Crônicas Policiais

Assassinos de motoristas chamaram vítimas pelo aplicativo e pouparam evangélico que mostrou foto da família

Delegado afirma que não foi observado um critério de escolha entre as vítimas, mas que grupo afirmou ter poupado a vida de um motorista

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Assassinos de motoristas chamaram vítimas pelo aplicativo e pouparam evangélico que mostrou foto da família
Nas pontas, os dois adolescentes, no meio, Lucas (Foto: PJC MT)

O caso dos latrocínios dos motoristas de aplicativo Márcio Rogério Carneiro, 34 anos, Elizeu Rosa Coelho, 58 anos, e Nilson Nogueira, de 42 anos, chocou a população da Grande Cuiabá. A frieza do grupo criminoso, composto por 3 adultos e dois adolescentes, ao lidar com os assassinatos chamou atenção dos policiais que estão trabalhando no caso. Ainda assim, em depoimento, eles contaram ter poupado uma vítima da morte.

Segundo o delegado Maurício Maciel, da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), até o momento, os acusados não demonstraram haver um critério na escolha dos motoristas, eles eram apenas chamados aleatoriamente pelo perfil no aplicativo de corridas da suspeita Keise Melissa Rodrigues Matos, 25 anos.

“Das vítimas, têm informações que elas ficavam pedindo pela vida. No relato deles, não identificaram essa vítima, mas teve uma vítima anterior aos 3, que implorou, implorou, mostrou a foto dos filhos, disse que era evangélico, e eles até pouparam ele”, contou o delegado Maurício Maciel ao LIVRE.

Em coletiva na última sexta-feira (19), o delegado contou que a DHPP tem recebido denúncias de outros motoristas afirmando também terem sido vítimas do grupo. Mas, até o momento, apenas duas pessoas foram até a delegacia e representaram. Ele afirmou que a divulgação da imprensa sobre o caso tem ajudado a encontrar outras vítimas.

Motoristas de aplicativo
Da esquerda para a direita, Márcio, Elizeu e Nilson (Fotos: divulgação / PJC)

Prisão, apreensão e entrega

As investigações da DHPP iniciaram na manhã do sábado (13), após a equipe do Núcleo de Pessoas Desaparecidas receber informações sobre a primeira vítima, Elizeu Coelho.

Entre a noite de sábado e a manhã da segunda (15), a equipe do Núcleo de Desaparecidos recebeu a comunicação do desaparecimento de outros dois motoristas de aplicativos, Nilson Nogueira e Márcio Rogério Carneiro. Os 3 veículos utilizados pelos motoristas foram localizados em Várzea Grande.

A primeira prisão de suspeitos dos latrocínios foi realizada na noite da segunda-feira (15). Foram detidos em flagrante um adulto de 20 anos, Lucas Ferreira dos Santos, e dois adolescentes, ambos de 15 anos.

Em interrogatório na DHPP, eles confessaram friamente a execução dos crimes e indicaram os locais onde ocultaram os corpos de duas vítimas, Márcio e Elizeu. Já o corpo de Nilson foi encontrado somente na manhã da terça-feira (16).

Os 3 foram presos próximos à UPA do bairro Cristo Rei. Todos os 5 membros do grupo são moradores de Várzea Grande.

Ainda no início da semana, os delegados da DHPP representaram pelo mandado de prisão da quarta envolvida no crime, Keise Melissa Rodrigues Matos, 25 anos. As buscas por ela duraram toda a semana, até que no final da manhã da sexta-feira (19), ela sentiu-se pressionada e resolveu se apresentar na delegacia, quando o mandado foi cumprido.

Segundo o delegado Olímpio da Cunha Fernandes Jr, em interrogatório ela disse que conhecia todos os suspeitos, era amiga deles e teve até um relacionamento com um deles no passado, um dos adolescentes.

“E, realmente, foi através do aplicativo dela que pelo menos uma das chamadas que levaram à morte de um dos motoristas foi feita”, disse Olímpio.

A acusada negou ser membro de alguma facção criminosa. O delegado Maurício Maciel afirmou que ela era, também, a responsável pela venda dos carros que seriam roubados. E que todos eram muito próximos.

“A gente tem que completar a investigação, mas, a princípio, a suspeita Keise tinha ajustado com os outros 4 – que eram pessoas bem próximas, até em questão de uso de drogas -, que ia conseguir comprador para os veículos. Então, foi o combinado entre todos para a prática dos roubos. Mas, num contexto daquele ali, a possibilidade da morte era um fato”, disse Maciel.

