O esquema de escutas ilegais, conhecido como Grampolândia Pantaneira, teria contado com auxílio do Ministério Público do Estado (MPE) para funcionar. A informação veio a público nessa terça-feira (16), durante reinterrogatório dos coronéis Evandro Lesco e Zaqueu Barbosa ao juízo da 11ª Vara Militar de Cuiabá.
De acordo com Lesco, as placas usadas para o sistema de interceptação telefônica que grampeou políticos, advogados e jornalistas, teriam sido cedidas pelo então procurador-geral do MPE, Paulo Prado. Quem percebeu o caso, segundo o coronel, foi o cabo da Polícia Militar Gerson Luiz Correia Ferreira Junior, que também é réu nesta ação.
Gerson trabalhava diretamente na inteligência do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do MPE, e foi “recrutado” para o grupo de grampos clandestinos por Zaqueu Barbosa, que também já trabalhou no Gaeco.
Segundo as declarações prestadas à Justiça, existiam apenas duas placas dessas em Mato Grosso: uma ficava com a Polícia Civil e a outra com o Ministério Público. Essa placa do MPE teria sido, meses antes do início dos esquemas, entregue pessoalmente por Gerson ao procurador-geral Paulo Prado.
Quando Gerson passou a operá-las para as escutas clandestinas, ele percebeu que tinham a mesma numeração. Então, ele reportou o caso ao coronel Lesco, segundo o mesmo revelou.
“Não fosse essa iniciativa, dessa placa ser doada, em condições que não sei esclarecer, não precisaríamos hoje estar aqui reunidos. Eu como réu, não precisaria estar toda a imprensa mobilizada para apresentar esses fatos à sociedade. A iniciativa foi do procurador de Justiça Paulo Roberto Jorge do Prado”, disse Lesco, na audiência.
Depoimentos coincidem
As declarações do coronel Lesco sobre o caso corroboram com as informações reveladas pelo coronel Zaqueu Barbosa, também em depoimento na tarde dessa terça-feira.
Zaqueu afirmou que, no início da operação, acreditou que o ex-secretário Paulo Taques – a quem responsabilizou pelo início do esquema – havia adquirido o equipamento no Rio de Janeiro. Na época, ele teria recebido o equipamento das mãos do coronel Celso Barboza, já falecido.
Contudo, segundo ele, meses depois descobriu-se que, na realidade, as placas utilizadas seriam exatamente as mesmas do Ministério Público de Mato Grosso.
Outro lado
O LIVRE buscou contato com o procurador Paulo Prado para questionar sobre as declarações dos coronéis. Contudo, não teve resposta até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.