Cinco membros do Ministério Público de Mato Grosso encaminharam pedidos às autoridades competentes cobrando apuração imediata de suas próprias condutas. Eles foram “delatados” pelo coronel da PM Evandro Lesco, e o cabo Gerson Luiz Correa, por supostas práticas ilegais promovidas no Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
Os documentos foram protocolados nesta quinta-feira (18), na Corregedoria Nacional do Ministério Público (CNMP), Corregedoria-Geral do MPMT e à Procuradoria-Geral de Justiça de Mato Grosso.
Em nota à imprensa, os membros do MP destacaram que pediram a investigação por estarem “firmes no exercício incansável de suas atribuições e cientes da lisura de todos os atos praticados no desempenho dos cargos que exercem”.
“Para que não paire quaisquer dúvidas acerca da idoneidade, da conduta pessoal e funcional, bem como da lisura dos procedimentos adotados pelos peticionantes quando do exercício de suas funções, em especial no combate às organizações criminosas e à corrupção junto ao Gaeco, é que vêm à presença de Vossa Excelência solicitar se digne instaurar o procedimento cabível para a apuração de todos os fatos narrados pelos réus”, diz trecho do pedido.
Os representantes do MPE destacaram que ambos são réus confessos, no âmbito da Grampolândia Pantaneira, e ponderaram que a citação de membros do MPE durante os interrogatórios seria uma “atitude desesperada”. Eles alegam que os militares estão na iminência de serem condenados.
Citados
Ao todo, seis membros do Ministério Público foram citados durante reinterrogatório dos militares na tarde de terça e quarta-feira (16 e 17), no Fórum de Cuiabá. Desses, cinco assinaram o pedido de investigação.
São eles o procurador Paulo Roberto Prado, ex-procurador-geral do MPE, e os promotores Marco Aurélio de Castro, à época coordenador do Gaeco, Samuel Frungilo, Marcos Bulhões dos Santos e Marcos Regenold Fernandes.
Os militares são acusados de orquestrarem um núcleo clandestino de escutas telefônicas ilegais dentro da Polícia Militar de Mato Grosso. Contudo, segundo denunciaram, a prática de “barriga de aluguel”, isto é, a inserção de pessoas comuns à uma relação de investigados, seria comum dentro do Gaeco.
Além disso, os militares ainda revelaram a existência de uma verba secreta dentro do Grupo, que seria acumulada com “valores restantes” de uma verba utilizada pelos membros do MPE para cobrir gastos com deslocamento e custos operacionais.
Quanto ao procurador Paulo Prado, afirmaram que foi ele quem doou a placa do sistema de grampos para o núcleo clandestino. O objeto pertencia ao Gaeco.
Procurador já investiga
Também nesta quinta-feira (18), o procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges, enviou nota à imprensa, afirmando que já tomou conhecimento sobre as declarações dos militares e que já apura – e continuará apurando – os fatos narrados.
Na nota, ele lembra que já determinou a apuração da suposta “verba secreta” do Gaeco, bem como a doação da placa de computador, usada para escutas telefônicas, para a Polícia Militar.
“Importante informar que estão sendo instaurados outros procedimentos investigatórios visando a apurar a veracidade de algumas declarações contendo versões até então não apresentadas pelos sobreditos réus”, diz trecho da nota.
Antônio Borges revelou que vai pedir cópias dos termos de interrogatórios e que, nos próximos 15 dias, vai fazer uma auditoria no sistema de escutas do Gaeco, o Guardião.
Ele finaliza lembrando que houve mudança de gestão e que a nova administração tem adotado medidas para fortalecer o Gaeco, como sua regionalização, e garantir a segurança dos atos investigatórios.