O número de leitos de enfermaria e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Sistema Único de Saúde (SUS) em Mato Grosso cresceu 35% com as exigências impostas pela pandemia do novo coronavírus.
A alta representa uma melhora não vista há décadas na prestação do serviço e executada em um intervalo de quatro meses. Mas ainda é incerto o quanto disso deve permanecer com fim da crise sanitária.
Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), compilados a pedido do LIVRE, mostram que os leitos clínicos passaram de 869, quantidade disponível até o fim de fevereiro, para 1.181, número registrado só até esta semana.
A principal evolução ocorreu no campo das UTIs. A disponibilidade cresceu 121%, passando de 114 para 253. Os hospitais regionais foram os mais beneficiados, visto que têm funcionado como centros de referência para o tratamento da covid-19.
As enfermarias também cresceram expressivamente, apesar de ficar bem abaixo dessa marca. Conforme os dados da SES, as vagas subiram de 755, no fim de fevereiro, para 928 em julho (22%).
Os dados são referentes aos hospitais administrados pelo Estado. Uma medição que inclui a rede privada mostra que a quantidade de leitos de internação em Mato Grosso ganhou 807 unidades nos meses da pandemia.
Hospitais particulares são responsáveis por 500 deles, conforme levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM).
O SUS em Mato Grosso co-financia 45 leitos de UTI da rede privada para atendimento de pacientes da covid-19, juntos a hospitais filantrópicos e particulares. Vagas que podem sair da rede ao fim da pandemia.
Problemas financeiros
Esse aparato de saúde, contudo, pode ruir nos próximos meses. A tendência é que o financiamento tripartite (União, Estado e municípios) encerre com o fim da pandemia.
“Nós esperamos que esses leitos não sejam pontuais e temporários. Pedimos aos gestores que os mantenham, porque isso significa melhora da saúda população. Mesmo que a União não contribua com o mesmo valor, mas que mantenha a ajuda”, diz a doutora Hildenete Monteiro Fortes, presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT).
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Ela explica que o déficit de leitos antes da pandemia está relacionado com a defasagem da tabela SUS, o parâmetro usado para estabelecer quanto cada serviço custa, mas que está há cerca de 30 anos sem correção dos valores.
Com a pandemia e a urgência de incrementar o número de leitos, o governo federal, junto com Estados e municípios, financiaram com melhores preços os serviços. Conforme a SES, um leito de UTI tem custado R$ 2 mil diários para o Poder Público.
Antes da crise sanitária, o preço pago variava entre R$ 1,6 mil e 1,7 mil.
“O preço pago pela tabela SUS não dá nem para cobrir os gastos com antibióticos do paciente, é impossível manter um leito disponível assim”, disse a médica.
Em Mato Grosso, a maioria dos municípios dependem das cidades polos e da Capital para que seus pacientes tenham acesso aos serviços de saúde pública. Mas, se ocorrer a saída da União nessa linha de financiamento, o Estado tende a suspender a contribuição e os municípios não terão condições de manter os novos leitos.