Ednilson Aguiar/O Livre
Bombeiros já são destemidos por natureza. E sempre são os primeiros a se apresentar quando a tarefa exige algum esforço sobrehumano. O que poucos sabem é que, para salvar a pele do cidadão comum, o bombeiro já teve que salvar a própria pele nos exaustivos treinamentos ministrados pela corporação. O LIVRE acompanhou um desses treinamentos. Entre 10 de julho e 11 de setembro deste ano, 36 bombeiros militares estão sendo treinados para o combate a incêndios florestais no Estado.
Entre eles, está uma garota. A soldado Carollaine, de 20 anos, formou-se no Corpo de Bombeiros em 2016 e está se especializando no combate ao fogo na natureza.
“Lá na minha região tem muito incêndio florestal, então acho que fazendo o curso a gente pode ter um impacto bem relevante”, conta a soldado de Sinop (480 km ao Norte de Cuiabá).
Ela cita provações, como a falta de água e as altas temperaturas enfrentadas, entre os maiores obstáculos para a formação. Com 1,65 metros de altura e 63 quilos, a soldado carrega mais de 15 quilos de equipamentos durante as longas marchas em meio ao Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, onde alguns dos treinamentos são realizados.
Os equipamentos de proteção individual, como capacete, visor, luva, balaclava e visor que tampa os olhos, além cantis de água e o fardamento militar, junto do abafador, pesam. Mas também garantem a sobrevivência durante o combate ao fogo.
Na primeira etapa do treinamento, mais leve, o objetivo é que os homens e mulheres se habituem ao fogo no meio ambiente. Em um segundo momento, de ações mais intensivas, os bombeiros chegam a percorrer distâncias entre 40 e 70 quilômetros em marcha pela mata. Em uma das últimas provas, são 100 quilômetros.
“Tem que mostrar que consegue fazer a mesma coisa e ainda algo a mais”, conta ela sobre ser a única mulher da turma. Carollaine é a soldado mais nova do 4ª Batalhão de Sinop, tendo sido aprovada em um concurso dos bombeiros quando tinha apenas 17 anos de idade.
Ednilson Aguiar/O Livre
Soldado Carollaine: a única mulher no treinamento puxado para o combate ao fogo
Esta é a quinta edição do curso. Soldados de 18 polos do Estado e também do Amapá e de Tocantins participam da capacitação. Em julho, eram 41 alunos, mas o número caiu para 36 com as desistências, relata o tenente-coronel Jefferson da Silva Amarante, coordenador do treinamento.
“É um curso de dois meses, muito puxado, realmente voltado para o combate ao incêndio florestal. Fazemos combate direto, indireto, com ou sem apoio de aeronaves, entre outras atividades. Até a data de hoje é esse número, depois pode ser que saiam outros ainda”, afirmou na última terça-feira (05), quando o LIVRE acompanhou uma simulação de embarque em helicóptero para combate ao fogo.
O treinamento com uso de aeronaves é feito em parceria com integrantes do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer).
Amarante conta que a resistência física é um fator primordial no combate às chamas na natureza.
“O combatente florestal tem que estar preparado para tudo. Tem que enfrentar grandes caminhadas e estar pronto para o combate intenso durante 24 horas; para o combate tanto durante o dia, com o sol e o calor, quanto durante a noite”, conta. Em terrenos montanhosos, o combate é interrompido durante a noite para evitar risco aos bombeiros, ele explica.
Noções de primeiros-socorros, conhecimentos sobre animais peçonhentos e outros que garantam a sobrevivência em períodos de até 10 dias na mata, sem suprimentos, também estão inclusos entre aqueles que são exigidos dos combatentes. O tenente-coronel compara os integrantes do combate a incêndios florestais a “super-heróis”.
