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VÍDEO| Da pólio às competições: conheça um para-atleta do crossfit de MT

Sérgio é crossfiteiro raiz e vai abrilhantar o campeonato Regional da modalidade, que acontece no final de semana

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VÍDEO| Da pólio às competições: conheça um para-atleta do crossfit de MT

O auxiliar de escritório Sérgio Ciquini, 48 anos, é um crossfiteiro monstro, como a categoria apelida os atletas de alta performance, e vai abrilhantar o campeonato regional da modalidade, que será realizado nos dias 19 e 20 de novembro, em Cuiabá. Ele está na categoria de adaptados, por ser cadeirante, e é integrante da equipe Quarteto Fantástico.

Na vida dele, o esporte apareceu em um papo de vizinhos. Ele morava perto da academia e todo dia passava na frente e acenava para o professor e proprietário do Box, Claudionor Bulba. Até que um dia recebeu o convite de ter uma bolsa para praticar a atividade.

“Eu sempre tive vontade de fazer uma atividade que trabalhasse com peso. Devido a minha deficiência, tenho que fortalecer a musculatura dos braços. Antes, mesmo sem orientação, tinha pesos improvisados em casa. Eu fazia, mas nada comparado com isso aqui”, relata.

Com mais de um ano de treinos diários, o atleta é um exemplo de compromisso e pontualidade. É sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Quando está com o tempo limitado, opta por fazer os exercícios sozinho. Mas, outras vezes segue a turma.

E você deve estar se perguntando, como é possível?

O professor Claudionor Bulba explica que o crossfit é um esporte muito inclusivo. Segundo ele, às vezes, as pessoas têm preconceito e relacionam a atividade como exclusiva de musculosos que fazem movimentos complexos, como os que aparecem na televisão e nos vídeos em redes sociais.

Contudo, não é bem assim. O treinador e também atleta explica que os exercícios de condicionamento podem ser adaptados para toda e qualquer limitação ou condição física. No box onde ele trabalha, por exemplo, o perfil dos alunos não é majoritariamente de atletas profissionais. A maioria são pessoas adultas em busca de condicionamento físico. E, no rol, incluem idosos, lesionados em recuperação, gestantes e atletas com deficiência.

No caso de Sérgio, ele consegue fazer todos os movimentos relacionados com os membros superiores e no caso do cardio, feito com remo e bicicleta, Claudionor conseguiu, por meio de estudos e pesquisas, adequar o equipamento à realidade do atleta.

“Eu amo o esporte que pratico e acredito nele como ferramenta de inclusão. Um espaço para agregar pessoas e ver elas superando os limites é algo emocionante”, afirma.

As conquistas de Sérgio no esporte

A primeira conquista de Sérgio com a atividade foi conseguir se movimentar em casa com mais facilidade. Antes, ele já estava com dificuldades de sair do chão apenas com o auxílio das muletas e, agora, nem sequer se esforça.

Outra vitória, foi conseguir concluir uma corrida de 5 km. Ele na cadeira de rodas e o professor acompanhando a pé para dar suporte. Sérgio ri do episódio quando lembra que choveu e a roda da cadeira começou a escorregar na subida.

“Eu pensei que seria obrigado a desistir, mas o Claudio começou a me empurrar e eu fazendo força nos braços, conseguimos chegar ao fim”, recorda.

Depois, veio um desafio maior, a corrida de Reis. O percurso era mais longo e a dificuldade foi ampliada, mas o desafio é o que move o atleta, e ele chegou ao final.

Agora, ele entrará pela primeira vez em um campeonato de crossfit oficial com a certeza de que já é campeão.

A deficiência

Sérgio perdeu o movimento das pernas quando tinha 9 meses. Ele é uma das vítimas da poliomielite ou paralisia infantil.

“Eu não gosto nem de falar essas coisas perto da minha mãe porque ela fica muito mal. Mas, ela me levou para tomar a primeira dose e não a segunda. Conclusão: acabei doente”, desabafa.

Logo que foi confirmado o diagnóstico, o atleta conta que os pais estavam desenganados porque não havia movimento nenhum no corpo dele. Mas, como um milagre, ele foi melhorando e aos poucos foi se reestabelecendo.

Os poucos passos que deu na vida foi em duas ocasiões, quando usava uma bota sustentada por metais e, na adolescência, quando conseguiu arriscar alguns passos.

“Eu usava uma bota dura com suportes de ferros que grudavam em um cinto, preso ao quadril. Eu vivia machucado e os ferimentos doíam muito. Um dia, meu pai, cansado de ver aquilo, tirou de mim e jogou fora. Aí comecei a andar apenas com as muletas e a cadeira”, descreve.

Hoje, Sérgio diz que está cada vez mais complicado fazer percursos maiores com as muletas. Apenas pequenas movimentações. Com a idade, ele acredita que ficou mais pesado e logo ficará restrito apenas à cadeira.

“Serei cada vez mais dependente dos meus braços. Então não posso parar. Eu só largo se meu técnico desistir de mim”.

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