Quem está em idade escolar vai aprender menos neste ano, por conta da pandemia do novo coronavírus. Entidades ligadas ao desenvolvimento da educação em Mato Grosso já chegaram a essa constatação.
As dificuldades vão das primeiras séries do ensino fundamental aos candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mas aquela tradicional aula de reforço, com um professor particular, pode reverter esse quadro. O problema é que são poucos os que têm condições de pagar.
Entre os que podem, a preferência ainda é pelo contato direto entre professores e aluno, mas as rede sociais abriram caminho para um atendimento estendido.
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“Nós ministramos aulas presenciais uma vez por semana para alunos que podem participar de aulas de uma disciplina ou de várias, dependendo da contratação que ele faça. Mas, além dessas aulas, nós damos assistência via WhatsApp para que os alunos tirem dúvidas. Tudo voltado para as necessidades do aluno”, diz a professora Susana Luz.
Contudo, o preço das aulas pode ser empecilho para a maioria dos estudantes. Uma aula de reforço tem custo mínimo de R$ 100 em Cuiabá. E pode sair ainda mais caro, conforme o nível do conteúdo e urgência do aluno.
Serviço online
Susana Luz é responsável por um projeto que tem cerca de 600 estudantes que procuraram, em Cuiabá, aulas extras para absorver o conteúdo dado em “sala de aula”. O foco do programa são redação, matemática e física, matérias que os alunos apresentam mais dificuldades.
Ela tem auxílio de outras professoras, que escolhem também a quantidade de alunos que vão atender e os horários que vão ministrar as aulas. Os encontros semanais – também pela internet, a exemplo do que escolas têm feito – duram até três horas e se concentram num tópico em comum entre os estudantes.
“Isso é importante. A aula não se concentra apenas na aplicação de conteúdo. Temos 40, 50 minutos antes da aula em si para tirarmos dúvidas, comentarmos as atividades que passamos e para ouvi-los. Depois disso, temos 2h15 de aula dada com profundidade em cada tópico do programa”, ela explica.
Ensino fundamental precário
Professor de Matemática, Joilson Alves de Paula divide seu tempo com aulas na sala de aula e de reforço particulares. Ele não faz parte de uma rede, mas também vê as mídias sociais como complemento para intensificar o ensino.
Para ele, a política de não reprovar os alunos no ensino fundamental tem escondido as deficiências na formação estudantil. Eles carregam anos de deficiência em assuntos que deveriam estar dominado.
“A dificuldade dos alunos com a regra dos sinais e a álgebra é muito grande. Eles chegam ao primeiro ano do ensino médio sem saber coisas que deveriam ter aprendido no quinto ano do ensino fundamental”, ele critica.
Ao modo do aluno
As aulas de reforço estão disponíveis em disciplinas e têm duração de até seis meses. Conforme a professora Susana Luz, os tópicos de Exata são os mais procurados, principalmente por alunos de olho na prova do Enem.
Eles buscam instrução específica e aprofundada para auxiliá-los a dominar os assuntos em Matemática e Física. A construção de texto também é um ponto com habilidade pouco desenvolvida.
“Às vezes, não é só porque, na escola, ele não tem um aproveitamento satisfatório, porque – querendo ou não – a atenção do professor é compartilhada com outros alunos. Pode ser que haja falta de concentração, déficit de atenção. A aula voltada para assuntos programáticos e com mais atenção ao aluno pode ajudar a resolver esses problemas”.
A número de aulas também é definido de acordo com a necessidade do aluno. O diagnóstico é feito pelo professor, numa espécie de avaliação geral, que apontará as deficiências e como elas poderão ser solucionadas no tempo que o aluno tem disponível.
“No início, aluno pode ter aula semanal de 1h30, se houver tempo para mais aulas. Mas, se for específico para o vestibular, geralmente, os meses para aulas é menor, então, o tempo médio dela é de 2h30”, explica o professor Joilson.
Fosso financeiro e da aprendizagem
O professor Frankes Márcio Batista Siqueira avalia que a pandemia deve aumentar a distância entre o nível de aprendizagem de alunos das redes pública e da rede privada. Tanto o atraso no calendário de aulas, quanto o acesso à internet, são apontados como fatores de mais peso para o distanciamento.
“O acesso hoje é aprendizagem. O aluno está tendo material na internet, tirando dúvidas. E, desde o começo, as escolas particulares mantiveram a aplicação de conteúdo. As escolas da rede estadual, só agora, vão começar as atividades”, ele lembra.
Para o professor Henrique Nascimento, o problema será sentido por um longo tempo, visto que a pandemia também gerou a perda de renda para a boa parte das famílias brasileiras, cujos filhos estão matriculados na rede pública.
“Hoje, os pais estão focados na alimentação. É uma questão de sobrevivência. Se ele tiver R$ 10 e tiver que escolher entre comprar comida e colocar crédito no celular para o filho acessar o conteúdo da aula na internet, a opção dele vai ser a comida“, comenta.