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Após sofrer acidente e driblar a morte, jovem desafia a medicina: “vou voltar a andar”

Há pouco mais de um ano, a jovem rondoniense Sandya Ribeiro Belém, de 24 anos, está em Cuiabá fazendo tratamento fisioterápico para se reabilitar

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Após sofrer acidente e driblar a morte, jovem desafia a medicina: “vou voltar a andar”

“Eu não gosto de estar assim, mas eu sou feliz. Deus diz, ‘faça a sua parte e eu farei a minha’. Então, o que me cabe, eu estou fazendo”, diz Sandya Ribeiro Belém, de 24 anos, atualmente cadeirante e que persegue agora um grande sonho: voltar a andar. A jovem, que é um exemplo de superação e também de fé inabalável, sofreu um acidente de trânsito há sete anos e desafia a medicina com sua recuperação.

O mau humor não tem tempo com Sandya, que se divide entre uma rotina agitada por conta das sessões de fisioterapia, os estudos com a faculdade de Direito à distância, a leitura, que é seu hobby favorito, e aquela conversa boa com os vizinhos, ou com quem quer apareça para dar um “oi”. A partir daí, vão-se horas de risadas e boas histórias.

O que faz a garota baquear um pouco, em meio a isso tudo, são as saudades de casa, em Vilhena, Rondônia. Lá estão o pai, que é pedreiro e não consegue vir a Cuiabá por conta do trabalho, o irmão da garota e Adelaide, a gatinha de estimação e companheira de Sandya nos momentos de leitura.

Busca por tratamento

Há um ano e um mês, a jovem e a mãe, Maria de Fátima Ribeiro Belém, vieram para Cuiabá em busca de um tratamento de fisioterapia que trouxesse mais qualidade de vida e autonomia para a garota.

“Aqui eu melhorei muito, aprendi como me sentar da maneira correta. Estou desenvolvendo meus movimentos, a minha mão esquerda está menos rígida, já consigo mover o braço também”, diz enquanto levanta o braço esquerdo. Tudo isso, graças a longas sessões de fisioterapia que chegaram a durar até sete horas durante os primeiros dias de tratamento com a fisioterapeuta Sandra Lima, em 2021.

O acidente

No acidente, o pneu da moto conduzida pelo pai de Sandya ficou preso no pneu dianteiro do carro e isso fez com que a jovem fosse arremessada (Foto: Acervo pessoal)

 

Em quatro de julho de 2015, ao voltar para casa após um dia de trabalho, Sandya teve a vida mudada totalmente. Em um cruzamento, a motocicleta onde ela e o pai estavam foi atingida por um carro. O pai de Sandya trincou a bacia e teve algumas fraturas, mas sem gravidade.

Já a garota, foi arremessada e, ao cair no chão, quebrou a cabeça. Os ossos da caixa craniana se desfizeram e causaram uma forte hemorragia que ainda interrompeu a respiração dela, ao inundar um dos pulmões.

O acidente aconteceu a poucos metros do Hospital Regional da cidade e rapidamente pai e filha foram socorridos. Ainda assim, Sandya sofreu duas paradas cardiorrespiratórias.

“Os médicos dizem que eu, praticamente, cheguei morta ao hospital”, conta ela. Foram dois meses no hospital, sendo 44 dias de internação numa UTI, 37 deles em coma. Nesse tempo, Sandya ainda enfrentou os efeitos da alergia a um medicamento e passou por uma infecção hospitalar.

Por conta do traumatismo craniano, a moça perdeu massa encefálica e hoje tem 40 gramas de cimento ósseo e quatro parafusos de titânio na cabeça. De acordo com os médicos, Sandya deveria estar vivendo em estado vegetativo. Mas não foi o que aconteceu.

Recuperação

Sandya também faz acompanhamento médico na Capital e, conforme exames feitos este ano, a jovem deveria viver em estado vegetativo (Foto: Natália Araújo / O LIVRE)

 

Assim que acordou na UTI, Sandya ainda não firmava o corpo, o rosto ficava caído para frente ou para trás, e o restante do corpo não tinha movimentos por conta das lesões sofridas no cérebro.

Ela fez um tratamento disponível na rede pública de Vilhena, mas o acesso às fisioterapias lá é muito complicado.

