Por enquanto, a valorização dos profissionais de enfermagem está apenas nas redes sociais. Desde que foi anunciada a pandemia do coronavírus, eles precisam se aventurar nos plantões das unidades de saúde pública e privadas de Cuiabá e Várzea Grande sem Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Segundo os trabalhadores, quando máscaras e luvas estão disponíveis, a qualidade é questionável ou não atendem as normas. Outra preocupação é com relação aos profissionais inclusos nos grupos de risco, que continuam na ativa em algumas unidades.
Em Várzea Grande, por exemplo, uma enfermeira gestante só conseguiu evitar o retorno ao trabalho, no pronto-socorro da cidade, porque um médico deu um atestado justificando que a gestação era de risco.
À equipe de reportagem, ela disse que estava de férias, porém a Prefeitura suspendeu o benefício diante da falta de profissionais para atender a demanda da pandemia.
A mulher, que não quis se identificar, buscou a administração do município pedindo para ser transferida para uma unidade com a possibilidade de trabalho home office, mas proposta não foi aceita.
Já em pânico com a situação, procurou o médico, que avaliou como inadmissível a volta aos hospital.
Outro trabalhador da unidade reclama do excesso de restrições para o fornecimento de EPI.
Ele relata que é disponibilizada apenas uma máscara descartável por plantão e o servidor pega mediante a apresentação de um documento de identificação.
Restrições ao acesso aos equipamentos também foram registrados no Pronto-Socorro de Cuiabá – tanto na antiga quanto na nova unidade -, bem como em unidades de saúde, como foi retratado anteriormente pelo LIVRE.
LEIA TAMBÉM
- Sindicato quer remanejamento de enfermeiros que se encaixam em grupo de risco
- Policlínicas e postos de saúde de Cuiabá estão sem máscaras e luvas
Rede particular
No Hospital Santa Rosa, as enfermeiras reclamam da discriminação em relação aos médicos.
Segundo elas, os médicos estão usando capote e máscara NR95 para tratar os pacientes suspeitos e confirmados. Já os demais profissionais usam a máscara cirúrgica simples e jaleco.
Já no Complexo Hospitalar de Cuiabá, os profissionais reclamam da falta e também da qualidade do material. As máscaras, segundo os enfermeiros, são de TNT, aquelas usadas por cabeleireiros e em locais empoeirados.
Eles relatam ainda que a direção técnica da unidade disse que os enfermeiros não podiam andar muito paramentados para evitar o pânico entre os pacientes. Um medida também tomada no Hospital Geral Universitário (HGU).
Lá, porteiros e recepcionistas têm acesso a máscara e álcool gel, porém quem está nas enfermarias não.
As máscaras, conforme os trabalhadores, são restritas e nem mesmo quem tem contato direto com os casos suspeitos tem acesso.
Negociações
Presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Mato Grosso (Sipen), Dejamir Soares afirma que a entidade está em negociação com o sindicato patronal e que os gestores dos hospitais concordaram em tirar do fronte os profissionais do grupo de risco.
Quanto aos equipamentos, a situação está complicada porque esbarra na falta dele no mercado.
A Prefeitura de Cuiabá, contudo, fez uma compra. Mas o produto ainda não chegou às unidades e, enquanto isso, os profissionais ficam expostos.
Em Várzea Grande, conforme o presidente do sindicato, sequer houve um acordo para a liberação dos grupos de riscos.
O que os hospitais dizem?
Prefeitura de Várzea Grande – Conforme a assessoria de imprensa, todos os servidores da área de saúde de VG tem EPI e as necessidades atendidas conforme prevê a legislação.
Hospital Geral Universitário
A assessoria de imprensa sustentou que não falta de EPI e que todos os protocolos do Ministério da Saúde estão sendo respeitados.
Conforme a assessoria, os trabalhadores dos andares superiores não estão em contato com pacientes suspeitos ou confirmados e, por isso, não precisam usar todos os paramentos indicados para quem está na equipe de frente: caso dos recepcionistas, porteiros e funcionários do pronto-atendimento.
Então, por uma questão de contingenciamento, levando em consideração a falta dos produtos no mercado e a perspectiva de aumento de casos, a unidade está controlando a liberação de máscaras, álcool gel e demais artigos de proteção.
A direção acredita que assim poderá manter o hospital aberto em uma situação de crise.
Complexo Hospitalar de Cuiabá
A assessoria de imprensa garantiu que todos os protocolos para o uso de EPIs estão sendo respeitados. Disse ainda que não houve casos confirmados na unidade e que os suspeitos são acompanhados de casa, quando não graves.
A assessoria também assegurou que os enfermeiros têm acesso aos equipamentos e que, no momento, a unidade tem como prioridade proteger o trabalhador porque, sem ele, os atendimento serão comprometidos.
Hospital Santa Rosa
Por meio de nota oficial, o hospital assegurou que está seguindo as orientações da Anvisa. Conforme a administração da unidade, “aos profissionais de saúde, cabe a higiene das mãos com água e sabonete líquido ou preparação alcoólica a 70%; o uso de óculos de proteção ou protetor facial; máscara cirúrgica; e luvas de procedimento para atendimentos habituais”.
Ainda conforme o hospital, os profissionais de saúde deverão utilizar as máscaras N95, FFP2 ou equivalente ao realizar procedimentos geradores de aerossóis como, por exemplo, intubação ou aspiração traqueal, ventilação mecânica invasiva e não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da intubação, coletas de amostras nasotraqueais.
O Santa Rosa disse que tem orientando também que, caso participem da assistência direta ao caso suspeito ou confirmado, profissionais de apoio devem realizar a higiene conforme citado acima.
E aos profissionais da higiene e limpeza, foram acrescentados luvas de borracha com cano longo e botas impermeáveis também de cano longo.