Cerca de 15 palmeiras, parte delas ainda em vasos e já mortas, reacenderam em Cuiabá uma polêmica de quase cinco anos: o plantio dessa espécie de árvore em um clima que não favorece seu desenvolvimento.
O caso foi tema de debate na sessão desta quinta-feira (29) na Câmara de Cuiabá e motivou o vereador Sargento Vidal (Pros) a elaborar um projeto de lei que proíba a prática. A intenção dele é apresentar a proposta na próxima semana.
Segundo o parlamentar, o que precisa ser alterado é o artigo 139 da Lei Complementar 389, de novembro de 2015. O trecho, atualmente, permite a plantação de palmeiras em vias públicas da Capital no lugar de árvores nativas.
As cerca de 15 palmeiras que levaram o assunto à sessão da Câmara, segundo o Sargento Vidal, estão no entorno do viaduto Juca do Guaraná, localizado na Avenida das Torres e inaugurado em outubro do ano passado.
“Se for lá, dá para ver que agora tem 12 palmeiras mortas plantadas em vasos. Da inauguração até aqui, elas já morreram. E no mesmo local, há uma fila de 14 palmeiras plantadas, mas apenas três estão capengando, pois as demais já morreram”, disse o vereador.
Polêmica antiga
A última vez que esse debate veio à tona foi em 2017, quando a Prefeitura de Cuiabá anunciou o plantio de mais de 400 mudas de palmeiras imperiais nos canteiros das avenidas onde deveria passar o VLT.
O custo das árvores – o Sargento Vidal fala em até 10 vezes o de uma muda nativa da região – nem foi o problema. Elas seriam doadas, conforme a Prefeitura, na época. Mas um decreto de 2012 previa que, pelo menos, 70% das espécies plantadas em vias públicas fossem nativas da região.
Naquela época, o plano da Prefeitura de Cuiabá era plantar também ipês nas laterais das avenidas, mas eles representariam somente 45% do total de árvores previstas.
O Ministério Público de Mato Grosso, então, pediu explicações ao Município, que acabou voltando atrás na decisão. Dias depois, o então secretário de Serviços Urbanos, José Roberto Stopa – hoje vice-prefeito – disse que a Prefeitura estudava trocar as palmeiras por bocaiuvas.
Nem uma, nem outra foram plantadas. O impasse sobre a conclusão ou não das obras do VLT se sobressaiu à polêmica das espécies de árvores.
O problema? VLT!
As obras de implantação do VLT, aliás, foram o início da polêmica e isso foi lembrado na sessão da Câmara da última terça-feira. Convidada para falar em nome do coletivo “Não reclame do calor, plante uma flor”, a psicóloga Giselda Capilé resgatou o fato de que milhares de árvores – algumas delas centenárias – foram arrancadas para a passagem dos trilhos.
Só da avenida Fernando Corrêa, foram cerca de 2 mil árvores cortadas. “As árvores se foram e o trabalho não foi feito, o VLT não chegou até nós”, ela constatou.
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O que diz a Prefeitura?
Em nota encaminha à reportagem do LIVRE, a Prefeitura de Cuiabá afirmou que enviará uma equipe para verificar a situação do jardim do viaduto Juca do Guaraná “Pai”.
Sobre o plantio de palmeiras, informou que não há nenhum projeto que contemple exclusivamente essa espécie e que outras, nativas da região, como ipês e oitis também têm sido utilizadas.
Confira a íntegra da nota:
“Em relação ao trabalho de paisagismo, a Empresa Cuiabana de Zeladoria e Serviços Urbanos (Limpurb) informa que:
– A atividade realizada nos espaços públicos engloba o plantio de diferentes espécies de árvores, entre elas as Palmeiras também estão incluídas.
– Portanto, não existe, por parte do Município, qualquer projeto que contemple o plantio exclusivo de Palmeiras.
– Esse fato é possível observar em diversos pontos da cidade (parques, praças, canteiros, calçadas e rotatórias), nos quais o trabalho resultou no plantio de Ipês, Oitis e outras espécies nativas e exóticas.
– Destaca que as Palmeiras sempre estiveram presentes na vida de Cuiabá, seja nas praças públicas ou canteiros das principais vias, como é possível observar nos registros históricos.
– Sobre a situação do Viaduto Juca do Guaraná “Pai”, a Limpurb enviará uma equipe até o local para verificar a situação e adotar as medidas necessárias.
– Vale destacar que o órgão público conta com uma equipe de jardinagem que atua diariamente em todos os espaços públicos da Capital, com os serviços de plantio e manutenção”.