Política

Eleição para reitor da UFMT é “atropelada” e substituto de Myrian Serra já estaria na frente

Processo que termina com uma lista tríplice, em geral, duraria seis meses. Dessa vez, no entanto, vai ser concluído em 30 dias

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Eleição para reitor da UFMT é “atropelada” e substituto de Myrian Serra já estaria na frente
Evandro Saores, segundo da direita para esquerda, assumiu o cargo após saída de Myrian Serra durante o disputa com o MEC (Foto: Reprodução/Secom UFMT)

Ex-reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Myrian Serra, que deixou o cargo em fevereiro deste ano alegando motivos pessoais para renúncia, pode estar perto de fazer seu sucessor.

Ela vinha de uma disputa com o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, sobre as contas da instituição de ensino. 

Por causa da falta de mão na administração, segundo Ministério da Educação (MEC), o campus de Cuiabá chegou ao absurdo de meses de atraso nas contas de energia elétrica, o que levou à suspensão dos serviços em julho do ano passado. 

Intermitentemente, a rusga seguiu até dezembro e se agravou com o anúncio da Medida Provisória (MP) que mudou o formato de escolha dos reitores nas universidades e institutos federais.  

A chancela automática ao primeiro colocado nas eleições internas não seria mais aplicada. 

A reitoria da UFMT resistiu à mudança. E quando Myrian Serra deixou o cargo no começo de 2020 já estava decidido informalmente pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) que a estratégia a ser adotada seria esperar que a MP caducasse em junho, aponta fonte ouvida pelo LIVRE. 

O comando da reitoria foi assumido pelo vice-reitor doutor Evandro Aparecido Soares da Silva, que seguiu à risca a estratégia. Seu mandato tampão encerra em outubro e, 60 dias antes, a lista tríplice precisa estar na mesa do ministro da Educação (hoje um cargo sem titular). 

Prazo apertado 

O processo para a escolha de reitor deveria ter começado ainda no fim do ano passado. É um processo lento, mas com tempo o suficiente para que os candidatos articulem suas campanhas. 

Mas, a abertura das inscrições foi anunciada somente na quarta-feira (1º) e se encerrou na sexta-feira (3). A campanha começa no dia 8 e segue até o dia 24, quando será feita a consulta dos nomes mais cogitados para compor a lista. 

No dia 14 de agosto, o documento oficial com os três nomes deve ser enviado para o Ministério da Educação. 

Ou seja, um processo que geralmente durava quase seis meses foi comprimido em 30 dias. 

Jogados para escanteio 

O “atropelo” levou dois candidatos a desistirem das campanhas. A professora do Departamento Geografia, Tereza Cristina Higa, desistiu da disputa após um ano e meio de preparação para viabilizar parceiros de chapa. O anúncio foi publicado algumas horas antes do fim do prazo para inscrição, em seu perfil no Facebook. 

“Sempre trabalhei com a prerrogativa da liberdade democrática tanto na universidade quanto fora. E agora, mesmo se eu entrasse para concorrer, veria essa liberdade atropelada, porque a situação pode muito bem favorecer quem já está com a máquina nas mãos”, disse. 

Ela diz ser “inviável”, num momento de pandemia e restrição da circulação de pessoas, fazer campanha em paridade com o candidato já no cargo. A consulta será online e a campanha, por força maior, vai ficar reduzida às redes sociais. 

A professora de Administração, Danieli Backes ainda vai concorrer, mas vê o vice-reitor no cargo tampão já na dianteira, por causa da visibilidade da posição e pelo curto tempo para divulgar sua campanha. 

“Quem está no cargo já está fazendo campanha há quatro anos, e nesse processo atropelado, realmente vai ser difícil conseguir fazer alguma coisa com calma. Vamos ter 16 dias de campanha”, comentou. 

Os ventos da pandemia estão soprando a favor de mais quatro anos do grupo atual no cargo. 

A tradição informal 

A rusga das universidades e institutos federais com governo federal vem da escolha direta do presidente da República do nome para o cargo de reitor. Essa mudança no cotidiano da política significa que os nomes escolhidos até o governo de Dilma Rousseff (PT), podem dar lugar aos nomes mais próximos da coloração do presidente Jair Bolsonaro. 

Em termos cronológicos, pode ser o fim de uma sequência de 20 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, com os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e dois de Dilma. 

“Eu defendo a escolha legítima do mais votado no processo, mas quem define, por força de lei, entre os três nomes da lista tríplice é o presidente. E sem dúvida, não há clima para uma consulta nesse momento triste e de desmobilização. Um pleito atropelado favorece quem está à frente da máquina e nem temos 100% de garantias da lisura do processo eleitoral referente ao sistema digital a ser utilizado”, disse o doutor Alexandre Machado, também candidato a reitor. 

Sua decisão de permanecer na disputa só saiu horas antes do fim do prazo na sexta-feira passada. A reclamação é uníssona: o descumprimento das regras para a consulta fez a definição dos candidatos sair exprimida. 

A decisão dos governos federais anteriores de evitar confronto com as universidades fez criar uma “tradição informal” de se escolher o primeiro nome da lista tríplice. 

Antes da Medida Provisória de dezembro de 2019, a escolha do reitor era feita pelos professores também numa lista tríplice. O escolhido pela instituição era chancelado pelo presidente da República. 

Com a mudança, a montagem da lista passará por votação dos professores e aposentados (com peso de 70% na consulta), técnicos (15%) e estudantes (15%). Os três primeiros nomes mais bem colocados seguem para a escolha do presidente.

O que diz o reitor?

A reportagem do LIVRE entrou em contato com o vice-reitor Evandro Aparecido Soares da Silva por telefone e pelo WhatsApp. Ele disse que não podia falar no momento porque estava conduzindo uma reunião do Consepe. 

O vice, juntamente com os professores Danieli Backes e Alexandre Machado, são os nomes na disputa para gestão na reitoria. 

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