Uma em cada quatro crianças e adolescentes ouvidos em um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apresentou sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia.
E as manifestações, segundo o coordenador da pesquisa, o psiquiatra Guilherme Polanczyk, tinham níveis clínicos, ou seja, já demandavam a intervenção de especialistas.
Os dados foram apresentados à Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (17).
A pesquisa monitorou a saúde mental de 7 mil crianças e adolescentes de todo o País, desde junho do ano passado.
Ao falar sobre o estudo, Polanczyk salientou que a pandemia é uma situação de estresse que pode levar ao desenvolvimento ou ao agravamento de transtornos mentais em indivíduos suscetíveis.
E, no Brasil, dos 69 milhões de pessoas com idade entre 0 a 19 anos, há registro de 10,3 milhões de casos de transtornos mentais.
Entre os pacientes adultos, 48,4% deles tiveram o início do transtorno até os 18 anos de idade. “Estamos falando do futuro da nossa nação”, salientou.
Síndrome da gaiola
Para lidar com o problema, o médico defendeu a articulação entre escola, pais e serviços de saúde. Segundo ele, serviços voltados para atender indivíduos dessa faixa etária, hoje, são escassos.
O debate, aliás, foi convocado na Câmara Federal para tratar, justamente, da chamada “síndrome da gaiola” em crianças que estariam apresentando medo de ir à escola por conta da pandemia.
Especialista em Psiquiatria Infanto-Juvenil, Gabriela Judith Crenzel defendeu que, embora seja necessário levar crianças e adolescentes de volta às escolas, é preciso “encarar que o principal motivo dessa angústia é real”.
“Nós, Brasil, só vacinamos 11,4% da população com as duas doses e 27,5% com a primeira dose, então, ainda estamos muito longe de pensar na irracionalidade desse medo”, avaliou.
Para ela, muitas dessas crianças enfrentam sentimentos ambivalentes: ansiedade de encontrar amigos e medo de infectar parentes, por exemplo. E essa ambivalência deve ser acolhida, compreendida e contornada conjuntamente pelos profissionais da saúde, da educação e as famílias.
Evasão escolar
Para Crenzel, principalmente nas escolas públicas, será necessário um trabalho pró-ativo: “ir atrás das crianças e adolescentes para eles voltarem para a escola”.
Para a psiquiatra, a partir de agora, a escola terá que ser, cada vez mais, pensada como um lugar, não apenas de transmissão de conteúdo, mas de saúde mental e de pertencimento.
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(Com Agência Câmara de Notícias)