Assim que o resultado do teste de gravidez mostra o positivo, a mulher é tomada de milhares de questionamentos e bombardeada com outras tantas narrativas acerca da próxima fase desse processo de procriação, ou seja, a amamentação.
“Cuidado, amamentar por muito tempo faz o peito cair!”. “Pelo menos amamentar emagrece”. “Se o bebê tiver conjuntivite, pingue um pouco de leite no olhinho que vai melhorar”. E por aí vai. Mas, afinal, o que é mito e o que é verdade?
O LIVRE conversou com especialistas para esclarecer essas dúvidas.
Uma riqueza
Paula Bumlai, médica pediatra neonatologista do Hospital Santa Rosa (HSR) e também presidente da Sociedade Mato-grossense de Pediatria (Somape) reforça que o leite materno é um alimento perfeito, padrão ouro, na qualidade nutricional dos bebês.
“É o ideal, mais completo, mais digestivo, mais adequado e seguro para alimentação dos recém nascidos, exclusivamente, até o sexto mês de vida”, receita a médica, com base na recomendação das sociedades Brasileira e Mato-grossense de Pediatria.
“Como é um alimento tão completo, tão rico, tão perfeito e zero defeito, poderia ser bom para várias coisas além de nutrir o bebê, por isso surgem tantos mitos”, ela acredita.
Otite e dermatite: jamais faça isso!
Bumlai é direta: tratar otite ou dermatite com o leite materno, jamais! “Pingar no ouvido, jamais! Podemos levar contaminação para o ouvido do bebê. Em caso de otite, é preciso buscar atendimento médico”, ela orienta.
E sobre aquela história de usar algumas gotinhas do leite materno para passar no rosto para tratar as espinhas, no caso de adolescentes, ela também enfatiza: “o leite materno não tem nenhum fim medicinal”.
A médica explica que esse uso indevido, por exemplo, no ouvido do bebê, pode contribuir para que ocorra proliferação de bactérias no local. “Afinal de contas, se o leite humano é muito gostoso e os bebês adoram, mas as bactérias também. Ele pode fornecer um meio de cultura para uma infecção vir e se instalar em seguida”.
Mama pequena não amamenta
A especialista alerta que outro mito que é importante quebrar é o de que a mulher com a mama pequena não pode amamentar. Bumlai explica que o preparo da mama é hormonal e acontece a partir da gestação, passando pelo período do pós-parto imediato e tardio.
“Se a mulher tem glândula mamária e tem os hormônios funcionantes, ela vai sim ter o estímulo da produção de leite”, diz.
O mesmo acontece com os diferentes tipos de mamilos, planos ou invertidos. A médica frisa que são realizadas algumas técnicas que podem auxiliar e tornar mais fácil o processo de amamentação.
“Então, toda mãe pode amamentar e todo tipo de mama pode amamentar”, afirma.
Peitolé e água
Afinal, o bebê não precisa mesmo de água antes dos seis meses de vida? E congelar o leite, fazendo uma espécie de picolé, ajuda durante o nascimento dos dentinhos? A resposta para as duas perguntas é sim.
Bumlai destaca que o leite materno é rico em água e supre a quantidade hídrica que a criança necessita. “Essa é uma verdade, o bebê em aleitamento materno não precisa tomar água nos seis primeiros meses. Mesmo morando em Cuiabá”, esclarece.
Com relação ao “peitolé”, a neonatalogista comenta que é uma boa indicação, uma vez que é reconhecido o poder analgésico da compressa fria na gengiva. “Ajuda a aliviar a gengiva quando está coçando ou quando os dentes estão nascendo. Podem fazer”, recomenda.
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Amamente e fique magra
Quanto a essa afirmação, Bumlai responde que pode acontecer, sim. “Se a mulher mantém uma dieta equilibrada, pode emagrecer durante a amamentação”, diz a médica.
Isso acontece porque o ato de amamentar provê um gasto calórico de 900 a 1,2 mil calorias por dia. “É uma atividade aeróbica diária”, comenta.
Silicone atrapalha
Com relação aos implantes de silicone, o cirurgião plástico do Hospital Geral, Boris Felsky dos Anjos, esclarece que depende da técnica que foi usada para a colocação das próteses.
“Se essa colocação foi pelo sulcro inframamário (dobra que fica logo abaixo da mama) muito dificilmente vão influenciar (na amamentação)”, pontua o médico.
Porém, se a mulher fez uma mamoplastia, que é a cirurgia para aumentar ou diminuir as mamas, aí sim a amamentação pode enfrentar dificuldades.
“Se for feito o ressecamento, a mama fica cheia de fibrose e isso dificulta que o leite percorra o caminho até o mamilo”, relata o especialista. As fibroses são como cicatrizes que se formarão nos canais por onde passa o leite, ou seja, os ductos mamários.
“Isso é o que pode acontecer, mas nada é certeza. Cada caso tem a sua particularidade”, destaca Anjos.
O peito vai cair?
Essa é uma resposta corporal que depende de muitos fatores, apontam os especialistas.
“Com relação a flacidez da pele, isso não é pelo amamentar em si, são as alterações hormonais e a idade também, afinal, com o passar do tempo, perdemos colágeno”, pontua Bumlai.
Inclusive, a médica lembra que, independentemente se a mulher amamentar ou não, a mama passa por um amadurecimento glandular e depois ocorrerá a retração dessa glândula, podendo deixar as marcas na pele.
Anjos, cirurgião plástico, lembra ainda que é importante observar os fatores genéticos. Há mulheres que não engravidam e ainda assim apresentam a mama caída.