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Silval confessa que recebeu R$ 7,2 milhões em propina da Consignum

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Silval confessa que recebeu R$ 7,2 milhões em propina da Consignum

Ednilson Aguiar/o Livre

Silval Barbosa

 

O ex-governador Silval da Cunha Barbosa (PMDB) prestou depoimento por cerca de duas horas à juíza Selma Arruda, da 7ª Vara Criminal, no Fórum de Cuiabá. Ele confessou que recebeu propina de cerca de R$ 7 milhões do empresário Willians Mischur, dono da Consignum, empresa que gerenciava os empréstimos consignados dos servidores públicos. Segundo ele, Riva o pressionou e quis se aproveitar do esquema. 

Foi o primeiro depoimento de Silval depois que ele deixou a prisão no dia 13 de junho e decidir confessar seus crimes – ele admitiu ter montado parte de sua equipe de governo visando desviar recursos para o pagamento de dívidas de campanha. Como garantia de que pretende devolver o dinheiro desviado, Silval entregou R$ 46 milhões em bens e imóveis, incluindo duas fazendas em Peixoto de Azevedo, um imóvel em Cuiabá e um avião.

Silval prestou reinterrogatório sobre a segunda fase da Operação Sodoma, que investiga pagamento de propina ao grupo liderado por Silval e também lavagem de dinheiro, em três crimes. O empresário Wiliam Mischur, da Consignum, teria pago valores indevidos para manter um contrato de administração dos empréstimos consignados dos servidores do Estado. Júlio Minori, empresário da Webtech, teria pago propina para manutenção de um contrato de serviços de organização do acervo documental dos benefícios de aposentadorias e pensões, ativos e cessados do Estado. E ainda é investigada a compra de um terreno na avenida Beira Rio, em Cuiabá, com valores de propina.

Veja como foi o depoimento:

13h10: Visivelmente menos abatido do que quando deixou a prisão, Silval Barbosa chega para prestar depoimento 

13h20: Chegam à 7ª Vara o coronel José de Jesus Nunes Cordeiro, que foi secretário-adjunto de Administração e é considerado por delatores o “braço armado” do grupo, e o ex-chefe de gabinete de Silval Sílvio Corrêa

13h23: Também chega para acompanhar o depoimento o ex-prefeito de Várzea Grande Wallace Guimarães

13h40: A juíza Selma Arruda determinou que primeiro entram na sala de audiência os réus e os advogados. A imprensa aguarda no corredor do fórum. 

14h14: A audiência deve começar em instantes. A juíza Selma Arruda acaba de chegar para ouvir o ex-governador Silval Barbosa.

14h20: O ex-governador inicia seu depoimento afirmando que pretende falar tudo o que sabe sobre o caso investigado, tanto quanto de fatos dos quais participou, quanto do envolvimento de outras pessoas. “Depois de cinco prisões e depois de todo esse tempo, eu venho aqui me retratar sobre todas essas denúncias e inquéritos. Agradeço até a banca [de defesa] anterior que me acompanhava: o doutor Valber e demais, que não concordaram com minha posição, mas agradeço a eles”.

14h26: “Em todas as campanhas majoritárias tem o chamado caixa dois. O que é declarado é um terço do que é gasto nessas campanhas”, diz Silval.

14h28: Silval afirma que convidou César Zílio – ex-secretário de Administração – para compor seu governo para que ele ajudasse a encontrar meios de pagar dívidas de campanha. A escolha ocorreu porque Zílio já havia sido contador da campanha do hoje ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP).

14h30: Silval afirma que o empresário Willians Mischur, da Consignum, que atua no mercado de empréstimos consignados para servidores públicos, foi um dos primeiros a participar do esquema de propina para pagar as dívidas de campanha. O acordo com ele era de pagamentos de R$ 400 mil a R$ 450 mil. “Isso que falaram para a senhora, que chegaria a R$ 700 mil, não é do meu conhecimento. César Zílio me trazia de R$ 200 mil a R$ 250 mil mensais”, explica.

14h33: O ex-governador continua, afimando que os pagamentos só deixaram de acontecer em 2013. Na época, o advogado Francisco Faiad assumiu a Secretaria de Administração, completa, mas Zílio continuava com o esquema “até que deu problema em uma licitação e ele deixou de passar esses valores”, conta.

14h36: Silval reconhece que, em determinado momento, o governo perdeu o controle sobre os gastos da secretaria por conta do esquema voltado ao pagamento das dívidas de campanha. Por conta disso, nomeou Pedro Elias para o cargo de secretário de Administração.

