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Esquema na Seduc visava pagar dívida de caixa 2 de Taques, diz Alan

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Esquema na Seduc visava pagar dívida de caixa 2 de Taques, diz Alan

Ednilson Aguiar/O Livre

Alan Malouf

Alan Malouf chega para prestar depoimento à Justiça sobre desvios na Seduc

Em depoimento à Justiça na tarde desta quinta-feira (8), o empresário Alan Malouf afirmou que se beneficiou com R$ 260 mil do esquema de desvios na Secretaria de Educação (Seduc), investigado na Operação Rêmora. Segundo ele, o dinheiro foi usado como pagamento de parte de uma dívida da campanha do governador Pedro Taques (PSDB) de 2014, da qual foi um dos coordenadores. O total devido por Taques, relatou, era R$ 2 milhões. O depoimento foi na 7ª Vara Criminal de Cuiabá, à juíza Selma Arruda.

O empresário afirmou ainda que o delator do esquema, o empresário Giovani Guizardi, que também teria doado valores não contabilizados, disse a ele que dívidas da campanha do deputado federal Nilson Leitão (PSDB) teriam sido saldadas com dinheiro do esquema. Tanto o governador quanto o deputado negam que dívidas de campanhas tenham sido pagas com dinheiro desviado da Seduc.

O deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB) também foi citado como um dos recebedores de dinheiro no chamado “núcleo político” do esquema – ele nega participação. O Ministério Público Estadual deve encaminhar informações à Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília, devido à citação de pessoas com foro privilegiado neste processo. “Essas situações estão surgindo agora, já na parte final do processo, já depois da investigação. E como está surgindo agora, é agora que isso deve ser remetido para a autoridade que tem a atribuição para investigar autoridade com prerrogativa de foro”, afirmou o promotor de Justiça Carlos Zarur.

Malouf contou ainda que o governador e Paulo Taques, ex-chefe da Casa Civil, sabiam que a dívida da campanha vinha de empréstimos contraídos por meio de caixa dois, ou seja, não contabilizados oficialmente. O assunto – relatou – foi discutido por eles numa reunião em maio de 2015, depois da prisão de Guizardi. Malouf contou que enviou uma mensagem a Pedro Taques, que estava em Brasília e pediu que ele fosse a seu gabinete quando retornasse a Cuiabá.

O empresário foi ao Palácio Paiaguás em um dia de semana, por volta das 20h, e teria pedido ao governador providências com relação ao pagamento da dívida e à prisão de Guizardi, que poderia implicá-lo.  “Ele falou que eu ficasse tranquilo que ele resolveria, que iria dar um jeito de soltá-los, o que não aconteceu. Tanto é que acabou na minha prisão”, afirmou Malouf em seu depoimento.

Em uma reunião ao fim da campanha de 2014, segundo Alan Malouf, foi feito uma espécie de rateio de dívidas da campanha do governador, quando ele teria pago os R$ 2 milhões. Ele conheceu o ex-secretário de Educação Permínio Pinto no período de transição, ainda em 2014, e o procurou quando Guizardi afirmou que havia a possibilidade de saldar a dívida com esquemas em obras da Seduc. Alan disse ter recusado participação no esquema duas vezes antes de ceder. A partir daí, Giovani teria feito a operação para que ele fosse beneficiado pelos valores ilegais.

Alan ainda reafirmou que Permínio sabia que ele recebia os valores. “Teve uma vez que o Permínio e o Frigeri me procuraram e disseram que o Giovani estava sendo truculento. Então, eu chamei eles para uma reunião, e estávamos eu e mais os três, Permínio, Frigeri e Giovani, e deixei que eles resolvessem o problema”, disse durante o depoimento.

Os R$ 260 mil teriam sido pagos por Guizardi em quatro parcelas, sempre entregues em dinheiro no escritório e na casa de Alan Malouf. O restante dos pagamentos não ocorreu pois o esquema foi desmontado pelo Ministério Público Estadual. Segundo o empresário, uma dívida do Buffet Leila Malouf por serviços prestados ao governo do Estado também ficou sem pagamento depois que a Rêmora foi deflagrada.

Declarações mentirosas, irresponsáveis e levianas
Em nota, o governo de Mato Grosso afirma “o governador Pedro Taques reagiu com indignação às declarações mentirosas, irresponsáveis, levianas e sem provas do senhor Alan Malouf sobre a existência de um suposto ‘caixa 2’ na sua campanha de 2014”. Taques reiterou “o que já disse publicamente sobre o caso: não houve caixa dois em sua campanha e que sua prestação de contas foi aprovada sem ressalvas pela Justiça Eleitoral, onde pode ser acessada por qualquer pessoa”.

Malouf já havia feito as mesmas alegações em depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em dezembro de 2016. “O governador e o secretário afirmam, ainda, que Alan Malouf jamais exerceu qualquer cargo ou delegação na arrecadação de fundos eleitorais, e que todas as doações, de pessoas físicas ou jurídicas (na época, permitidas) foram devidamente registradas. Portanto, caso haja qualquer valor que eventualmente tenha sido movimento pelo investigado e que não esteja contabilizado, não foi utilizado na campanha, cabendo apenas e tão somente ao investigado esclarecer origem e destino dos valores por ele mencionados”, diz trecho da nota divulgada à época.

O deputado Nilson Leitão afirma que sua citação no depoimento de Alan é vazia, baseada em informação de um outro envolvido. “O que ele fala é totalmente vazio, o que ele ouviu foi de um terceiro, e eu nunca vi o Giovani Guizardi na minha vida”, disse Leitão. A pesar de ter conhecido Alan Malouf durante a campanha de Pedro Taques, o deputado reafirma também que nunca conversou com empresário “para tratar qualquer tipo de apoio financeiro ou coordenação financeira”.

Rêmora

A Operação Rêmora investiga desvios de recursos públicos na Seduc durante o início do governo Taques. Um cartel formado por empresários do ramo da construção civil teria se organizado com servidores da secretaria para fraudar licitações de reformas e medições em obras de escolas da rede estadual de educação. É apontada a existência de três núcleos – de empresários, servidores e pessoas envolvidas na política – que teriam agido para desviar R$ 1,2 milhão de recursos antes que o esquema fosse desmontado.

Delator do esquema, o empresário Giovani Guizardi, dono da Dínamo Construtora, teria operado a fraude nos processos, a arrecadação e a distribuição da propina ao lado do servidores Wander Luiz dos Reis e Fábio Frigeri. Os recursos seriam direcionados ao grupo político formado por Alan Malouf, Guilherme Maluf e Permínio Pinto.

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