Ednilson Aguiar/O Livre
Nomeado para comandar a Secretaria Extraordinária Cuiabá 300 Anos (SEC 300), Júnior Leite reconhece que não conseguirá se livrar do estigma deixado por outra pasta extraordinária – a já extinta Secopa – enquanto os projetos da prefeitura para o tricentenário da capital não saírem o papel e do jeito certo, na data prevista.
O LIVRE conversou com o secretário que garantiu: “ninguém está aqui para repetir os erros. Aquilo que não deu certo, a gente já conhece”.
Confira os principais trechos da entrevista de Júnior Leite a nossa reportagem:
O LIVRE – Cuiabá já viveu a criação de uma secretaria voltada exclusivamente para a organização de um evento e o resultado não foi dos melhores. Qual seu plano para desmistificar a SEC 300?
Júnior Leite – Nós temos várias entregas programadas já nesses dois primeiros meses de trabalho. As ações são a grande diferença. A outra secretaria que foi criada, foi feita para executar as obras. Tinha uma infinidade de engenheiros, setor de licitação, enfim. A principal diferença da SEC 300 é que ela é uma secretaria de articulação. Ela vai trabalhar em parceria com as secretarias da ação fim.
Nós temos exemplos, como é o caso do Mercado do Porto [que será reconstruído, conforme os planos da prefeitura]. Ele já tem R$ 10 milhões alocados. Foi tudo feito pela Secretaria de Planejamento e, na sequência, vai ser licitado pela Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Econômico. A SEC 300 vai trabalhar em conjunto para que este processo tenha um início, meio e fim.
O LIVRE – Uma das perguntas que tem sido feitas é justamente se essas secretarias que já existiam na estrutura da prefeitura não têm capacidade de tocar sozinhas esses projetos.
Júnior Leite – A Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Econômico não tem só o Mercado do Porto para cuidar. Ela tem inúmeras ações importantes. Projetos como esse [do Mercado do Porto], dessa relevância, não podem cair na mesma esteira dos outros, que não deixam de ser importantes, mas, nesse, nós temos prazo para entrega. É um projeto de extrema importância para a cidade e para o momento que a cidade vive: que é a preparação para os 300 anos.
Nosso papel é ajudar os secretários a fazerem esses projetos saírem do papel. Licitar, acompanhar os prazos e garantir que a empresa faça a entrega. Mais, dos R$ 14 milhões orçados para a obra, nós temos R$ 10 milhões, ainda faltam R$ 4 milhões. Nós precisamos ir atrás disso. Aí também entra a SEC 300, na articulação de emendas parlamentares e recursos dos ministérios e da iniciativa privada.
A grande diferença da SEC 300 é essa: nós não temos orçamento, não licitamos, apenas fazemos o acompanhamento e a articulação para que a coisa aconteça e a gente não corra o risco de voltar a ter obras que começaram e não terminaram. Muitas dessas obras não tiveram problema financeiro, não foi por incompetência do gestor, foi porque o dia a dia das secretarias é tão corrido, são tantas as prioridades, que acaba se perdendo o foco.
O LIVRE – Pode-se afirmar que, dos projetos apresentados pela prefeitura até agora, as obras viárias e de infraestrutura são as que causam mais preocupação, tendo em vista o histórico da Secopa. Como os prazos e projetos de execução desses empreendimentos estão sendo tratados?
Júnior Leite – É isso que eu digo: a gente não vai conseguir desmistificar isso com palavras. Vamos conseguir com ações. É redundante eu dizer que a SEC 300 é diferente, que eu sou diferente ou que o prefeito Emanuel Pinheiro (PMDB) é diferente. Nós vamos mostrar que dá para fazer diferente. Não adianta a gente ficar batendo nessa tecla, porque eu não vou convencer as pessoas de que a SEC 300 é diferente, se eu não mostrar que ela é diferente. Falando, as pessoas pensam: “ah que bom, mas será que vai mesmo acontecer?”.
