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Esforço do organismo para repelir o coronavírus pode estar causando outras doenças

Pesquisadores já identificaram o novo coronavírus em outros órgãos e a reação do corpo para combatê-lo está sendo associada a outras doenças

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Esforço do organismo para repelir o coronavírus pode estar causando outras doenças
(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

O esforço do organismo humano em responder ao contágio do novo coronavírus pode estar implicando no aparecimento de outros problemas de saúde, em órgãos de fora do sistema respiratório. 

Estudos médicos em andamento no Brasil e outros países apontam que o coronavírus 2 (SARS-CoV-2), causador da covid-19, tem relações com doenças gastrointestinais, encefalites e inflamações. 

Essas doenças estão sendo estudadas pela relação delas com os lugares no organismo humano onde o coronavírus 2 já foi identificado por cientistas, em pessoas contagiadas na atual pandemia. 

Doença de Kawasaki

Na Itália, pesquisadores estão analisando o aumento da doença de Kawasaki, um tipo de vasiculite que aparece, geralmente, em crianças entre 1 a 8 anos de idade.  

Ela se caracteriza por inflamação, que às vezes envolve as artérias coronárias, febre prolongada, exantema, conjuntivite, inflamação das membranas mucosas e linfadenopatia. 

Conforme a revista científica The Lancet, o estudo partiu da província de Bergamo, onde houve aumento de 30 casos da doença kawasaki entre crianças com resultado positivo para a covid-19. A hipótese nasceu após análise de caso de 10 garotos internados em fevereiro deste ano.    

“Cinco pacientes apresentaram a forma clássica da doença e cinco apresentaram uma forma incompleta. Os pacientes com a forma clássica não tiveram conjuntivite e anomalias no pé e nas mãos. Quatro (80%) dos cinco pacientes tiveram mudanças nos lábios ou na cavidade oral ou as duas coisas”, diz pesquisa publicada pela Lancet (acesse aqui, em inglês). 

Na Itália, pesquisadores identificaram um aumento de casos de outra doença em crianças que foram contaminadas (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Neurônios 

Já uma pesquisa em andamento na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que o coronavírus 2 tem capacidade de atingir os neurônios. Conforme a Fundação de Apoio ao Ensino Superior Estadual (Faesp), patrocinadora do estudo, a infecção do neurônio está sendo associada à perda do olfato e do paladar em alguns pacientes da covid-19. 

A entrada no vírus na célula ocorreria via a proteína conhecida como ACE-2, enzima conversadora do angiotensina 2. Elas foram identificadas em células analisadas pelos pesquisadores da Unicamp. 

“Mas ainda não sabemos se o vírus realmente consegue quebrar a barreira hematoencefálica [estrutura que protege o cérebro de substâncias tóxicas vindas da circulação sanguínea]”, disse o professor Daniel Martins-de-Souza. 

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Conforme a Faesp, o resultado da pesquisa brasileira corrobora os estudos que estão sendo feitos em universidades lá fora. O coronavírus 2 teria certa propensão a infectar as células nervosas. 

Reação 

Pesquisador e membro do departamento de clínica médica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Germano Augusto Alves Pacheco afirma que as doenças relacionadas ao novo coronavírus, fora do sistema respiratório, não indicam necessariamente a agressão do vírus no organismo humano. 

A reação do organismo para combater a infecção do vírus e o forço para expelir anomalia é que pode estar causando disfunções em outras áreas. 

“Os estudos apontam que não é, necessariamente, o vírus que está causando as doenças que estão sendo relacionadas ao coronavírus. Assim como em qualquer contágio, o corpo humano reage para combater e esse esforço de reação pode estar causando novos problemas”, explica. 

O pesquisador Germano Pachedo diz que o cooronavírus 2 já foi identificado em secreções humanas, como fezes e sêmen, novidade que pode indicar novos modos de contágio (Foto: Reprodução/Veja)

Segundo ele, a relação pode estar na “disposição” que o novo vírus gera no organismo para a reação e os efeitos colaterais dela.

“Para falar de modo simples, imaginemos que o novo coronavírus gera uma espécie de gatilho no organismo para essas doenças que estão sendo relacionadas a ele”. 

Ele cita como exemplo estudos recentes sobre infecção pulmonar associada diretamente ao contágio. Uma característica do órgão infectado seria a coagulação sanguínea, o que provocaria a dificuldade respiratória. 

“São todos estudos ainda em fase inicial, sem nenhum resultado conclusivo. O vírus é algo novo para todos nós”, complementa.

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