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Esporte sem torcida: qual o futuro dos campeonatos sem uma vacina contra o coronavírus?

O uso da tecnologia para levar o público ao encontro dos atletas já começou. E para o futuro, as próprias disputas podem ser online?

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Esporte sem torcida: qual o futuro dos campeonatos sem uma vacina contra o coronavírus?
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A pandemia do novo coronavírus obrigou a humanidade a parar. E no mundo do esporte de alto rendimento não foi diferente. Grandes eventos, como os Jogos Olímpicos, a Copa América e campeonatos nacionais de futebol, tiveram de ser adiados ou cancelados.

Mas passado quase quatro meses da disseminação da covid-19 pelo mundo, alguns países já estão dando os primeiros passos de volta às competições. E uma medida unânime adotada até agora é a completa ausência de torcida.

Parece uma solução óbvia – já que monitorar as condições de saúde dos jogadores e demais profissionais envolvidos é possível -, mas há reflexos a serem considerados no desempenho desses atletas e clubes, segundo os pesquisadores que falaram com a Agência Brasil sobre esse tema.

Estádios vazios

O campeonato alemão de futebol foi uma das primeiras competições esportivas a ser reiniciada no mundo. As regras agora são claras: os estádios precisam estar completamente vazios. Assistir aos jogos só é possível pela televisão.

Uma medida necessária, mas que, para o sociólogo e professor da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) Ronaldo Helal, pode significar um desempenho menor do que o esperado dos jogadores.

“Você perde muito. Um espetáculo de massa, sem a massa – mesmo transmitido pela televisão -, é o mesmo que um teatro vazio. A tendência dos atores é não ter uma performance tão motivada por adrenalina, como teriam com a presença do público“, ele ressalta.

Quando aos expectadores, Helal acredita que “não vão se sentir nem satisfeitos, nem insatisfeitos. Acho que vão entender que isso é o que é possível fazer no momento”.

Já o professor da Escola de Ciências Sociais/FGV-CPDOC Bernardo Buarque de Hollanda lembra que para aqueles times que estão na “vitrine do futebol mundial […], tendo exibição e alcance planetário”, a medida pode até ajudar a “contornar o atual momento”, com as receitas provenientes de transmissões televisivas.

Os demais, no entanto, sequer devem ter acesso a esse tipo de tecnologia.

Hollanda afirma ainda que, mesmo na Europa, já existem grupos contra esse novo jeito de fazer os campeonatos. “Algumas torcidas organizadas estão promovendo campanhas contra. Partem da ideia de que, se não vai ter torcida, é melhor não ter futebol“.

Tecnologia ajuda?

Na Dinamarca, pelo menos o problema do “calor humano” da torcida foi resolvido. Ou quase.

Segundo a reportagem da Agência Brasil, o campeonato nacional do país “levou” a torcida ao estádio através de telões instalados nas arquibancadas. Por meio deles, os jogadores veem imagens dos torcedores transmitidas por aplicativos de teleconferência.

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Para Hollanda, se a pandemia se agravar, essas novas tecnologias podem ir além do ato de torcer. Podem representar o futuro do esporte no mundo.

“Os atletas não estarão no mesmo locus presencialmente, mas você pode criar formas de competição filmada. Soa absurdo e especulativo hoje, mas de fato ainda estamos em um momento nebuloso no qual não conseguimos discernir o que acontecerá adiante”.

Trata-se de uma realidade já explorada – pelo menos parcialmente – por uma modalidade esportiva específica: o CrossFit. Todos os anos, uma das etapas de seleção para o CrossFit Games – campeonato mundial da modalidade – é feita de forma remota e online.

Atletas e praticantes do esporte do mundo todo têm acesso às provas, que são disponibilizadas na internet, e podem realizá-las em suas próprias academias. É o chamado CrossFit Open.

Entre os que têm o objetivo de estar no Games, além de enviar seus resultados pelo site oficial da CrossFit é necessário anexar os vídeos de como foi seu desempenho.

Com a chegada da pandemia, a CrossFit precisou mudar as regras – o campeonato está mantido, mas será bem mais restrito -, mas os planos iniciais envolviam conceder uma vaga a cada primeiro colocado – nas categorias masculino e feminino – de cada país.

Em outras palavras, mais de 320 atletas seriam selecionado de forma exclusivamente online para os jogos, não fosse o coronavírus, diz o site Planeta CrossFit.

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Uma coisa não pode mudar

Mas para os dois pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil, é essencial que uma coisa não mude no esporte: os que grandes eventos continuem sendo entendidos como momentos de celebração para a humanidade.

“O esporte proporciona um pouco isso. De as regras serem as mesmas para todos, que o melhor vença pelos seus méritos. Se superarmos esta pandemia, se já tivermos uma vacina, e espero que sim, espero que seja uma grande celebração da humanidade, da vida após a pandemia, de união entre as nações e povos”, conclui Helal, se referindo aos Jogos Olímpicos de Tóquio.

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