O delegado diz não haver um “líder” no grupo, mas que um dos menores tinha mais o “intento homicída”, devido a um roubo que praticou com o irmão no Acre e a vítima reagiu, matando o irmão e acertando ele.

“E daí ele prometeu que as situações que ele fosse roubar, iria matar a vítima. Mas todos ali, não dá para destacar alguém como ‘chefe’, talvez um pouco mais influente, mas eles estavam associados”, afirmou Maurício ao LIVRE.

Delegado Maurício Maciel - caso latrocínio de motoristas
Delegado Maurício Maciel (Foto: arquivo pessoal)

Um foragido

Com as prisões de Lucas Ferreira dos Santos e de Keise Melissa Rodrigues Matos, e as apreensões dos 2 menores envolvidos nos latrocínios, há apenas um membro do grupo criminoso ainda foragido: Akcel Lopes Campos, de 20 anos.

O delegado Maurício Maciel afirmou que as investigações, até o momento, apontam que ele participou fisicamente dos crimes.

Em seu perfil na rede social Facebook, Akcel compartilha imagens de adolescentes zombando de militares e de adolescente armado. Quem tiver qualquer informação que possa levar a seu paradeiro, pode entrar em contato com a Polícia Civil pelo 197.

caso latrocínio de motoristas
(Foto: reprodução / PJC)

Crimes

Os 3 adultos envolvidos nos crimes irão responder por roubo majorado pelo concurso de pessoas, por restringir a liberdade das vítimas, grave ameaça com emprego de arma branca e resultado morte; ocultação de cadáver e corrupção de menores

Inclusive Keise, que não estava presente no momento dos assassinatos, mas responderá pelos mesmos crimes, diante de sua participação para que os homicídios fossem efetivados.

Segundo o delegado Maurício Maciel, o grupo se associou, a princípio, para roubar e vender os carros. Porém, a intenção dos homicídios também era nítida.

“O crime de latrocínio é um crime complexo, que aborda dois bens juridicamente protegidos: o patrimônio e a vida. Então, é muito comum que haja essa confusão. Mas, realmente, o objetivo deles, ao que tudo indica, era auferir lucro desses crimes, mas parece que tomaram gosto pelo homicídio”, completou o delegado Olímpio da Cunha Fernandes Jr.

Os carros foram recuperados antes que os acusados conseguissem vender. Mas eles confessaram terem conseguido realizar transferências das contas das vítimas via pix e ficar com os celulares dos motoristas. Os valores exatos dessas transferências só serão descobertos após a perícia dos celulares de todos.

Já os adolescentes de 15 anos responderão por atos infracionais análogos aos crimes de roubo e ocultação de cadáver e não receberão uma pena, mas sim uma medida cautelar socioeducativa de internação, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cuja responsabilidade do processamento é do Juizado de Infância e da Juventude.

No momento, os dois estão internados provisoriamente, o que pode durar até 45 dias. Até o fim desse período, precisa sair a decisão do Juizado sobre a medida socioeducativa a ser aplicada aos dois, que pode chegar a, no máximo, 3 anos de internação em um estabelecimento para adolescentes.

Delegado Olímpio e delegado Maurício - latrocínio de motoristas
Delegado Olímpio (de cinza) e delegado Maurício (de rosa) (Foto: reprodução / PJC)

Agressão e baguncinha na delegacia

Na audiência de custódia em que sua prisão temporária foi convertida em preventiva, Lucas Ferreira dos Santos, 20 anos, disse ter sido agredido por policiais civis quando estava preso na DHPP.

O delegado Olímpio da Cunha Fernandes Jr negou qualquer tipo de agressão e afirmou que, se foi uma estratégia por receio das consequências dos crimes cometidos por Lucas, isso “não vai colar”.

“Muitas vezes, a pessoa, por receio das consequências do que praticou, joga ao vento isso aí, para ver se cola. Não vai colar, porque ninguém fez nada contra eles. Nós tratamos todas as pessoas, inclusive os presos, com muita dignidade”, disse o delegado.

Também circulou a informação de que, na noite em que estavam presos na DHPP, Lucas e os dois adolescentes teriam recebido um “baguncinha”. O delegado confirmou a informação e justificou.

“Realmente saiu um lanche que demos para eles, porque eles estavam sem comer. A gente não sabia se, na hora que eles fossem encaminhados para a carceragem, iriam ter tempo ou previsão de alguma alimentação. Então os policiais cotizaram e compraram um lanche para cada um, para que eles não passassem fome”, contou Olímpio.

“Além disso aí, ninguém encostou a mão. Todos nós somos profissionais, além de saber que isso não seria certo, todos nós teríamos receio de colocar qualquer mácula em uma prisão tão importante”, finalizou.

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