Consumo

“Uberização do trabalho”: 76 mil migraram para vida sem carteira assinada em MT

O fenômeno econômico é fruto da crise, mas também das novas tecnologias, avaliam especialistas. E não é exclusividade brasileira

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“Uberização do trabalho”: 76 mil migraram para vida sem carteira assinada em MT
(Foto: Reprodução)

Trabalhar como motorista de aplicativo virou fonte de renda para muitos desempregados ou para quem precisa de um meio alternativo para ganhar dinheiro extra. De acordo com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Mato Grosso, pelo menos 76 mil pessoas passaram a atuar profissionalmente por conta-própria ou de maneira informal. Os números são de 2016 a 2019 e o aumento demonstra a força deste fenômeno econômico que vem sendo chamado de “uberização do trabalho”.

Essa nova forma de emprego não se restringe a quem atua como motorista da Uber, 99 ou Cabify – os aplicativos mais conhecidos do momento. Se estende a todas as pessoas que estão trabalhando de alguma maneira alternativa, autônoma ou não.

Wilamy Júnior da Silva, 31, há um ano e quatro meses atua como motorista de aplicativo em Cuiabá. Trabalhando em média 15h por dia, conseguiu aumentar a renda mensal em 75%.

No antigo emprego, em uma indústria, onde atuava na linha de produção, ganhava R$ 2 mil brutos. Agora consegue somar R$ 3,5 mil líquidos, com as cerca de 900 corridas que faz por mês.

Wilamy Júnior da Silva aumentou a renda em 75% e hoje fatura R$ 3,5 mil mensais dirigindo por aplicativo em Cuiabá (Foto: Vinícius Bruno/ O Livre)

Com o dinheiro extra, ele conseguiu reorganizar a vida financeira, comprou o carro próprio, está terminando de pagar algumas dívidas e já se prepara para realizar sua primeira viagem em família. O destino será o Nordeste.

“Para mim, hoje, está satisfatório. Quero continuar até quando der certo. É a primeira vez que consigo ganhar essa média de R$ 3,5 mil por mês. Hoje, ganho por produção. A vantagem é que eu consigo organizar melhor o meu expediente. Posso resolver alguma questão particular, sabendo que posso voltar a trabalhar logo em seguida”, relata.

Apesar da vantagem financeira, Willamy pondera que se sente inseguro por não ter direito à férias, 13º salário e outros direitos trabalhistas, como a possibilidade de seguro desemprego ou auxílio doença, caso um dia precise ser amparado pela Previdência Social.

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Pensando nisso – principalmente, na parte que diz respeito à saúde – ele pretende começar a contribuir com a Previdência e, se der, fazer também uma privada, já pensando em uma aposentadoria mais estável.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada trimestralmente pelo IBGE, apontam que o número de pessoas trabalhando no mercado informal em Mato Grosso aumentou de 165 mil para 186 mil, entre o terceiro trimestre de 2016 a igual período de 2019. São 21 mil trabalhadores a mais nesta condição.

Apesar do aumento da informalidade, os empregos formais também cresceram no período. Entre julho e setembro de 2016, eram 569 mil trabalhadores empregados com carteira assinada, em Mato Grosso. No mesmo período do ano passado, esse montante chegou a 626 mil pessoas, totalizando um crescimento de 57 mil novas vagas formais no Estado.

O IBGE também constata aumento no número de trabalhadores autônomos em Mato Grosso, que passou de 381 mil no terceiro trimestre de 2016 para 437 mil em 2019. Um aumento de 56 mil pessoas que passaram a trabalhar por conta própria.

Fruto da tecnologia

Advogado trabalhista, Marcos Avalone explica que a “uberização do trabalho” tem crescido devido ao aumento das novas tecnologias, que proporcionaram mais possibilidade de renda e de consumo para das pessoas.

“Não há como negar que existe uma precarização do trabalho, mas tudo depende do lado de quem vê. O trabalho autônomo é a opção de renda para muita gente. Quanto à informalidade, é possível a continuidade da contribuição com a Previdência como pessoa física ou como MEI – que é o microempreendedor individual”, pondera o especialista.

Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawati, as novas relações de trabalho não são exclusividade do Brasil e se consolidam em todo o mundo.

“Percebemos uma tendência mundial de novas relações de trabalho, seja por conta das novas tecnologias, sejam por conta dos novos produtos que vêm surgindo. Isso faz com que as contratações informais tenham crescido”, analisa.

Marcela Kawaiti, economista-chefe do SPC Brasil, avalia que a crise econômica no Brasil potencializou a uberização do trabalho, mas que o fenômeno é mundial (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Marcela explica que, no Brasil, a crise econômica iniciada em 2014, e que seguiu até 2017, potencializou o aumento de pessoas no mercado informal ou por conta própria.

“Por conta de tudo o que é novo, existe a necessidade de as regras se acomodarem. Mas, por enquanto, o que isso fez foi ajudar o emprego a crescer, mesmo que puxado pelo trabalho informal”, pontua.

Com essa perspectiva, é possível notar que o nível de desemprego em Mato Grosso reduziu nos últimos três anos, por conta das formas alternativas que os trabalhadores têm encontrado para conquistar renda.

A quantidade de pessoas ocupadas ao final do terceiro trimestre de 2016, segundo o IBGE, era de 1,522 milhão. Em igual período do ano passado, essa quantidade era 11,5% maior, alcançando o montante de 1,698 milhão, o que significa 176 mil pessoas a mais trabalhando – seja por conta-própria, na informalidade ou com carteira assinada.

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