agia de forma tão incisiva quanto João Arcanjo. Diálogo travado entre dois gerentes da organização apontou que Frederico não iria tolerar a chegada de uma terceira “empresa” de jogos de azar. Um dos gerentes chegou a alegar que o caso “iria virar uma guerra”.

Apesar de agir de forma “dura” com os funcionários, investigação da Polícia Civil apontou que Frederico se beneficiava livremente com os recursos adquiridos com o jogo ilegal. A informação foi conseguida também por meio de interceptação telefônica, quando outros funcionários conversavam sobre as “sangrias”, isto é, retirada de dinheiro, feitas por “Dom”.

“Conversei com o Denis, ele falou… sobre essa sangria do, né cara”, falou o funcionário. Em seguida, ele emendou: “Eu não sei se é verdade, mas o Denis falou assim: ‘Edson, só esse mês ele já pegou cento e cinquenta mil’… esse mês”.

De acordo com o funcionário, os demais gerentes da organização estariam, inclusive, “chateados” com as atitudes do patrão.

Ao todo, conforme as investigações, Frederico Muller movimentou R$ 6.404.289,58 milhões enquanto pessoa física. Como empresa, a quebra do sigilo bancário apontou que ele movimentou R$ 4.687.714,10 da Muller Coutinho Assessoria de Cobrança LTDA/ME, e outros R$ 341.763,39 da Muller Coutinho Corretora de Seguro LTDA. Ao todo, a cifra é de R$ 11,4 milhões.

Os valores, segundo as investigações, eram movidos de forma fracionada e, em alguns casos, por meio de depósito de forma não identificada.

Foto: Divulgação/TJMT – Membros da Ello/FMC em audiência de custódia

Abaixo, confira quem fazia parte da organização criminosa de Dom, segundo as investigações:

Gerente financeiro: Indinéia Moraes Silva, conhecida como “Jones”. Pela estrutura organizacional, a mulher está logo abaixo de Dom na linha hierárquica, sendo responsável por todo o caixa das operações feitas em Mato Grosso.

Gerentes comerciais: Dennis Rodrigues de Vasconcelos, conhecido como “James”. Conforme a GCCO, Dennis atuava na estruturação física e na expansão da organização criminosa. Ele também intimidava e ameaçava pessoas que não queria apostar com a Ello/FMC.

Glaison Roberto Almeida da Cruz trabalhava na região de Rondonópolis (212 km de Cuiabá) e, hierarquicamente, estava em nível inferior a Dennis. A casa de apostas gerenciada por ele acabou fechada pela Polícia Civil, ocasião em que 55 máquinas caça-níqueis foram apreendidas, além de quantia em dinheiro. Depois do caso, ele foi transferido para cuidar dos negócios em Cuiabá. Quebra de sigilo bancário de Glaison apontou uma movimentação de R$ 133.187,33.

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Em Campo Verde (130 km de Cuiabá), Werechi Maganha dos Santos era o responsável, sendo auxiliado por sua esposa, Patrícia Moreira Santana. A polícia teve acesso às contas bancárias do casal e conseguiu encontrar movimentações financeiras entre os alvos e as empresas do grupo Ello/FMC.

Tangará da Serra (240 km de Cuiabá) era gerenciada por Edson Nobuo Ybumoto. Conforme a Polícia Civil, ele prestava contas à “Jones” e Dennis.

Assessoria da gerência comercia: Kátia Mara Ferreira Dorileo, esposa de Dennis, auxiliava na gerência da organização, cuidando, inclusive, de fechamento de caixa.

Assessoria da gerência financeira: Madeleinne Geremias de Barros, “Mady”, era do setor financeiro, mas respondia à “Jones”. Ela era contratada formalmente por uma das empresas do grupo FMC, mas atuava com o esquema de jogos de azar.

Suporte e captação de clientes: Laender dos Santos Andrade cuidava da captação em Rondonópolis e, segundo Dennis, ele era “um cão de caça na rua”. A informação foi obtida por meio de interceptação telefônica.

Supervisores: Bruno Almeida dos Reis cuidava de toda a baixada. Ele teria movimentado R$ 11,8 mil, em valores fracionados. Rosalvo Ramos de Oliveira era supervisor subordinado a Dennis, mas teria pedido “demissão” da organização.

Alexsandro Correia, conhecido como Alex, também supervisionava e controlava o dinheiro recolhido na rua. Ele também cuidava da logística de distribuição das máquinas de aposta.

Apoio Operacional/Suporte: Eduardo Coutinho Gomes, conhecido como “Dudu”, fazia o suporte operacional para a organização criminosa. Conforme as investigações, ele era como um “suporte técnico” para quando as tabelas de jogos apresentavam erro, bem como as máquinas.

Recolhedores: Ronaldo Guilherme Lisboa dos Santos e Adrielli Marques, João Henrique Sales de Souza, Marcelo Conceição Pereira e Haroldo Clementino Souza eram os responsáveis pela coleta dos valores arrecadados com a contravenção. Também eram quem fazia os pagamentos de bônus e premiações aos funcionários.

Ainda, consta da investigação que uma pessoa, de nome Túlio, também atuava como recolhedor. Ele, porém, não foi identificado.

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