Uma epidemia pode ser algo devastador para as comunidades indígenas, vulneráveis a doenças causadas pelos brancos. E o coronavírus pode ser ainda mais preocupante, devido à rapidez com que tem invadido as cidades.
Segundo o site Amazônia Real, o primeiro caso de uma indígena mato-grossense com a covid-19 foi confirmado na última sexta-feira (15). O que deixa as tribos em alerta.
Uma das grandes características dos povos indígenas é de serem autossuficientes e capazes de criarem suas próprias ferramentas e meios de defesa.
E foi essa peculiaridade que levou um grupo de mulheres da tribo Rikbaktsa – também conhecidos como “orelhas de pau” ou “canoeiros” – a se unir por uma nobre causa: proteger seu povo.
Elas começaram a produzir máscaras para proteger os mais de 2 mil índios das 37 aldeias organizadas em três terras indígenas: Escondido, no município de Cotriguaçu, terra Japuíra, em Juara, e terra Rikbaktsa, em Brasnorte.
A iniciativa de proteção chegou em boa hora, já que para terem acesso ao núcleo urbano é preciso fazer a viagem de um dia de barco, ou de mais de 5 horas por terra.
Por serem extrativistas e viverem da pesca e da venda de objetos artesanais, a renda e o ganho do Cuxau – dinheiro na língua indígena – desses povos ficou ainda mais escassa após a pandemia. E comprarem as máscaras seria algo inviável.
Há 25 anos lecionando para os índios, Elani Lobato propôs ao grupo de mulheres Integrantes da Associação Indígena das Mulheres Rikbaktsa – AIMURIK com sede no distrito de Fontanillas, em Juína, a aprenderem a costurar as próprias máscaras. Além de Elani, Nelson Rikbaktsa e o coordenador da Funai na tribo Rikbaktsa, Francisco Cavalvcante também abraçaram a causa.
A ideia foi bem-vinda pelos índios. Mas havia uma condição dentro da concepção Rikbaktsa: todos deveriam ganhar as máscaras. Dos bebês aos anciões, sem exceção.
“Me propus a fazer uma capacitação, aprender a costurar e passar o ensinamento a essas mulheres, e a dedicação delas e de toda a aldeia me surpreendeu”, contou Elani.
União
O exemplo de organização comunitária é invejável. Enquanto o grupo de oito mulheres costura, o outro caça, outros levam alimentos da roça produzidos por eles, outros cozinham, e assim dão suporte às costureiras. Resultado: em três semanas já foram produzidas 1823 máscaras feitas pelas incansáveis costureiras indígenas.
O material para fabricação e as máquinas foram doadas por comunidades próximas e pela prefeitura de Juína, que articulou, através do Departamento de Cultura, o apoio de patrocinadores.
Uma nova fonte de renda
Entusiasmadas com a nova habilidade nas máquinas de costuras, as índias já planejam costurar calcinhas e sutiãs não só para uso pessoal, mas também para comercializarem, e assim terem mais uma fonte de renda. Para se ter uma ideia da alegria da nova perspectiva, o domínio das máquinas foi aprendido em questão de horas.
“A euforia foi visível. Ensinamos a manusear as máquinas na parte da manhã, e a tarde todas já estavam produzindo dezenas de máscaras. Enquanto eu fazia duas máscaras, elas já haviam feito 10 cada uma”, contou a professora, orgulhosa.
“Se tivéssemos mais máquinas, o projeto se estenderia a outras aldeias, e futuramente seria mais uma alternativa de sustento para essas mulheres”.