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Silval diz ter pago R$ 1 milhão em propina a lobista

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Silval diz ter pago R$ 1 milhão em propina a lobista

Marcos Lopes / ALMT

Rowles Magalhães

O ex-governador Silval Barbosa (PMDB) afirmou à Justiça que pagou R$ 1 milhão ao lobista e ex-assessor especial do governo Rowles Magalhães Pereira da Silva para que ele “parasse de importunar”. Rowles vinha cobrando o governo por um “pré-projeto” do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e fazendo denúncias à imprensa.

Procurado pelo LIVRE, o lobista negou as acusações do ex-governador. “Não entendo. Não ganhei a licitação, não sou construtor, não era secretário. Por que alguém me pagaria? Agora, se alguém recebeu qualquer coisa eu não sei”, declarou, afirmando que nunca recebeu nada.

De acordo com Silval, o pagamento foi executado a mando dele por Maurício Guimarães, então titular da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa). O dinheiro tinha como fonte as propinas recebidas pela pasta sobre as obras relacionadas ao evento, disse o ex-governador.

As informações constam na decisão do juiz federal Paulo Cézar Alves Sodré, que embasou o cumprimento dos mandados de busca e apreensão e condução coercitiva da Operação Descarrilho, deflagrada nesta quarta-feira (9) e que investiga fraudes de licitação e corrupção envolvendo a escolha do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) como modal de transporte em Cuiabá.

VEJA A ÍNTEGRA DA AÇÃO

“Não ganhei a licitação, não sou construtor, não era secretário. Por que alguém me pagaria?”

Segundo Silval, o valor de R$ 1 milhão foi pago a Rowles por intermédio do empresário Ricardo Padilla de Bourbon Neves, alvo de um dos mandados de busca e apreensão nesta quarta.

Na decisão, o juiz pontua que “apura-se a responsabilidade de Silval Barbosa, Maurício de Souza Guimarães, Rowles Magalhães e Ricardo Padilla de Bourbon Neves relacionados aos crimes de corrupção passiva, bem assim de lavagem de dinheiro”.

Segundo o MPF, Ricardo é sócio da Borbon Fomento Mercantil e Aval Securitizadoras de Crédito.

Lobby 

O ex-governador narrou que Rowles “doou” ao governo um pré-projeto de implantação do VLT, avaliado em R$ 14 milhões, elaborado por uma empresa de Portugal, denominada Ferconsult, que o entregou ao grupo Infinity – que tinha o lobista como representante.

A empresa portuguesa chegou a ser visitada por Silval em 2011, durante uma ida ao país para conhecer o VLT instalado na cidade do Porto, como mostra a foto abaixo:

Rui Farinha/Metrô do Porto

Teste VLT Porto

Na ocasião, Maurício Guimarães, Rowles e Ricardo fizeram parte da comitiva, formada ainda pelos deputados estaduais à época José Riva e Sérgio Ricardo, além do atual primeiro-secretário da Mesa Diretora, Guilherme Maluf (PSDB), e Eder de Moraes Dias, presidente da Agecopa no período.

Silval narrou que Rowles “doou” ao governo um pré-projeto de implantação do VLT, avaliado em R$ 14 milhões

De acordo com Silval, havia pouco tempo para realizar a licitação do pré-projeto e, por essa razão, ele aceitou o estudo da Ferconsult.

A empresa, porém, não pôde participar da concorrência que culminou na escolha do Consórcio-VLT para realizar as obras do modal porque era autora do pré-projeto e passou a cobrar o Estado pelo estudo, relatou o ex-governador à Justiça.

“A ‘doação’ do pré-projeto avaliado em cerca de R$ 14 milhões revelava o interesse de Rowles e da Ferconsult em ganhar dinheiro com a mudança de modal com a proposta da realização de uma parceria público-privada, o que acabou não acontecendo”, consta na decisão judicial da Operação Descarrilho.

Cobranças e denúncias

Após esse episódio, Silval declarou que Rowles ainda tentaria obter vantagem da obra do VLT. De um lado, realizando tratativas com a empresa Soares da Costa (também de Portugal e que particiou da licitação, mas não venceu). De outro, acertando o recebimento de propina no montante de R$ 5 milhões com Eder de Moraes Dias, antecessor de Maurício Guimarães na Secopa.

O ex-governador disse que, após a exoneração de Eder, Maurício passou a ser cobrado pelo lobista. Silval observou que as cobranças “ocorreram aproximadamente no período em que Rowles começou a fazer denúncias à imprensa sobre fraudes na licitação no VLT e pagamento de propina”.

“Há uma forte plausibilidade, notadamente a partir do depoimento de Silval Barbosa de que Rowles Magalhães frustrado com o suposto fracasso no certame licitatório do consórcio que tinha o seu apoio (Construtora Soares da Costa), a fim de ver se ressarcido do investimento até então efetuado, tenha pressionado o então Governador Silval Barbosa, através do também então Secretário Maurício de Souza Guimarães, para receber uma determinada quantia, quantia essa que inicialmente seria de R$ 5.000.000,00 e ao depois teria ficado em torno de R$ 1.000.000,00”, diz trecho da ação.

Reportagens denunciaram fraude

Em entrevista ao LIVRE, Rowles afirmou ainda que não acredita que o empresário Ricardo Padilla de Bourbon Neves tenha intermediado o pagamento de propina, conforme relatou Silval.

Em 2012, uma série de reportagens do jornalista Vinicius Segalla, publicadas originalmente no portal UOL, revelou a suspeita de existência de fraude e de pagamento de propina nas negociações do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Fonte das informações, o lobista negou o conteúdo das reportagens e afirmou ter sido vítima de extorsão por parte do jornalista pela divulgação das denúncias.

Rowles havia sido nomeado assessor especial do ex-vice governador Chico Daltro em abril de 2012. Em agosto do mesmo ano, após as denúncias virem à tona, foi exonerado.

Em 2014, o lobista foi candidato a deputado federal pelo PSD, mas não foi eleito.

Reprodução

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