“Eu chamei o Pedro Elias para ele ter o controle dos pagamentos normais da secretaria. O que ocorria era que você passava o orçamento para as secretarias, mas não tinha o controle do que era pago, de gastos básicos. Aí se estabeleceu que só depois que pagassem essas despesas eram liberados outros recursos”.

14h40: Silval explica que Pedro Elias foi chamado para substituir Francisco Faiad que, em dezembro de 2013, precisou deixar o cargo para disputar a vice-prefeitura de Cuiabá na chapa de Lúdio Cabral. Uma vez no cargo, Pedro Elias recebeu dinheiro de Mischur somente uma vez, segundo o ex-governador. “Ele pagou R$ 600 mil ao Pedro Elias que ficou com R$ 100 mil”. Já Zílio, ainda de acordo com Silval, teria ficado com R$ 500 mil.

14h43: “Nenhum [secretário] era pressionado a fazer nada. Eles iam com o maior prazer, especialmente quando levavam alguma vantagem. Os empresários também. Eles sempre vão quando levam alguma vantagem. Quase todos os empresários só fazem quando estão levando vantagem ou está sendo aditivado um contrato”, afirma Silval.

14h50: Silval afirma que, no final de 2013, o ex-deputado estadual José Riva (sem partido) o procurou para indicar uma nova empresa de empréstimos consignados que poderia repassar R$ 1 milhão em propina. “Ele vinha com a força de presidente da Assembleia e cobrava duro”, conta.

14h55: A empresa apresentada por Riva, de acordo com Silval, era a Zetra, que acabou vencendo a licitação na qual concorreu com a Consignum. Esta, no entanto, entrou na Justiça para questionar o resultado. “Aí, então, o Willians [Mischur] me procurava incessantemente para falar sobre esse contrato, para que eu renovasse e eu não atendia”, diz.

15h00: Silval conta que Mischur chegou a procurá-lo na casa de seu irmão, em um feriado. Na oportunidade, o empresário pediu novamente para que seu contrato fosse renovado. “Eu disse que não queria briga com a Assembleia. Não queria ter problema com o deputado Riva”, diz.

15h02: Silval afirma que, na mesma oportunidade, Mischur lhe afirmou que já havia conversado com o advogado Paulo Taques, então coordenador jurídico da campanha do atual governador Pedro Taques (PSDB), sobre a continuidade do contrato, caso eles vencessem as eleições de 2014.

“Willians falou: ‘eu já tenho conversado dentro da campanha com o doutor Paulo Taques que, se esse grupo ganhar, eu continuo com o contrato'”, diz Silval.

15h06: Silval conta que orientou Mischur a tratar do assunto diretamente com Riva. “Eles conversaram, deu certo. Discutiram muito e chegaram a R$ 2,5 milhões”. diz.

15h08: Ainda de acordo com o ex-governador, Riva tinha interesse na escolha da empresa porque disputaria o cargo de governador nas eleições de 2014. “Ele ia enfrentar o processo majoritário para governador e disse que precisava desse contrato”.

15h12: O ex-governador afirma que não tinha total controle sobre a participação de seus secretários no esquema. Pontua que, no caso da renovação do contrato da Consignum, não autorizou que Pedro Elias recebesse algum valor, mas que ficou sabendo depois que ele teria ficado com R$ 300 mil.

Completou afirmando que também não tinha conhecimento se Zílio dividiria o valor com mais alguém. Também que não havia um valor fixo de repasses aos secretários, que os pagamentos a eles eram pontuais e que nem todos recebiam.

15h17: Ainda de acordo com Silval, “nesses negócios, nem Rodrigo Barbosa, nem Marcel de Cursi, nem Pedro Nadaf tiveram participação”.

15h20: O ex-governador conta que o envolvimento do ex-prefeito de Várzea Grande Walace Guimarães (PMDB) no esquema ocorreu porque o grupo político tinha interesse em vencer as eleições de 2012 no município. Ele diz, no entanto, que foi Walace quem o procurou em busca de ajuda financeira.

15h23: De acordo com Silval, Walace passou para Zílio o contato de gráficas que produziriam materiais para o governo e para a campanha eleitoral. O valor do contrato com as gráficas seria de R$ 5 milhões, sendo que R$ 1 milhão seria repassado para o projeto de Walace.

“Eu autorizei e foi feito, mas não tive contato com nenhum proprietário dessas gráficas. César fala que passou R$ 1 milhão, mas eu não lembro de ter pegado esse dinheiro. Mas ele diz que pagou dívidas e etc, então, pode ser”, diz Silval.

