As investigações do Núcleo de Competência Originária (Naco) mostram a troca de influências do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) no exercício do cargo com pessoas de fora da prefeitura, apontadas como suspeitas de participar de crimes investigados. O escopo vai de dívida em campanhas eleitorais, encontro com ex-comendador, a freio em inquérito da Polícia Civil.
As informações estão na medida cautelar que serviu de base para o afastamento do prefeito, por ordem do desembargador do Tribunal de Justiça Luiz Ferreira da Silva.
“Propina” para eleição
O Naco relata uma gravação ambiente feita por Mhayanne Escobar, servidora da Secretaria de Saúde investigada pela Justiça Federal. O contexto, segundo o relatório, é uma reunião em que Mhayanne teria negociado amparo com outros investigados na Secretaria de Saúde, após ter perdido emprego por causa da investigação.
Ela conta para Gilmar Cardoso, ex-secretário-adjunto de Gestão de Saúde, que Célio Rodrigues da Silva teria pedido, em nome do prefeito Emanuel Pinheiro, a liberação de R$ 30 mil como propina. O dinheiro seria para manter um contrato com a empresa LB.
“A gravação ambiental também captou o momento em que Mhayanne conta para Gilmar que Célio pediu, sob ordem de Emanuel, R$ 30 mil de propina para que fosse mantido um contrato com a empresa LB, pois ele precisava utilizá-lo para cobrir os gastos que estava tendo com as campanhas políticas. Já no final da gravação uma mulher não identificada bate na porta que diz para o Gilmar: ‘Você tem os dados bancários dele?’. No contexto não é possível identificar a quem se referem, porém, Gilmar demonstra mais um vínculo ao prefeito quando diz ‘Eu vou ter que ligar para o prefeito para pegar os dados dele, esqueci dessa situação”, diz trecho do relatório.
Interferência na Deccor
O Naco diz ter coletado do celular de Emanuel Pinheiro uma conversa que indicaria uma tentativa de desacelerar ou parar uma investigação contra ele na Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor).
Emanuel Pinheiro teria conseguido uma reunião com o delegado Lindomar Aparecido Tofoli, que estaria prestes a voltar para a Deccor, supostamente intermediada pelo escrivão Rodrigo Oliveira Mendes de Melo.
O escrivão teria dito ao prefeito que a mudança de posição do delegado “frearia” a investigação na Deccor. Rodrigo Oliveira Mendes de Melo é identificado como uma pessoa a favor do prefeito.
“Rodrigo menciona que o retorno do delegado Lindomar à Delegacia de Combate à Corrupção – DECCOR iria favorecer ao prefeito, quando afirma que o citado delegado frearia as investigações em desfavor do prefeito, pois justificaria uma provável troca de favores ao solicitar intermediação do prefeito, visando a celeridade de uma decisão pelo desembargador Luiz Carlos da Costa que por consequência agilizaria o retorno do delegado”.
Visita de Arcanjo
Ainda conforme o relatório do Naco, Emanuel Pinheiro teria recebido o ex-comendador João Arcanjo diretamente na sede da prefeitura. A conversa teria sido intermediada pelo empresário João Bosco da Silva, investigado pela polícia e identificado como outra pessoa próxima ao prefeito.
Os investigadores coletaram uma conversa pelo WhatsApp entre Emanuel Pinheiro e João Bosco da Silva, que “sobre o aval e direcionamento do prefeito, agendava frequentemente visitas políticas e negociais entre empresários e secretários municipais”. Arcanjo teria sido uma dessas pessoas apresentadas com a chancela de Emanuel.
“Inclusive, durante a conversa, ressalta-se a parte em que João Bosco, ao contar para Emanuel que levaria alguns empresários para conhecer secretários municipais, diz ‘se puder peça aos secretários pra dar uma atenção especial pro compadre (se referindo a João Arcanjo)’. Em resposta, Emanuel sugere para João ‘procurar o secretário-adjunto de desenvolvimento urbano Oseas Machado’”.
