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Tia Nair: cuiabania, simplicidade e alma educadora

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Tia Nair: cuiabania, simplicidade e alma educadora

Ednilson Aguiar/O Livre

Parque Tia Nair

 

Uma entre 12 irmãs, Nair Cunha Monteiro foi uma cuiabana típica da segunda metade do século XX: estudou e se formou em uma escola local e passou a lecionar ainda na juventude. Aos 18 anos, veio o casamento, e a profissão ficou para trás. A partir de então, o ato de educar seria direcionado apenas aos filhos – cinco foram gerados em seu primeiro e único casamento – e a um bisneto criado por ela.

“Ela foi praticamente a professora em casa. Não lecionou para fora, mas acompanhou o estudo de todos. Ela fazia até o raciocínio dos problemas, ‘vou fazer isto, vou fazer aquilo’”, lembra a filha Alayde Monteiro Prado. A Tia Nair, ali, era mãe e professora de Alayde, Alvair, Alberto, Álvaro, e Maria Tereza, além do bisneto Ricardo.

Quando um dos filhos tinha dificuldade de aprendizagem, ela explicava nos mínimos detalhes. Quando toda a estratégia pedagógica falhava, estourava ainda com bom humor. “Mas, olha. Só se rachar sua cabeça no meio e colocar dentro”, dizia em tom humorado, segundo a filha.

O título de professora a acompanhou ainda durante toda a vida, chegando a constar na homenagem feita no nome do parque municipal localizado no bairro Jardim Itália: Professora Nair Cunha Monteiro. O terreno foi doado por um sobrinho e afilhado dela, o empresário Orlando Nigro. Foi ele quem deu a alcunha de Tia Nair ao espaço.

Ednilson Aguiar/O Livre

Parque Tia Nair

Alayde Monteiro Prado com retrato da mãe, Nair Cunha Monteiro, a Tia Nair

 

Nair nasceu em 14 de julho de 1911. Carregando o apelido de “chinha”, em referência a um pequeno pássaro, a mulher por trás do nome era uma pessoa com aspecto provinciano, no sentido estrito da palavra, sempre vestida de maneira simples. Nair foi casada com Álvaro Duarte Monteiro, proprietário de terras na região do Coxipó, a quem ela dedicou boa parte de seus esforços em vida.

Além do marido e dos filhos, Tia Nair também se dedicou à área social na capital. Ela realizou trabalhos de assistência junto à Legião Brasileira de Assistência, órgão do governo brasileiro, fundado na Era Vargas e extinto na década de 1990. Também atuou junto ao padre Pedro Cometti pela construção da Capela de Santa Rita de Cássia, no bairro Jardim das Américas.

A filha Alayde e a neta, Maritza Prado de Barros, destacam a vivacidade de Nair e o bom humor no tratamento com todos. Segundo Maritza, alguns ditados, muitos deles cômicos, eram utilizados por Nair e até hoje são relembrados pela família.

“Se algum político fazia uma ação acertada, ela dizia que havia ‘soltado um pum cheiroso’. Até hoje utilizo a expressão, lembrando dela”, conta a neta. Nair, aparentemente, também entendia a mudança de personalidade absorvida por muita gente quando ascende ao poder. “Quer conhecer o vilão, ponha-lhe o bastão na mão” era um de seus refrões preferidos.

Mulher culta de sua época, acompanhava a coluna do jornalista Zózimo Barrozo do Amaral, e indicava a leitura à neta como uma maneira de se manter a par dos acontecimentos políticos.

Ednilson Aguiar/O Livre

Parque Tia Nair

A neta, Maritza, relembra os ditados preferidos de Tia Nair

 

Bairrista, a cuiabana não aceitava que se falasse mal da cidade na qual nasceu e morreu. Tia Nair viu a cidade se transformar. Ela subia nas sacadas dos prédios e olhava a paisagem em plena modificação da cidade. “Nossa, nem parece Cuiabá”, dizia.

Assim como a capital mato-grossense se abria para a chegada de influências culturais, principalmente a partir da década de 1980, Nair também se deixou levar pela cultura dos grandes centros. Alguns de seus programas prediletos no fim da vida incluíam escutar a MPB de músicos como Djavan, ler grandes romancistas e assistir ao programa da jornalista e apresentadora Silvia Popovic.

Tia Nair faleceu em 1997, aos 85 anos de idade.

Parque Tia Nair
O parque foi criado em 2007 e possui 20 hectares, com pista de caminhada e ciclismo, lago, mirante, banheiros, lanchonetes, estrutura para tirolesa, entre outros equipamentos de recreação. Em seu novo formato, o Tia Nair foi inaugurado em 2015. A área foi reformada por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) feito com a Ginco Empreendimentos, que arcou com os custos como compensação por danos causados em empreendimentos imobiliários na cidade.

Ednilson Aguiar/O Livre

Parque Tia Nair

Visão do lago do Parque Tia Nair

 

Pouco antes de sua inauguração, houve polêmica, contudo. Na prefeitura, à época sob a gestão Mauro Mendes, chegou a levantar-se a possibilidade da troca de nome do espaço. O novo nome, Parque dos Bandeirantes, deveria homenagear os exploradores paulistas que desbravaram Cuiabá e boa parte de Mato Grosso. A família de Nair levantou-se contra a mudança e acabou mobilizando apoio na Câmara Municipal para barrar o projeto.

“A cuiabania não fica à mercê dos que entram. Nós defendemos as nossas tradições, os nossos costumes”, pontua a filha Alayde, que disse ainda que o Legislativo acabou sendo compreensivo com a questão.

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