Ednilson Aguiar/O Livre
“Casa do Cristo” no bairro Cidade Alta: aparição de “rosto” transformou muro em relíquia religiosa
No início da década de 1970, uma mancha surgida no muro de uma casa do bairro Cidade Alta despertou a atenção de toda a vizinhança.
Com tonalidade escura, a aparição formava um desenho que vagamente lembrava feições de um homem de barba e cabelos compridos.
Para muita gente, não restava qualquer dúvida: estava impressa ali, no reboco da parede, a imagem de Jesus Cristo, em sua versão mais conhecida. Não demorou para a notícia do possível milagre ganhar as ruas do bairro.
Localizada na esquina das ruas Doutor Luís de Castro Pereira e Custódio de Melo, a “Casa do Cristo” virou ponto de visitação, de referência e até de pagamento de promessas.
Há 18 anos, quando comprou o imóvel, o empresário Cleudemir José Martins ouviu o antigo morador contar essa história e ficou sensibilizado.
Católico fervoroso, assumiu consigo mesmo o compromisso de preservar a imagem tal como a havia recebido. E até hoje não mudou de ideia.
Recém-reformado, o imóvel recebeu pintura nova em todos os cantos. O Cristo, porém, continua lá, a desafiar a incredulidade alheia.
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Imagem conservada há quase 50 anos: ponto de referência e de pagamento de promessas
Guardiã
Filha de Cleudemir, que atualmente vive em São Paulo, a comerciante Caroline de Paula Martins, de 29 anos, é hoje a moradora da casa e, juntamente com o marido, a guardiã da imagem.
Perguntada se enxerga de fato o rosto de Jesus na mancha do muro, ela sorri e reconhece que, como a imagem é “complexa”, nem todos o percebem de imediato.
“Todo mundo tem dificuldade. Meu marido não via nada, mas, com o tempo, passou a perceber os detalhes e ver o rosto”, relata Caroline. “Na verdade, ninguém tem prova alguma que o rosto dele era aquele, mas o que a gente tem da história é isso, então acredito”.
Segundo ela, o desenho se manteve praticamente intacto ao longo de todo o tempo que a família possui a casa. “O que fizemos foi plantar uma árvore ao lado para amenizar a força do sol e da chuva”, conta.
Outra providência foi manter pedreiros e pintores bem avisados a respeito da relíquia. “Certa vez, durante a reforma, cheguei em casa quando o pintor estava prestes a passar lixa em tudo”.
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Muitos têm dificuldade para enxergar o rosto: família diz que percepção melhora com o tempo
Promessa
Segundo Caroline, a fama da casa se manteve principalmente entre os moradores mais antigos, mas ainda é comum que alguém pare para observar e tirar fotografias.
Em uma ocasião, conta ela, sua mãe se deparou com um homem que havia acendido uma vela e rezava ajoelhado diante da imagem. Ao conversar com ele, soube que pagava uma promessa.
“O homem contou que estava com a filha em situação grave na Policlínica [localizada nas imediações], então veio aqui e fez uma oração. Três dias depois, a menina estava bem, tinha sido curada e ele veio agradecer”, diz.
Caroline diz que, em razão de todo o contexto, seu pai jamais cogitou se desfazer da casa. E que tem planos para assegurar a preservação do Cristo do muro por ainda mais tempo.
“A ideia é fazer moldura e uma proteção de vidro. É uma formação da natureza, mas por que foi ficar justamente naquele formato? A gente sabe que aquilo ali não apareceu por acaso”, diz.
Montagem/O Livre