Os efeitos das queimadas no quadro doentio da covid-19 estão sendo estudados por pesquisadores em saúde pública da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O estudo busca a identificação de agravamento da doença por causa da entrada de componentes da fumaça nas vias respiratórias.
A hipótese é que o monóxido de carbono expelido pelas queimadas complique o quadro inflamatório desenvolvido pelo novo coronavírus no organismo humano e que avança em estágios rápidos em curto período.
“O monóxido de carbono tende a competir com a circulação do oxigênio no organismo, gerando complicações às vias respiratórias. Por exemplo, nos períodos das queimadas em Mato Grosso, a taxa internação por problema respiratório cresce até 25%, isso em anos sem o fenômeno da covid-19″, explica o doutor em saúde pública e meio ambiente, professor Ageo Mário Cândido da Silva.
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Inflamações sobrepostas
O especialista pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador da pesquisa afirma que o monóxido de carbono, liberados no processo de combustão, passa a ficar em maior volume no ar durante os meses de queimadas. E ele entra no sistema respiratório em forma de material particulado.
Uma vez no organismo, tende a levar à intoxicação com inflamação interna dos órgãos. O perigo da invasão do monóxido ao organismo está no ataque que ele faz às hemoglobinas, responsáveis pelo transporte do oxigênio.
“A nossa hipótese que a situação da poluição tende a piora a situação do organismo por causa da tempestade inflamatória gerada pelo vírus da covid-19. Consequentemente, isso tende a aumentar a procura por leitos para internação em enfermaria e UTI (Unidade de Tratamento Intensivo)”, disse o professor.
Para ilustração, conforme estudos médicos, a covid-19 pode comprometer 30% dos pulmões no curto período de duas semanas.
A pesquisa está sendo desenvolvida pelo programa de pós-graduação em saúde pública da UFMT. Serão compilados e cruzados dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), sobre as ocorrências de queimadas e lançamento do monóxido de carbono e gás ozônio no ar.
Esses dados serão analisados em paralelo com os boletins do Data SUS sobre a covid-19. Serão analisadas as situações em todos 141 municípios de Mato Grosso, visto que os materiais particulados podem ser facilmente carregados pelo vento.