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Drogas em Poconé: abandono de fazendas favorece o tráfico no Pantanal

Áreas desocupadas facilitam as operações do tráfico internacional de drogas, que usam o Pantanal Mato-grossense como interposto

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Drogas em Poconé: abandono de fazendas favorece o tráfico no Pantanal
Lançamento da Operação Pantanal 2 para combate ao incêndio na região - Foto por: Mayke Toscano/Secom-MT

Fazendas abandonadas e a proximidade da fronteira tornou o Pantanal de Poconé (104 km ao Sul de Cuiabá) um local atrativo para o tráfico internacional de drogas. No final da tarde de ontem (26), por exemplo, 1,7 mil quilos de cloridrato de cocaína foram apreendidos no meio da mata, entre galhos e arbustos. A polícia trabalha com a hipótese de que o destino final do produto era a Europa.

Moradores da área rural do município estão apreensivos por conta da quantidade de droga e também porque, muitos, não têm quem os socorra num momento de emergência. Estão sem vizinhos, devido ao êxodo na região. Ilhados, levando em consideração as dificuldades de acesdeuso por estradas durante o período chuvoso.

Atualmente, a região sul do pantanal de Poconé, que corresponde a 50% do bioma no município ou cerca 720 mil hectares, possue 17 propriedades rurais ativas. Juntas, têm um rebanho que não ultrapassa 10 mil cabeças de gado, o que dá 0,01 cabeça de gado por hectares. Um número baixo se comparado e média estadual que é 1,2 cabeças por hectare.

Moradores da região, que não querem se identificar, explicam que a rigidez da legislação ambiental e a falta de logística são os motivadores do abandono. Os dois fatores aumentam o custo de produção e tornam inviável a manutenção das aréas pelos pantaneiros.

Com muitos espaços vazios, os criminosos acabam com os processos de transporte de drogas facilitados.

A apreensão das drogas

(Foto: PFMT)

De acordo com a polícia, as investigações começaram com o monitoramento de uma aeronave, que teve como primeira parada no Estado a cidade de Sinop (500 km ao Norte de Cuiabá). Lá, foram descarregados 462 kg de droga. Após a apreensão do avião e prisão dos tripulantes, o Grupo Especializado de Fronteira (Gefron), da Polícia Militar, e a Polícia Federal conseguiram as informações que levaram até a apreensão em Poconé.

Segundo o comandante do Gefron, coronel Manoel Bugalho, a droga estava em um local de difícil acesso e os policiais precisaram enfrentar muita lama e áreas alagadiças, além de mais de 100 km de estrada de chão – contados a partir de Poconé.

Quando questionado sobre qual pista de pouso foi usada pelos criminosos no Pantanal Mato-grossense, Bugalho disse que foi o de uma fazenda. Contudo, devido à condição de planície da região e o número de fazendas abandonadas, isso poderia ser feito em muitos pontos. “Como o terreno é plano, os criminosos apenas roçam o chão e o local já vira uma pista de pouso”, explica.

Uma situação que acaba favorecida pela quantidade de áreas desocupadas na região sul do Pantanal, onde no período de chuvas, o policiamento pode ser feito apenas com helicópteros e embarcações porque as vias ficam alagadas.

Bugalho alerta que a polícia faz patrulhamentos constantes, mas precisa estar em sinergia com os moradores, que devem alertar sobre movimentos suspeitos. O coronel adverte que os proprietários de áreas abandonadas precisam manter as fazendas porque com os espaços habitados, os criminosos têm dificuldade em agir.

Abandono, um problema antigo

Um proprietário rural da região relatou ao LIVRE que existe a insegurança, não apenas por conta do crime, mas também por conta do fogo. Incêndios mais graves registrados em 2020 vieram da região sul, onde está o maior número de fazendas abandonadas.

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Ele explica que, nesses locais, não há vias de acesso para se chegar a qualquer ponto das áreas, que são extensas, por conta das peculiaridades do Pantanal. Lá, as vegetações invasoras também tomaram conta, o que aumenta a quantidade de material orgânico, combustível para os incêndios durante a seca.

Na avaliação dele, enquanto não houver apoio político para retomada das áreas, os fazendeiros não vão voltar. Afinal de contas, eles saem porque não conseguem pagar as despesas.

O produtor ainda alerta para uma situação preocupante que é o valor das áreas. Elas desvalorizaram muito e, agora, a preocupação não é apenas a falta dos vizinhos, como quem serão os próximos moradores. “Por estar na fronteira, criminosos podem aproveitar a oportunidade para construir interpostos de operações ilegais”, avalia.

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