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Rua fechada por moradores teve apenas um assalto em 30 anos

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Rua fechada por moradores teve apenas um assalto em 30 anos

Ednilson Aguiar/Olivre

Rua Otawa,Jardim das Américas

Portão na entrada da rua Otawa, uma das que o Ministério Público Estadual pediu a desobstrução

Você imagina uma rua em Cuiabá que em 30 anos tenha acontecido apenas um assalto a residência? Essa é a realidade da Rua Montreal, uma das cinco vias do Bairro Jardim das Américas que o Ministério Público Estadual está pedindo para desobstruir.

A discussão sobre as ruas em Cuiabá fechadas com muros e portões, que se tornaram uma espécie de condomínio particular, já se arrasta há muito tempo. Porém, nessa terça-feira (7) o MPE ingressou com uma ação civil pública pedindo que a Justiça determine a desobstrução de cinco ruas no Bairro Jardim das Américas.

O LIVRE foi a duas dessas ruas, Montreal (com portão há 30 anos) e Otawa (com portão há 17 anos), e conversou com os moradores.

Na Otawa, segundo o servidor público aposentado Manoel Lino da Silva, 67 anos, o primeiro morador da rua, não teve nenhum assalto desde que a via foi fechada, em 2000.

Ednilson Aguiar/Olivre

Jardim das Américas

O morador Manoel Lino da Silva, disse temer como será após a desobstrução

Ele relatou ao LIVRE que à época aconteciam muitos assaltos, então os moradores se reuniram e, a princípio colocaram uma cerca ao lado da rua. Depois eles levantaram um muro e colocaram um portão na entrada do lugar, que se tornou um “condomínio fechado”.

Nessa rua específica, cada morador paga uma taxa mensal de R$ 400 para auxiliar com os gastos, visto que durante o dia todo tem um vigilante na guarita do local.

Manoel já havia sido assaltado três vezes antes da solução dada pelos moradores e hoje conta que se sente seguro com a guarita, inclusive ele retirou a cerca elétrica de sua casa, por não ter mais necessidade de mantê-la.

Sobre o pedido do Ministério Público Estadual para retirada dos muros e portões, o servidor público aposentado afirmou temer como será daqui para frente.

“Achei errado demais. Tinha muitos assaltos, muitos usuários de drogas passam próximos daqui, ficará complicada a situação para todos nós”, disse.

O MPE afirmou que os muros e portões restringem o acesso às demais pessoas, mas na rua Otawa, segundo Manoel, não é o caso, visto que o portão fica aberto durante o dia e só é fechado à noite, com o guarda a postos para garantir a entrada de terceiros, caso seja necessária.

Já na Rua Montreal, apesar da existência do portão, ele nunca é fechado. A princípio, os moradores colocaram três guardas, que ficam na frente da rua 24 horas por dia. Mas, como o custo era alto, eles optaram por deixar o portão aberto durante o dia todo, inclusive à noite. Hoje os moradores não têm custo nenhum com a rua.

Google Maps

mapa Jardim das Americas

Mapa que apresenta as cinco ruas citadas pelo MPE: Mar Del Plata, Kingston, Washington, Montreal e Otawa

O portão, segundo a advogada aposentada Vera Lúcia Kaminskas, 68 anos, é mais uma figura, mas ainda assim funciona.

“Aqui na rua teve um assalto só, em 30 anos. Isso porque pularam o muro lá do fundo”, contou.

Ela relatou que, no passado, os moradores da Rua Montreal sofriam com muitos assaltos e não tinham tranquilidade para dormir, pois, por medo, acabavam ficando vigiando eles mesmos.

“Estava todo mundo desesperado com os assaltos. Passavam aqui na rua e jogavam pedras, quebravam os vidros das casas. Aí começamos a conversar para colocar o portão. Aí três aderiram e fomos conversar com o restante e todos aderiram”, lembrou a aposentada, sobre a decisão de colocar o portão.

Vera Lúcia afirmou que o fechamento não prejudicou ninguém, visto que já era uma rua sem saída antes de optarem por colocar o portão.

“Quem entra nessa rua, ou vem fazer entrega para nós mesmos, ou são os moradores. Então, não prejudica ninguém que passaria aqui para ir em algum lugar, porque não existe saída”, disse.

Ednilson Aguiar/Olivre

Rua montreal,Jardim das Américas

Entrada da Rua Montreal: moradora Vera Lúcia disse que portão fica aberto 24 horas por dia

A aposentada classificou o pedido do promotor de Justiça Gerson Barbosa como injusto. “Porque nós pedimos segurança e não foi dada para nós. Ai que nós resolvemos fazer isso”, relatou.

“Eu gostaria de dizer para o promotor Dr. Gerson, que ele providencie a segurança. Já que ele está pedindo para retirar o portão, que não prejudica ninguém, então que ele providencie a segurança para nós”, cobrou Vera Lúcia.

O LIVRE foi às cinco ruas citadas pelo Ministério Público Estadual: Mar Del Plata, Kingston, Washington, Montreal e Otawa, durante a tarde desta terça-feira (7) e durante a manhã desta quarta (8) e encontrou os portões abertos – veja galeria. 

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