15h27: Sobre o contrato do governo com a WebTech, empresa de software, Silval afirma que nunca teve contato. De acordo com o ex-governador, o empresário Júlio Minori, trataria diretamente com o ex-secretário César Zílio. “Fiquei sabendo que o César Zílio combinou com ele e vinha cobrando propina durante dois anos”, conta.

15h32: Sobre a participação de seu filho, Rodrigo Barbosa, no esquema, Silval diz que só ficou sabendo depois que seu governo já havia se encerrado. Ele pontuou, contudo, que Rodrigo apenas recebeu valores repassados por Pedro Elias, mas que nunca foi uma pessoa de influência nas relações entre o Paiaguás e os empresários envolvidos.

“Bem depois que deixei o governo eu tomei conhecimento que o Pedro Elias passava parte desse dinheiro para o meu filho. O Rodrigo me afirma que não conversou com ninguém, a não ser o Pedro Elias. Me fala que recebeu em torno de R$ 400 mil ao longo de 2014. Falam que ele era alguém dentro do governo, que tinha contato com os empresários, mas isso não é verdade”.

15h39: Sobre o terreno da Avenida Beira Rio, centro do processo em questão, o ex-governador afirma que só tomou conhecimento depois que a operação Sodoma foi deflagrada. “Não tinha conhecimento da aquisição, da possibilidade de implantar um shopping. Fiquei sabendo depois”, diz.

15h42: Silval diz que usou o dinheiro da propina da Consignum para quitar dívidas de campanha, mas não quis especificar quais gastos. “Eu paguei diversos gastos de campanha, de gráfica e esse tipo de coisa”.

15h45: Ao ser questionado diretamente pela juíza Selma Arruda se havia uma organização criminosa instalada no governo do Estado, o ex-governador afirma que “liderava um processo para resolver os problemas que eu tinha”.

Silval sustenta ainda que comandou o esquema de pagamento de propina no caso da Consignum, mas que em outras acusações, os líderes foram outras pessoas. “No governo, eles fazem uma, fazem duas, numa terceira, eles fazem por conta própria. O chefe abre a guarda, eles fazem sozinhos”, diz.

15h47: “Não tem ninguém aí que é vítima, como o César Zílio quis falar. Eles participaram porque queriam”.

15h49: Silval diz que Zílio foi “maldoso” ao afirmar que a mala de dinheiro onde a propina era transportada ficava no banheiro. Segundo o ex-governador, o recurso era recebido por ele em espécie, em sua casa ou em seu gabinete, no Palácio Paiaguás, em uma sala específica.

15h52: Silval afirma que seu então chefe de gabinete, Silvio Corrêa, passou a representá-lo no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Condes) porque estava “esvaziado” no gabiente. O ex-governador sustenta, todavia, que quem tomava as decisões era ele e que Sílvio somente assinava documentos.

“Quem administra o Condes, normalmente, é o governador, mas confesso para senhora que eu não participava. Nesse caso quem ia era o chefe da Casa Civil. O Sílvio era piloto particular meu. Na eleição de 2002, veio para Cuiabá e começou a trabalhar no gabinete. Disse que queria participar do Condes, pois estava esvaziado no gabinete. Ele trazia um processo para mim e eu falava se continuava ou não. Ele só dava uma assinatura e despachava”, conta.

15h59: “Se ele fala para mim, eu não permitiria”, diz Silval sobre a participação de Rodrigo Barbosa no recebimento de propinas.

16h00: Silval volta a afirmar que não comandava diversos esquemas. No caso do terreno na Avenia Beira Rio, ele diz que Zílio nunca lhe contou quais eram os planos para o local.

“O César nunca me falou da construção de casas, do terreno da Beira Rio, da relação com o José Costa Marques, dos contratos fictícios, nem da negociação de gado entre ele e o Pedro. Não era a gente sentar em uma sala e decidir que íamos agir assim e assim. Em cada caso era de um jeito. Não tinha uma combinação do modus operandi“, sustenta.

16h05: O ex-governador revela ainda que ele e Zílio tomavam cuidado para que o esquema não fosse descoberto. Mesmo assim, de acordo com ele, o ex-deputado estadual José Riva descobriu o pagamento da propina e “viu a oportunidade e veio negociar”.

Ainda segundo Silval, Riva seria beneficiado com R$ 2,5 milhões num período de seis meses, ou seja, até que o governo fosse concluído.

16h14: Silval confessa que recebeu propina de Willian Mischur, dono da empresa Consignum, que gerenciava os empréstimos consignados dos servidores do Estado. Foram 30 parcelas de R$ 240 mil.

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