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Retrospectiva 2020: listamos as 10 vezes em que o VLT nos fez de trouxa

Depois de 8 anos, governo de Mato Grosso, enfim, assume: não há condições para se construir o modal

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Retrospectiva 2020: listamos as 10 vezes em que o VLT nos fez de trouxa
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Além da pandemia, 2020 será lembrado pelos mato-grossenses como o ano em que o governo do Estado, enfim, admitiu o que todos já sabiam: o VLT não sairá do papel. Prometido para a Copa do Mundo de 2014, o modal de transporte revolucionário fez cuiabanos e varzeagrandenses de bobos diversas vezes.

E, para fechar o ano, a reportagem do LIVRE resolveu fazer um compilado de algumas das situações constrangedoras pelas quais passamos “em nome da modernidade”.

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1. A cidade verde, menos verde

O Ministério Público já havia apontado indícios de irregularidades no contrato e conseguido uma liminar na Justiça suspendendo as obras do VLT em agosto de 2012. Porém, o governo do Estado conseguiu reverter a situação e, para demarcar o início das obras, começou a retirada das árvores dos locais que seriam parte do trajeto dos vagões.

Foram mais de 2 mil árvores arrancadas apenas dos canteiros da avenida Fernando Correa da Costa, o que trouxe um ar desértico para a região do Coxipó e  aumentou a temperatura e a sensação térmica de quem passa por lá.

A mesma coisa aconteceu nas avenidas Prainha e do CPA, em Cuiabá, e da FEB, em Várzea Grande. Sem verde e sem trilhos, até hoje, o cuiabano não teve o prejuízo reparado.

2. Comércios atropelados pelos trilhos

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Sabe aquele ditado: “sem dor, não há ganhos”. Pois bem, não funcionou em Várzea Grande, onde apenas as dores foram acumuladas. No entorno de onde passariam os trilhos, os comércios foram minguando por conta das obras, que geraram desvios e também a falta de espaço para o estacionamento. Tudo isso sem contar o risco de desapropriação.

Três anos após o início das obras, 40% dos comércios da avenida da FEB tinham fechado, conforme dados da Câmara de Diretores Lojistas. A decadência foi acompanhada ao longo dos 22 km de trilhos, grande parte não instalada.

3. Chegada triunfante dos vagões

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Chegaram em cima de carretas e com mais pompa que os atletas que vieram a Capital por conta da Copa do Mundo. As pessoas tiravam fotos e cada movimento era motivo de show para mídia.

As celebridades em questão são os 40 vagões que iriam trafegar pelos trilhos do VLT. Eles chegaram em Cuiabá em novembro de 2013, um ano após a assinatura do contrato que deveria dar início as obras.

O governador à época, Silval Barbosa, que acabou preso por corrupção, fez a apresentação formal do material recém comprado pelo valor de R$ 500 milhões.

Vale lembrar que nesta época, não havia nenhum trecho completo para os equipamentos trafegarem e eles acabaram no pátio do consórcio, de onde não saíram até hoje.

E quando o atual governador, Mauro Mendes (DEM), anunciou a desistência oficial do VLT e a substituição pelo BRT, apresentou um dado importante sobre os vagões. Além deles não serem utilizados, ainda foram comprados a mais.

Conforme Mendes, são 11 vagões extras.

4. Turistas chegaram e pegaram ônibus

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Em junho de 2014, os turistas desembarcavam no Aeroporto Internacional Marechal Rondon e seguiam para uma belíssima estação, construída para ser o início de uma viagem confortável de VLT que cortaria Cuiabá e Várzea Grande.

Contudo, nada de trilhos e nem vagões. Eles tiveram que recorrer ao ônibus, táxi ou carona.

E, a estação? Tornou-se um marco, que apresentava aos visitantes o “fracasso” do Estado em se concluir uma obra. Vale lembrar que até hoje o espaço está lá para nos servir de lembrança.

5. A voltinha para inglês ver

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Tudo indicava que o tão sonhado VLT “ia dar ruim”, como falam os jovens. Então, para tentar minimizar os comentários e reverter a sua impopularidade, que estava gritando pelas ruas, o então governador, Silval Barbosa, resolveu promover um passeio de VLT.

Ele juntou jornalistas e políticos em uma voltinha que seria um divisor de águas na história da mobilidade cuiabana. Foi realizado do credenciamento dos agraciados com a oportunidade e toda a pompa que requer um evento oficial.

Desta forma, os convidados entraram no trem, que parou na estação que fica em frente ao aeroporto, e seguiram até a central do VLT. Uma distância de menos de 1 km.

O tempo de passeio foi curto, mas suficiente para Silval garantir que no ano seguinte, o serviço estaria funcionando.

6. Tem situação que nem a Nasa explica

(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Um ano após a Copa, em 2015, o governador mudou. Naquele momento, Pedro Taques assumiu o governo e após um estudo do trajeto do VLT descobriu que a inclinação do viaduto da UFMT era incompatível com o modal.

Falando no popular: “o vagão não subia nem na bala”. E, olha que os trilhos já estavam instalados sobre a estrutura.

Isso sem contar os problemas de drenagem no viaduto, que geravam alagamentos constantes. Tinha piadista falando que o VLT cuiabano seria anfíbio.

7. No caminho, tinha um morro

E quando a história é VLT, cada vez mais a “trama se adensa”. Outro problema encontrado foi o Morro da Luz. Eles descobriram em 2013 que os vagões não conseguiriam subir por ali porque a inclinação também era demais para o modal. A solução seria cortar a rua que passa pela lateral do morro e reduzir o ângulo.

Dentro dessa discussão, apareceu uma solução, que certamente traria emoção a viagem. Segundo os técnicos, se o vagão estivesse em velocidade e movimento constante, ele poderia subir. Sendo assim, era só ir acelerando o suficiente para que um vagão de 60 toneladas conseguisse seguir o trajeto.

8. Ilha da Banana

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Mesmo sabendo das impossibilidades de seguir por aquele rumo, em 2017, a Ilha da Banana, que fica ao lado do Morro da Luz, foi desapropriada e demolida pelo governo do Estado. A ação marcaria a retomada das obras que, mais uma, vez ficou só na promessa.

Até hoje, o espaço está coberto por escombros e, agora, com a mudança do modal para BRT, a expectativa de se ter uma solução para área diminuiu.

É bom recordar que muitos moradores de rua habitavam os prédios abandonados da ilha  passaram a ocupar o Morro da Luz, bem como toda a região central, o que gerou muitos problemas de saúde e segurança.

9. Estrelando nos jornais nacionais

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

“Símbolo de obra fantasma” e “esqueleto da corrupção” foram alguns dos apelidos que as obras do VLT ganharam na mídia nacional. Sempre rodeado de escândalos envolvendo até a prisão de políticos, o caso foi amplamente divulgado.

Enquanto o cuiabano acompanhava, o dinheiro escorria pelo ralo e, agora, o Estado entrou na Justiça para pedir o ressarcimento de R$ 830 milhões por danos econômicos e morais. O acusado? O Consórcio VLT, responsável pela obra.

10. O deboche rolou solto

Em dezembro de 2015, manifestantes fizeram um churrasco na vala do VLT. Tinha boia, cadeiras de praia, piscina plástica e, é lógico, carne e linguicinha para forrar o estômago.

O grupo queria usar o humor para estimular os governantes a resolverem o problema. Mas a iniciativa não causou o sentimento de constrangimento que era esperado e as obras continuaram paradas.

Enquanto isso, na Internet, as pessoas também não perdiam a oportunidade de esculachar. Tinha gente até sugerindo que os vagões virassem food truck para terem serventia.

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