Quando o prefeito Emanuel Pinheiro anunciou, no mês passado, que plantaria cerca de 400 mudas de palmeira por toda a cidade de Cuiabá, muitos reagiram com indignação. “Por que plantar palmeira e não ipê?” questionou um dos descontentes, na caixa de comentários da notícia publicada na página do LIVRE em rede social.
Teoricamente, o aparelho responsável pela produção e distribuição de mudas em Cuiabá é o Horto Florestal Toti Garcia, fundado em 1953. Mas, na prática, não é isso que acontece. Conforme apurou a reportagem do LIVRE, o viveiro instalado no Horto não tem capacidade técnica para fornecer quantidade suficiente de mudas à Secretaria de Serviços Urbanos.
Ednilson_Aguiar/Olivre
A produção de sombreiras, frutíferas e espécies nativas é o foco Horto Florestal
Esgoto
Para chegar até o viveiro, instalado na parte mais alta do Horto, é preciso atravessar uma ponte de madeira capenga, montada sobre o esgoto onde corria um córrego. O cheiro é nauseante.
“Os mais velhos que vêm aqui me falam que antes era muito bonito. Eu fico me perguntando onde é que estava essa beleza toda. Só se for mesmo no tempo deles, porque desde que eu comecei é assim”, conta o estagiário Diego Renner, de 26 anos, enquanto atravessa a ponte.
“Isso aqui vem do condomínio ali de cima”, afirma novamente o estudante de Engenharia Florestal, que trabalha há três anos no Horto Florestal. A água debaixo da ponte é fosca, mas alguns passarinhos ainda se arriscam no falso riacho.
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O antigo córrego que atravessava o Horto e desaguava no rio Coxipó deu lugar ao esgoto
Mas não é culpa do esgoto a céu aberto a debilidade na produção de mudas no Horto. O responsável pela área, o comissionado Ilzeço Peres, garante que consegue atender a demanda da Prefeitura.
Mas, quando o Município inicia um trabalho sistemático de arborização, é obrigado a comprar mudas. Em setembro de 2016, duas empresas venceram um pregão eletrônico aberto para aquisição 186 mil mudas. Entre as espécies, plantas nativas como o jatobá, que poderia ser produzida pelo Horto a um custo mais baixo.
“Nessa quantidade, infelizmente, nós não conseguimos entregrar à Secretaria”, admitiu Izelço. Segundo o secretário de Serviços Urbanos, José Roberto Stopa, o Horto ainda não tem capacidade técnica para produzir mudas específicas como as palmeiras, mas o viveiro foi readequado e aumentou a produção nos últimos anos.
O viveiro conta com 25 funcionários, a maioria terceirizada. Conforme explicou Izelço Peres, há um déficit de sete vagas, que ainda precisam ser preenchidas. A produção mensal, segundo ele, é de 50 mil mudas.
Para evitar a retirada de muitas espécies pela população, o Horto doa somente uma muda por pessoa. “Pela nossa experiência, quanto mais mudas as pessoas pegam, menos elas plantam; quando doamos só uma, é maior a chance de que o cidadão vá plantar”, explica o secretário Stopa.
Entulho
Na área principal do Horto, quatro trabalhadores prometem terminar – até janeiro de 2018 – a reforma do que antes foi a “sede” do local. Um espaço onde os funcionários da área de Educação Ambiental recebiam cerca de 200 estudantes por mês. Por conta da obra, o entulho se mistura à vegetação local.
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Em 2012, o teto de madeira caiu por conta de uma infestação de cupins
“O auditório era minúsculo, ninguém cabia ali”, conta a educadora ambiental Zilda Helena, esperançosa de que a ampliação termine logo. Mesmo em obras, os educadores recebem estudantes no Horto. No local, não há informações técnicas sobre a reforma, tais como valor e prazo de duração.
O que se sabe é que esta é a segunda vez que a sede do Horto é submetida a adequações. Em 2012, o teto – que antes era de madeira – caiu e teve de ser substituído por uma estrutura metálica.
Segundo informou a prefeitura por meio de assessoria de imprensa, a nova obra começou em julho deste ano e custará R$ 300 mil. Agora, o objetivo é ampliar o espaço administrativo e o auditório para receber os visitantes. O dinheiro é resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público de Mato Grosso.