“A vitória tem centenas de pais. Mas o fracasso é órfão”. É uma das frases de John F. Kennedy em What happened, novo livro de Hillary Rodham Clinton, publicado no exterior há duas semanas (graças a Deus pelos e-books!).

Mas, ao contrário do que sugere um dos dizeres da obra, a candidata derrotada do partido Democrata nos EUA, aponta vários pais para explicar sua derrota. Desde James Comey, o ex-diretor do FBI que anunciou que abriria novamente o caso dos fatídicos e-mails, até a influência da Rússia no pleito. Aliás, o ataque do arqui-inimigo dos EUA é visto para ela como o “11 de setembro da política norte-americana” — parafraseando Michael Vickers, ex-chefe de inteligência. Sobra também para Bernie Sanders, seu rival no partido Democrata.

No entanto, Hillary tem a grandeza de se culpar. Afinal, como ela diz: “Eu era a candidata”.

Nas páginas, você encontra uma mulher que não tem medo de demonstrar suas fraquezas e dúvidas. Algo incomum para alguém que vive há quase 30 anos na vida pública.

Mas é possível entender seu caminho, suas escolhas e sua famosa ambição. Hillary poderia ter se contentado em ser apenas esposa, mas nunca ficou satisfeita com o papel de coadjuvante. Ela queria ser protagonista. E por pouco não conseguiu o papel principal.

O livro é uma longa conversa íntima com Hillary, na qual ela explica, por exemplo, o quanto sua fé a moldou. Seus pais eram Metodistas e foi nessa religião que adquiriu o seu lema de vida: “Faça o máximo que puder, para o maior número de pessoas que der”. Também sai do pedestal: fala do dia-a-dia da campanha, do relacionamento com o marido Bill, a filha Chelsea, o genro Marc e seus netos. No fundo, é como nós: se preocupa com a aparência, o peso, o cabelo, e o equilíbrio entre trabalho e família.

Fala muito da mãe, que teve uma vida duríssima e a inspirou a lutar pelos outros.

O leitor também conhecerá os pensamentos que a sustentam e nos quais acredita. Aliás, é aqui que você entenderá o quanto ela fez História. Hillary não é apenas parte do movimento feminista. É o movimento feminista. Sem extremos nem exageros. Alguém que, muito melhor do que simplesmente falar, faz. Como advogada, primeira-dama, senadora, secretária de Estado e candidata a presidente. Para mim, sua grande frase foi pronunciada na ONU, em 2005: “Os direitos humanos são direitos das mulheres e os direitos das mulheres são direitos humanos”.

Hillary não é movida por paixões, mas por convicções. Isso talvez seja o que lhe renda tanta rejeição. Ela não diz apenas coisas para empolgar ou enfeitiçar a plateia. Ela é pragmática, totalmente focada na solução prática de problemas e não na divulgação de ideias empolgantes e inviáveis.

Durante a leitura, garanto que você só terá uma pergunta: como uma mulher tão preparada e experiente não ganhou do incendiário e instável Donald Trump?

Das possíveis causas para a derrota, só uma permanece incógnita: a de que Hillary não ganhou a eleição simplesmente por ser uma mulher.

 

Assinatura Debora Nunes

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