Cuiabá

Ruas de Cuiabá | A história de Kelvin, pintor, pastor, vencido pelo vício

Todo domingo o LIVRE conta a história de um morador de rua que vive em Cuiabá

5 minutos de leitura
Ruas de Cuiabá | A história de Kelvin, pintor, pastor, vencido pelo vício
(Foto: Vanessa Suzuki / O Livre)

Kelvin Henrique Alves de Almeida, 30 anos, nasceu em Rondonópolis (220 km da Capital), mas vive nas ruas de Cuiabá há 17 anos. Viciado em drogas e em álcool há 20 anos, ele afirma que a adicção (vício) o fez perder tudo na vida.

Pintor profissional, ele conta que já teve tudo: emprego, esposa, família. Em uma das vezes que tentou sair das ruas, chegou até mesmo a se tornar pastor, mas sempre volta para o vício e, consequentemente, para as ruas.

“Eu estudava, eu trabalhava, eu sou pintor profissional. Eu sou ex-pastor de igreja, tinha um ministério, tinha uma vida totalmente fora disso aqui que você está vendo. A adicção fez tudo isso aqui que você está vendo aqui. Uma vida sofrida, não é fácil, mas para Deus nada é impossível”, disse.

Kelvin
Kelvin em um período em que conseguiu sair das ruas, em 2021 (Foto: arquivo pessoal / Facebook)

Ida para as ruas

Atualmente, Kelvin mora no Morro da Luz, no centro de Cuiabá. Sua história com as ruas começou apenas por curiosidade – ele queria saber como era, foi e, devido aos vícios, ficou.

“Meu acontecimento foi simplesmente uma curiosidade. A adicção, muitas das vezes as pessoas que estão do lado de fora pensam que é fácil, que tem que tomar vergonha na cara. Não é. Muitas vezes a pessoa precisa de um apoio”, contou.

O apoio, no entanto, ele já recebeu. Segundo Kelvin, a família já lutou várias vezes com ele – e não conseguir abandonar os vícios o faz sofrer e buscar refúgio nas ruas.

“Cada vez que a minha família se afasta de mim, eu acho que o refúgio é esse aqui. E não é nada. Só preciso de uma oportunidade para sair desse mundo”.

Os pais já foram em busca de Kelvin e fizeram propostas para ajudá-lo. Porém, depois da segunda vez que ele foi preso (uma por roubo e uma por furto), desistiram.

“Disso aí em diante não me procuraram mais. Não me respondem. Eu ligo, eles não falam comigo”, contou.

Já a esposa e o filho, ele prefere não ter contato, para não incomodá-los.

Kelvin
Kelvin luta contra o vício em drogas e álcool há 20 anos (Foto: Isabella Suzuki / O Livre)

Dia-a-dia

Bastante lúcido sobre sua realidade, Kelvin vê a vida com bastante tristeza. Para ele, seus dias são sempre “tribulosos” e todo dia que acorda é o pior da sua vida.

“Me olhar no espelho e ver que a pessoa que sou hoje não é a pessoa que eu era antigamente. Uma pessoa que tem caráter, tem capacidade, inteligente, bonita, ficar numa situação dessa”, lamentou.

A todo tempo, enquanto conversava com o LIVRE, Kelvin demonstrou o quanto gostaria de deixar as ruas. Seu grande sonho é voltar a estudar e se formar. Ele parou os estudos na 7ª série. Mas, para que isso pudesse acontecer, ele acredita que precisaria se amar primeiro.

“Não é porque a gente está na rua que a gente não tem sentimentos. A gente tem. Estar na rua não quer dizer que a gente é um bicho. As pessoas nos tratam como se a gente fosse um animal, um lixo, um inseto na verdade. Mas você está aqui, está fazendo seu trabalho, você não vê a gente assim. Você vê que cada pessoa tem uma personalidade. Cada um tem uma história“, disse.

“Dizer bem a verdade para vocês, eu não tenho palavras, às vezes, para falar, porque o sofrimento é muito grande. Ali a gente sofre humilhação pela polícia, o povo discrimina. Eu gostaria de ter essa vida que vocês têm. Uma vida de paz, tranquilidade, chegar na sua casa, ter seu conforto, ter a sua televisão, tomar um banho, se alimentar, dormir bem”, completou.

Kelvin sonha em sair das ruas e voltar a estudar (Foto: Isabella Suzuki / O Livre)

Sonhos

Kelvin contou sentir muito por ver a família seguindo a vida e ele ficando para trás, em uma vida de sofrimento, da qual não consegue se desligar.

“Eu estou vendo que cada mês que passa, entra ano sai ano, eu estou na mesma situação. Não consigo sair disso. Não consigo conquistar nada. A família da gente está conquistando, prosperando, comprando casa, comprando carro, está se dando bem e eu aqui rastejando. Isso é difícil, isso é revoltante. Eu não tenho mais lágrimas para chorar”.

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Colaboraram Vanessa Suzuki e Isabella Suzuki.

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