A única coisa que eu posso garantir é que o prefeito está extremamente preocupado e entusiasmado com o projeto dos 300 anos. Se tem uma coisa que vai acontecer nessa cidade é ela estar preparada para essa data, porque a determinação dele nos dá a energia, nos dá a vontade de fazer acontecer.
Também porque, quando a gente tem um exemplo daquilo que não deu certo, é o exemplo que a gente não deve seguir. Ninguém está aqui para repetir os erros. A gente pode errar? Lógico. Eu sou humano, o prefeito é humano. Mas não vamos errar do mesmo jeito. A gente pode errar diferente. Errar tentando acertar. Aquilo que não deu certo, a gente já conhece. A própria criação da SEC 300 foi de uma forma diferente, porque vimos que da forma que foi feita, a Secopa não deu certo.
Ednilson Aguiar/O Livre
O LIVRE – A SEC 300 tem 16 cargos. Esses profissionais já foram escolhidos?
Júnior Leite – Esses 16 cargos não foram nomeados ainda. Aos poucos vamos fazer isso. Nesse primeiro momento, serão somente os cargos técnicos, que é para estrutura da secretaria. Vamos ter assessores estratégicos, que vão acompanhar esses projetos; assessores jurídicos, que vão nos dar o embasamento jurídico, quando necessário; e pessoas que vão nos auxiliar na tratativa de emendas parlamentares, convênios, como que o dinheiro vem para cá, como pode ser transferido para a secretaria fim.
Num segundo momento, vamos trazer pessoas que já estão na administração, mas que estão nessa esteira em que estão todos os projetos da prefeitura, que é o que faz o município rodar. Vamos pinçar algumas pessoas de dentro da administração que têm o perfil, têm esse dinamismo.
O LIVRE – O senhor falou em técnicos. Que tipo de profissional é esse?
Júnior Leite – São juristas, técnicos em convênios, designers e profissionais de áreas administrativas.
O LIVRE – Já existe um prazo para a SEC 300 estar efetivamente funcionando?
Júnior Leite – Na verdade é o quanto antes. Nós temos um prazo muito curto. Eu não diria que temos uma data limite porque, como diria o prefeito Emanuel Pinheiro, o mundo não acaba em 8 de abril de 2019, mas a intenção é que a gente faça o maior número de entregas possível antes e durante o mês do aniversários dos 300 anos.
A gente tem que correr com essa estrutura e fazer com que as coisas comecem a acontecer. Eu não posso te afirmar que vai ser daqui uma semana ou 10 dias, mas a intenção é que isso aconteça o mais rápido possível.
O LIVRE – Existe uma previsão que a SEC 300 ocupe o prédio que abrigou a extinta Secopa. Já está confirmado?
Júnior Leite – Não. O prefeito solicitou a entrega do prédio ao governo do Estado. A solicitação não foi exclusivamente para a SEC 300, até porque não precisamos de um espaço daquele tamanho.
Na verdade, a solicitação daquele imóvel é para que a prefeitura tire algumas secretarias que estão hoje pagando aluguel e leve para lá, fazendo um centro integrado de secretarias. Seriam três ou quatro que economizariam – numa conta de padaria – cerca de R$ 150 mil por mês de aluguel.
Esse é o principal objetivo. Se a SEC 300 vai para lá também, é outra situação. É uma secretaria com 16 pessoas e não faz o menor sentido a gente ter um prédio daquele tamanho. Com 150 metros quadrados, eu resolvo minha vida. Não preciso mais do que isso.
O LIVRE – Existe alguma preocupação por parte do senhor, uma espécie de superstição em ocupar aquele prédio por conta de todos os problemas da Secopa?
Júnior Leite – Absolutamente. Eu acho que a Secopa se perdeu em algum momento, não quero fazer juízo de valor em relação a isso, as pessoas que estavam lá é que sabem o que aconteceu, mas de forma alguma me preocupa.
Aquele imóvel é da prefeitura. É um excelente prédio, localizado num excelente lugar, extremamente valorizado e, o que for para lá, eu tenho certeza absoluta, no comando do prefeito Emanuel Pinheiro, vai dar resultado.