“Funciona assim: a gente faz algumas sessões e depois precisa esperar um tempo para que sejam liberadas mais terapias. Um dos problemas é que essa liberação demora muito e o avanço que a pessoa teve se perde nesse período de espera. Além disso, em Vilhena não há os equipamentos que a Sandya precisa para evoluir”, diz Maria de Fátima, mãe de Sandya.

Com muito esforço, a família conseguiu uma fisioterapeuta particular que foi quem ajudou Sandya a dar os primeiros passos na recuperação. Um avanço foi o firmamento e o giro do pescoço para os lados.

Porém, Sandya precisava de mais estrutura para continuar se desenvolvendo. E foi em Cuiabá que ela soube que poderia ter essa chance.

Se há dor, há vida

A jovem conta que a esposa de um conhecido também sofreu um acidente, lesionou a coluna e fez o tratamento fisioterápico, com a especialista Sandra Lima, na capital mato-grossense.

O casal contou a história de Sandya para a fisioterapeuta que se dispôs a receber a jovem e deu a ela 15 dias de terapia. Mãe e filha vieram para as terras cuiabanas e começaram a nova fase de tratamento. As sessões de Sandya chegaram a durar sete horas.

“A evolução é nítida, agora consigo me virar na cama, consigo me sentar de maneira correta na cadeira de rodas, já mexo o braço esquerdo”, relata. O esforço é grande e há dias em que a dor aparece. “Não reclamo, eu sinto dor porque estou viva”, diz.

YouTube video

O tratamento segue, agora, com sessões diárias que duram duas horas, que a paciente paga dentro de suas possibilidades, com ajuda de doações. O esforço e a dedicação da jovem são tão intensos. 

A expectativa é que o trabalho traga de volta a Sandya a autonomia e a capacidade de andar sozinha, e, porque não, colocar um salto alto bem alto e relembrar os tempos de modelo na cidade de Vilhena. Antes do acidente, ela tinha sido eleita a 2º Princesa da Expovil. 

“Eu quero entrar andando na minha formatura”, planeja a estudante do 9º período de Direito. Os estudos não pararam com a vinda de Sandya para o tratamento aqui. O curso segue à distância, em uma faculdade particular de Vilhena, na qual a aluna tem uma bolsa de 50%.

Solidariedade e fé

Neste período em Cuiabá, Sandya tem contado com a solidariedade de parentes, amigos e até desconhecidos. Para vir, o dinheiro foi levantado em “vaquinhas” e rifas, afinal, os ganhos do pai de Sandya como pedreiro e a aposentadoria da jovem não seriam suficientes para cobrir os custos.

“Viemos com uma quantia para passar um mês e 15 dias. Tudo o que temos aqui (na quitinete) foi emprestado. Cada um foi doando um pouco, até mesmo os móveis. O aluguel e energia são pagos por uma pessoa que se comprometeu a nos ajudar assim. É esse apoio que nos permitiu vir e ainda estarmos aqui”, pontua Fátima.

Sandya está com um processo na Justiça em Vilhena para que o Município arque com os custos do tratamento, uma vez que a rede pública rondoniense não tem condições de arcar com as necessidades da jovem. Ainda não há decisão judicial.

Mensalmente, os custos de mãe e filha em Cuiabá ficam em média de R$ 600, considerando os medicamentos (como o que é utilizado para a liberação muscular e também ansiedade), além de compras no mercado.

Apesar de todas as dificuldades, Sandya mantém uma fé muito forte, o que a ajudou a superar os obstáculos até aqui. A jovem lembra que chegou a ficar com raiva do que aconteceu e a questionar o motivo do acidente. Mas, com o tempo, aceitou o ocorrido e segue em busca do aprendizado que a tirará dessa situação.

“Eu não lembro de nada daquele dia, não lembro de nenhuma dor naquele momento. Tiveram momentos que eu questionei e fiquei com raiva do motorista que causou o acidente. Hoje eu já o perdoei”, afirma Sandya, com sua voz doce.

Exemplo de fé, Sandya diz que não questiona o que aconteceu e acredita que tudo ocorre “de acordo com a vontade de Deus” (Foto: Vanessa Suziki / O LIVRE)

“Com o tempo fui entendendo que tudo o que nos acontece é com permissão de Deus; nada é para nos prejudicar, mas, sim, porque Ele quer trabalhar na nossa vida de alguma forma. Hoje eu agradeço o que aconteceu porque consigo ver o agir de Deus em cada coisa que veio depois”, garante ela, com firmeza.

Para quem quiser contribuir com a Sandya, o Pix dela é: (69)  99349-5243.

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