Cuiabá

Candidatos brancos são acusados de fraudar cotas raciais na UFMT

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Candidatos brancos são acusados de fraudar cotas raciais na UFMT

Pelo menos oito estudantes brancos aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os cursos de medicina e direito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, foram acusados de fraudar as cotas raciais da universidade.

Três estudantes foram acusadas de fraudar as cotas do raciais do curso de direito, período matutino. Já no curso de medicina foram acusados seis estudantes. Os denunciantes anexaram no documento fotos dos aprovados. Nas imagens, é possível ver que todos os estudantes citados são brancos.

“O que estamos averiguando é que essas vagas estão sendo preenchidas de maneira fraudulenta, por alunos brancos e poder aquisitivo maior do que estabelece os pré-requisitos”, diz o trecho da carta de denúncia encaminhada à UFMT.

Pelo menos cinco dos oito aprovados já fizeram matrícula na UFMT. Pelas regras atuais, o estudante cotista precisa entregar uma autodeclaração em que atesta ser negro, pardo ou indígena. Como a maioria dos estudantes já se matriculou, é provável que a suposta fraude tenha passado despercebida pela universidade.

Segundo o documento, os responsáveis pela denúncia fizeram pesquisas nas redes sociais dos cotistas aprovados para verificar se poderiam ou não ser beneficiários das chamadas “ações afirmativas”.

Ednilson Aguiar/O Livre

 

“A universidade também tem que ser provocada”, afirma a pró-reitora Eryvan Velasco. Ela defende que as denúncias sejam feitas para comprovar ou não as fraudes

“Apresentamos uma lista com alguns alunos que conseguimos apurar, de medicina e direito do campus de Cuiabá (os cursos mais concorridos da UFMT) que não são negros e, aparentemente, nem de baixa renda”, diz outro trecho da carta.

Averiguação

A pró-reitora de Assistência Estudantil da UFMT, Eryvan Velasco, diz que a universidade montou pela primeira vez este ano uma comissão para verificar as autodeclarações durante a matrícula dos aprovados. Apesar disso, a pró-reitora Ela afirmou que é papel da sociedade denunciar à universidade sobre indícios de fraudes.

“A universidade também tem que ser provocada. Nós estamos desenvolvendo uma ouvidoria justamente para isso. Hoje as denúncias não chegam de forma centralizada, mas em qualquer lugar que ela chega ela vai passar por um processo de averiguação”.

Eryvan afirma que mesmo estudantes que estão há muito tempo no curso poderão ser expulsos, caso seja comprovada a fraude. No caso específico dos oito aprovados denunciados, a pró-reitora diz que todo um processo de averiguação também será instalado.

“Afro-conveniência”

Para a mestre em Educação pela UFMT, Zizele Ferreira de Souza, irregularidades deste tipo são resultados de um fenômeno já registrado cientificamente, ao qual se dá o nome de “afro-conveniência”. O termo designa situações em que pessoas brancas se dizem negras quando isto lhe é positivo.

“O Brasil é um país que nega a formação indentitária negra em suas raízes. Mas nestas horas, quando a pessoa vê a vantagem, ela se torna negra com mais facilidade. Mas quando você conversa com essa pessoa, percebe que ela não se vê como negra: é apenas quando ela tem como usufruir o direito do outro. É mais uma proporção do racismo”.

Por se tratar de um país em que o racismo é “fenotípico”, ou seja, se dá pela cor da pele e não pela descendência, Zizele defende que a UFMT estabelece critérios de verificação das autodeclarações raciais pautados nesta linha de pensamento.

“No Brasil o racismo se dá de forma fenotípica. Ele é visual. Ele não se importa se na sua terceira ou quinta geração tem negro”, afirma.

Outro lado

A reportagem do LIVRE conseguiu entrar em contato com a maioria dos estudantes acusados de fraudarem as cotas. A estudante N.T. afirmou que o edital da UFMT deixa claro que não há banca avaliadora da autodeclaração. Ela também lembrou que possui descendência negra e indígena.

“Em um país miscigenado não tem como fraudar. Minha mãe é negra, minha vó paterna é indígena, que foi vendida ao meu avô em São Paulo, por um saco de batatas”, afirmou.

Os demais estudantes aprovados preferiram não responder aos nossos questionamentos.

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