A imunização de pessoas contra a covid-19 em Mato Grosso deve avançar a partir da segunda quinzena deste mês. É quando devem chegar os lotes da vacina Sputnik V, produzida pela Rússia.
O governo do Estado anunciou nessa quarta-feira (31) a compra de 1,2 milhão de doses pelo Consórcio Amazônico. A data coincidiu com eventos importantes para a droga.
Um dia antes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o certificado de boas práticas farmacêuticas para a Inovat Indústria Farmacêutica/União Química, responsável pela produção da Sputnik V no Brasil. A chancela é uma das etapas para o registro de uso emergencial no Brasil.
A vacina da farmacêutica Johnson & Johnson, que também recebeu o certificado de boas práticas laboratoriais no mesmo dia, já está liberada para uso emergencial. É a terceira vacina autorizada pela Anvisa.
Ontem, a União Química anunciou ter terminado os trabalhos do primeiro lote de vacinas produzido totalmente no Brasil. A capacidade mensal de produção divulgada é de 100 milhões de doses.
Segredo russo
A Sputnik V passou de uma produção desconfiada para uma das vacinas mais requisitadas no mundo. A Rússia anunciou na virada do ano o início dos testes em pessoas, sem divulgar informações sobre a produção.
A decisão foi vista com temeridade pelo contexto obscuro da produção e pela velocidade em que teria ficado pronta (fator que pesou também para outras drogas).
Mas a procura pela vacina está baixada entre a própria população russa. Conforme a BBC Brasil, o cenário político interno e a falta de informação pelo governo ajudam a explicar essa situação.
A perspectiva, ao menos para o cenário externo, mudou após a publicação de um estudo na revista científica The Lancet, em fevereiro deste ano. Pesquisadores apontaram eficácia de 91,6% da Sputnik V na imunização contra os sintomas da covid-19.
Avaliação
O resultado saiu de um teste com participação de 19.866 voluntários. Dois terços tomaram duas doses da vacina (com um intervalo de 21 dias entre elas) e o restante ficou com um placebo. Desses, 78 pessoas desenvolveram a covid-19, sendo que 62 estavam no grupo que não receberam a vacina.
Na época da aplicação da segunda dose, a vacina teve resultado de 100% de eficácia. Um resultado superior ao da CoronaVac, vacina chinesa que já vem sendo usada no Brasil, sob produção do Instituto Butantan.
O estudo de The Lancet diz ainda que as reações adversas graves observadas nas pessoas que participaram do teste não foram associadas à dose. Um comitê independente de avaliação afirmou que as reações mais graves da vacina foram desconforto no local da injeção, dor de cabeça, cansaço e sintomas gripais leves.
Mercado
Ao menos 17 países na América Latina e no Leste Europeu já usam ou encomendaram a importação da Sputnik V. Recentemente, França e Alemanha mostraram interesse em comprar a vacina.
No Brasil, em março, a cidade de Niterói e a Bahia anunciaram compra direta de doses. O caminho foi aberto pelo Consórcio Nordeste, que fechou no início de março a compra de 37 milhões de doses.