A pandemia de coronavírus tem provocado a discussão em torno da necessidade de prevenção. Neste quesito, algumas práticas terapêuticas se propõem à auxiliar na saúde preventiva, unindo conceitos de alimentação saudável, uso de chás, ervas medicinais e práticas que potencializam efeitos imunológicos do organismo.
A terapeuta Cristiane Alves, há cinco anos, trabalha com a terapia do chá. Por semana, ela atende em média 115 pessoas que a procuram para realizar tratamentos com ervas medicinais e terapias integrativas.
Cristiane enfatiza que o chá, diferentemente dos medicamentos industrializados, precisam de um tempo para fazer efeito: são pelo menos 40 dias de desintoxicação e mais 90 dias para que o tratamento apresente resultado.
“Um processo inflamatório, pode ser resolvido com o chá? Sim, mas o infeccioso não. Nem tudo se resolve com chá. Mas este método é bom para um processo de desintoxicação, drenagem de gordura, combater a ansiedade, alinhamento emocional, perda de peso e redução de glicose”, enfatiza.
Mas Cristiane é categórica ao afirmar que somente o chá, sem outras terapias, possui eficácia limitada.
“É importante alinhar os chás com reeducação alimentar e conversação. Muitas pessoas compram um chá e dizem que não resolveu. Não é que o chá não resolve, é que muitas vezes o organismo não está receptivo”.
Imunidade psicológica
O fator emocional é relevante quando o tema é saúde preventiva. “O corpo alcança o que a mente acredita”, defende a terapeuta.
A cozinheira Dária Maria Silva Saturnino, 48, que o diga. Portadora de uma doença autoimune, a psoríase, Dária também sofria de obesidade. Por conta disso, sua vida era bastante limitada.
Como as mãos e pés ficavam comprometidos por conta das lesões provocadas pela psoríase, não conseguia trabalhar. Já o peso elevado comprometia sua autoestima e, com isso, sequer gostava de sair de casa ou posar para fotos.
“Eu busquei o tratamento natural porque minha mão era toda ferida. Eu já tinha feito oito anos de tratamento com remédios e não tinha resultado. Com a terapia, minha mão ficou sem as feridas depois de três meses”.
Na terapia do chá, o processo inflamatório de Dária reduziu bastante. Ela também aprendeu a se alimentar corretamente e agora, 26 kg mais magra, não hesita em tirar selfies e postar nas redes sociais.
Uma nova mentalidade, alinhada a uma saúde mais equilibrada, impulsionou Dária a voltar ao mercado de trabalho. Há um ano, ela trabalha em um restaurante – onde, inclusive, auxiliou o proprietário a desenvolver um cardápio mais nutritivo e saudável por conta da experiência que obteve ao se reeducar na alimentação.
“Minha ideia do que é ser saudável mudou completamente. Hoje, procuro me alimentar com produtos naturais. Desde que comecei a terapia do chá, parei de tomar refrigerante e não foi difícil, comecei a substituir por frutas”.
Jardim medicinal
A fitoterapeuta Isanete Geraldini Costa Bieski, que é doutora em Ciências da Saúde e atua com fitoterapia há 16 anos, desenvolve diversas pesquisas sobre o poder medicinal das plantas.
Isanete também ministra cursos livres que auxiliam no conhecimento das ervas e suas propriedades curativas.
“Este trabalho é muito complicado, porque requer o cuidado com a identificação. Geralmente, as pessoas gostam muito de usar plantas, mas desconhecem os problemas que podem ocorrer com o uso incorreto delas. Então, o primeiro passo é a identificação”.
Recentemente, Isanete criou um curso – que custa apenas R$ 30 e tem duração de um mês – e disponibiliza aulas e materiais como vídeo e informativos que ajudam o aprendiz a como utilizar as ervas da melhor forma possível.
O curso, que é feito por WhatsApp, tem uma tarefa especial: a construção de um jardim medicinal.
Veja as dicas como implantar seu jardim medicinal:
“Recebe este nome, porque o jardim fica na frente da casa, enquanto que horta, fica geralmente aos fundos. É importante essa relação com as plantas medicinais. O próprio cuidado do cultivo já é um contato com a natureza e que faz muito bem à saúde. Outra vantagem é poder ter as plantas para usá-las quando precisar ou quando quiser”, destaca.
Prevenção
No quesito fortalecimento imunológico, Isanete ressalta que a maioria das plantas, quando utilizadas na forma de chá, auxiliam neste processo, porque uma das principais funções dos chás é eliminar as toxinas do organismo.
“Existem plantas que são melhores de manhã. Ao acordar, o ideal são os chás que vão te estimular. Após o almoço, é melhor os chás que vão melhorar a digestão e acelerar o metabolismo, e que ajudem a eliminar as toxinas. À noite, o ideal são os chás mais relaxantes, para que se possa desacelerar e ter um sono melhor”.
Isanete reforça que o uso de plantas medicinais são “excelentes” no fortalecimento da imunidade, como o alho, o alecrim, o chá verde, o gengibre, o limão e o hortelã.
O alho, por exemplo, pode ser utilizado pela manhã em jejum, cru.
“Basta cortá-lo em quatro pedaços e engolir com água. Cinco vezes por mês é suficiente para aumentar a imunidade”.
O alecrim e a hortelã podem ser utilizados como chá. E o alecrim, além de fortalecer a imunidade auxilia na produção de neurônios. O gengibre, assim como o limão, podem ser tomados com água, ela explica.
O cuidado integrativo
O historiador Luiz Gustavo de Souza Lima Júnior é doutor em Estudos do Contemporâneo e sua tese, defendida em 2018, na UFMT, trata sobre “a produção de saberes”. Ele pesquisou as práticas integrativas e complementares – que por muito tempo ficaram conhecidas como “medicina alternativa”, mas cujo termo caiu em desuso, pois, as diversas terapias existentes se demonstram como caminhos de prevenção e complementariedade, não como alternativa.
“Tudo se complementa. Se as práticas integrativas não conseguem prevenir, também podem atuar como complementar. É a comunhão de saberes em busca da cura. Olhando para as condições de saúde do indivíduo”, defende o pesquisador.
Atualmente, o SUS disponibiliza 29 PICS em mais de 3,7 mil municípios brasileiros e em todas as Capitais, inclusive em Cuiabá. Entre as práticas estão a apiterapia, aromaterapia, constelação familiar, homeopatia, yoga, entre outras.
“O cuidado precede o medicamento. Crescemos com uma falsa ideia de saúde, de que esta seria apenas a ausência da doença. Devemos olhar para o organismo como um todo. Olhar mais amplo e a saúde não é acessar o medicamento, pelo contrário, isso se dá quando o corpo já está doente. A ideia é trabalhar o corpo saudável, o corpo que dança, que constrói, que escreve e poetiza a vida, que tenta usar o mínimo de equipamentos e medicamentos invasivos”, pontua.