A dificuldade na contratação de médicos e enfermeiros tem sido notícia desde a intensificação da pandemia em Mato Grosso. Estado e municípios alegam falta de profissionais no mercado disponíveis para assumir os postos na linha de frente da covid-19.
Mas, as entidades que representam essas classes trabalhadoras negam a informação passada pelo poder público.
Elas dizem que o problema é a situação desfavorável que médicos e enfermeiros precisam enfrentar nos plantões em hospitais de referência. Também os salários baixos para se expor ao risco do contágio.
Segundo Sindicato dos Profissionais de Enfermagem de Mato Grosso (Sinpen-MT), um médico na linha da covid-19 tem recebido R$ 1,8 mil por cada plantão de 12 horas.
Para os enfermeiros a oferta é de R$ 2,8 mil para cada 14 plantões de 12 horas.
“Não falta médico no mercado, falta um salário adequado para eles. A situação é de grande risco e estão pagando muito mal”, diz a presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), Hildenete Monteiro.
Segundo ela, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) antecipou a conclusão do curso para algumas turmas de Medicina, justamente, para manter o fluxo de profissionais no mercado. Recentemente 22 novos médicos ganharam seus registros.
Neste caso, os recém-formados podem ser acompanhados por médicos intensivistas, no esquema de um profissional para cada 10 leitos de UTI, podendo chegar a atender até 15 pacientes, conforme uma regra do próprio CRM.
Quase o dobro da carga de trabalho
O Sinpen-MT também nega a indisponibilidade de trabalhadores no mercado. O quadro mais escasso seria o dos técnicos de Enfermagem e o motivo seria o plantão pesado que eles enfrentam nos hospitais de referência.
“A reclamação deles [técnicos] é que no [Hospital] Metropolitano, [em Várzea Grande], um está cuidando de sete pacientes, quando deveria cuidar no máximo de quatro”, disse o presidente do sindicato, Dejamir Soares.
A baixa quantidade de profissionais sobrecarrega os contratados num cenário de pandemia. E a demanda por mais pessoal pode estar represada pela coordenação dos hospitais.
“Têm muito paciente para pouco pessoal de Enfermagem, mas isso, via de regra, é um problema da coordenação do hospital, que não fez o dimensionamento correto e, por medo de perder o cargo, acaba não passando a situação para a direção”, disse.