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Político em ascensão, Emanuel Pinheiro entrou em queda livre após vídeo de delação

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Político em ascensão, Emanuel Pinheiro entrou em queda livre após vídeo de delação

Ednilson Aguiar/O Livre

Prefeito Emanuel Pinheiro

Emanuel Pinheiro (PMDB) vinha repetindo, nos últimos anos, que acalentava o sonho de ser deputado federal, assim como seu pai, Emanuel Pinheiro da Silva Primo, morto em 1974. A Prefeitura de Cuiabá não estava em seus planos, como ele mesmo afirmou por diversas vezes. No entanto, em um golpe de sorte, disputou uma eleição para prefeito que não tinha favoritos – e se elegeu. Depois de uma subida meteórica, veio a queda. Há 10 dias, Emanuel vem enfrentando o maior escândalo de sua carreira política. O futuro é incerto.

Na média

Emanuel entrou para a política em 1988, quando se elegeu vereador por Cuiabá. Desde então, foi eleito vereador mais uma vez, duas vezes deputado estadual, e em outras duas foi suplente. Em 2000, disputou a Prefeitura de Cuiabá pelo PFL, sem sucesso. Com 7.505 eleitores, 3% dos votos válidos, ficou em quarto e último lugar.

Ao longo de sua carreira parlamentar, esteve na média – nunca foi do alto nem do baixo clero. Frequentou o noticiário de forma negativa quando foi acusado por um empresário de pagar uma dívida com esmeraldas falsas, e também toda vez que eram divulgadas listas dos deputados que acumulavam salário com aposentadoria pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP). Nenhum grande escândalo capaz de alçá-lo às manchetes.

Marcos Lopes/ALMT

Emanuel Pinheiro

Projeção na oposição

A ascensão começou em 2015, quando foi eleito deputado estadual pelo PR, depois de amargar dois mandatos na suplência. Naquele ano, Pedro Taques (PSDB) também tomou posse como governador. Emanuel, que estava acostumado a ser situação, foi colocado na oposição – e com isso conseguiu um destaque nunca antes atingido na sua trajetória.

Uma das poucas vozes oposicionistas na Assembleia Legislativa, Emanuel começou a ganhar espaço. Com discursos elaborados, ele antagonizava com o líder do governo, o também habilidoso na retórica Wilson Santos (PSDB). Quando foi aberta a janela de infidelidade partidária e ele decidiu deixar o PR, foi convidado a ir para a situação. Acabou se filiando ao PMDB e se consolidando como opositor ao governo tucano.

RGA e a consagração

Em junho de 2016, veio a consagração política. Encampando a bandeira dos servidores estaduais em meio a uma greve geral que durou cerca de 30 dias, Emanuel defendeu o pagamento da reposição da inflação – a chamada Revisão Geral Anual (RGA). Ganhou a simpatia dos sindicatos e decidiu que era o momento de alçar novos voos. Decidiu disputar a Prefeitura de Cuiabá de forma despretensiosa, para se projetar para a disputa de deputado federal em 2018.

Para isso, Emanuel desbancou o deputado federal Valtenir Pereira, que era o pré-candidato do PMDB à Prefeitura (hoje o deputado está no PSB). Assim como Emanuel, Valtenir também concorria com segundas intenções – queria garantir a reeleição em 2018, depois de usar a campanha de prefeito para reverter o desgaste que seu voto contrário ao impeachment de Dilma Rousseff (PT) lhe rendeu.

Assessoria

Emanuel Pinheiro campanha 2016

Disputa pelo Alencastro

A saída do então prefeito Mauro Mendes (PSB) do páreo zerou a disputa. Favorito para continuar no cargo nas eleições de 2016, Mendes desistiu de disputar a reeleição alegando que precisava cuidar dos negócios e da família. Com o jogo zerado, Emanuel passou a ter chances reais de vencer a corrida pelo Palácio Alencastro.

Orientado pelo marqueteiro Antero Paes de Barros e por pesquisas qualitativas, Emanuel focou nos 70 mil servidores públicos que moram na capital. O discurso foi se ampliando ao longo da campanha e a principal promessa do candidato acabou se tornando a Hora Estendida nas creches, para atender às mães trabalhadoras.

Para se eleger, Emanuel precisou ultrapassar o Procurador Mauro de Lara (PSOL), que iniciou a campanha em primeiro lugar e terminou em terceiro. O peemedebista acabou disputando um sangrento segundo turno com o também deputado estadual Wilson Santos (PSDB), que fez denúncias de corrupção contra sua família. Ao final, Emanuel venceu.

Edson Rodrigues

Emanuel Pinheiro_0102017

Início do governo

Em 1º de janeiro de 2017, Emanuel tomou posse como prefeito de Cuiabá e iniciou sua fase de lua de mel com a população cuiabana e com a Câmara da capital. A primeira crise no staff começou antes dos 100 dias de governo, quando ele trocou a secretária de Educação, Mabel Strobel (PSC). Ao longo dos primeiros meses, Emanuel foi contornando as divergências que surgiam com sua equipe, com os vereadores e com os servidores da Educação, contrariados com a possibilidade de a Hora Estendida ser imposta aos funcionários.

Emanuel conseguiu sobreviver quase oito meses como prefeito sem passar por escândalos. Até a delação monstruosa ser divulgada.

Emanuel

“Ê, Silvio”

Em 24 de agosto de 2017, o Jornal Nacional exibiu trechos de vídeos de deputados estaduais recebendo dinheiro das mãos do delator Silvio Corrêa, chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa (PMDB). Emanuel aparece guardando dinheiro no bolso do paletó e até se abaixa para pegar um maço que deixou cair no chão. Foi o início da sua própria queda.

O ex-governador afirmou, em sua delação premiada, que pagou mensalinho aos deputados estaduais para que apoiassem o governo na Assembleia Legislativa e entregou à Procuradoria Geral da República (PGR) vídeos que, segundo ele, provam as propinas. O vídeo de Emanuel é um deles.

No dia 24, o prefeito estava em viagem oficial aos Estados Unidos. Ele chegou naquela noite ao país, e voltou a Cuiabá no dia 25. Desde então, não apareceu em público, não atendeu à imprensa e não atualizou sua página no Facebook. Bastante ativo nas redes sociais, Emanuel dizia que usava seu perfil na rede como forma de ter um contato direto com a população. Ele até já anunciou decisões importantes da gestão, como mudanças no secretariado, em sua página no Facebook. Na única postagem que fez depois da divulgação do vídeo, Emanuel classificou como “totalmente deturpada” a cena e disse que não comentaria mais por orientação dos advogados.

O primeiro obstáculo em meio à crise já foi vencido: a base do prefeito conseguiu evitar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara, impedindo a ampliação da crise – pelo menos por enquanto. Mas o futuro continua incerto.

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