Laíse Lucatelli/O Livre
Janaina Riva e Jajah Neves discutiram na tribuna da Assembleia Legislativa
A deputada estadual Janaina Riva (PMDB) e o suplente Jajah Neves (PSDB) protagonizaram uma discussão na sessão na Assembleia Legislativa desta quarta-feira, 17. O bate-boca levou ao encerramento da sessão por “grave tumulto”, justificou Oscar Bezerra (PSB), que presidia.
A discussão começou quando Janaina subiu à tribuna para falar do escândalo dos grampos que atingiu o governo estadual. Vítima das escutas ilegais por meio de uma tática conhecida como “barriga de aluguel”, ela teve o telefone incluído nos pedidos de quebra de sigilo de um processo que trata de tráfico de drogas.
A deputada cobrou apoio dos outros colegas e da Assembleia Legislativa, pois apenas os quatro parlamentares da oposição saíram em defesa dela. Janaina chorou durante o pronunciamento.
“Eu nunca passei uma humilhação tão grande em toda a minha vida”, disse, em meio a lágrimas. Ela exibiu uma foto do chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, ao lado da mulher, da ex-primeira-dama Samira Martins e do governador Pedro Taques (PSDB), e destacou que um sistema de interceptação foi comprado em nome do coronel, conforme nota fiscal que consta no inquérito.
“Te respeitei até hoje. Agora você segura as calças porque vou ao Ministério Público mostrar para Mato Grosso quem é você”
“Essas pessoas se utilizavam desse aparelho, que custou R$ 25 mil – e a nota está aqui – para ficar fazendo memes, repassando mensagens de WhatsApp que feriram minha família toda. A Assembleia não pode me deixar sozinha nessa situação”, disse.
Janaina ainda disse ter certeza que outros deputados foram grampeados e serão chantageados com o conteúdo das interceptações. “Aposto a vida dos meus filhos”, declarou.
“Novela mexicana”
Na sequência, Jajah Neves saiu em defesa do governo, e afirmou que Janaina fez teatro na tribuna. “Aqui não é novela das oito. Não é Globo, não é Projac”, declarou. Instantes depois, se corrigiu. “Globo, não. SBT, porque é novela mexicana.”
Jajah disse que Janaina usa da condição de mulher para fazer sensacionalismo. “Não vamos nos esconder atrás de segmentos ou de gêneros. Vivemos num país onde temos que respeitar qualquer classe, qualquer segmento. Mas pegar carona de um segmento e usar de demagogia e sensacionalismo para fazer desse parlamento um teatro de quinta categoria… Essa novela o povo de Mato Grosso já conhece. A novela do roubo, da safadeza que este estado viveu”, disse.
Ele ainda saiu em defesa do secretário de Comunicação de Mato Grosso, Kleber Lima, que distribuiu uma foto de Janaina em roupas íntimas afirmando que ela se expõe. “Eu respeito os gêneros: homem, mulher, idoso, criança. Mas aqui é uma Casa de Leis com 24 parlamentares, cada um fazendo a sua defesa. Se eu posto uma foto minha nas redes sociais, eu emiti essa postagem. Não posso dizer que vazaram a informação”, disse.
“Aqui não é novela das oito. Não é Globo, não é Projac… Globo, não. SBT, porque é novela mexicana”
O deputado também afirmou que Janaina distorceu os fatos ao citar o processo de tráfico.
“Quem chamou alguém aqui de traficante? Me poupe. Conjectura de uma gravação de um período que nem sequer Pedro Taques era governador deste estado. Poxa vida! Tem limite, tem paciência”, disse.
Ele ainda criticou a proposta de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. “Os órgãos investigadores vão investigar. Trazer CPI para este parlamento para quê? Para fazer algazarra, politicagem.”
Reação
Em seguida, Valdir Barranco (PT) aproveitou o embalo das declarações de Jajah para relembrar a reportagem sobre os grampos que deflagrou a crise no governo. “Aqui não é novela; é Fantástico”, ironizou.
Ao retornar à tribuna, Janaina acusou o suplente de entregar os R$ 65 mil da verba indenizatória ao titular da cadeira, Wilson Santos (PSDB), que se licenciou do cargo para comandar a Secretaria de Cidades.
Ela chamou Jajah de analfabeto por duvidar da acusação de tráfico. “Meu filho, basta você ler o documento. Ou você é analfabeto? E se você ler, vai ver que não estamos contra o MPE. Quem está contra o MPE é o governo, que se pronunciou contra Mauro Zaque”, declarou.
“Aqui não é novela; é Fantástico”
“Leia, estude e se prepare para ser deputado estadual, porque aqui é lugar de gente inteligente. E não gente desocupada que vem aqui querer aparecer. Nem voto tem para estar aqui. Te respeitei até hoje. Agora você segura as calças porque vou ao Ministério Público mostrar para Mato Grosso quem é você”, prometeu, antes de concluir.
Final da novela
Ao final, fora da tribuna, mas ainda em plenário, Janaina prometeu provar as denúncias que levantou contra Jajah. Diversos deputados se colocaram entre os dois para evitar que se aproximassem durante a discussão, que ocorria atrás da Mesa Diretora, enquanto outros deputados falavam à tribuna.
“Você é um ban-di-do!” esbravejou a deputada, apontando o dedo para Jajah. “É isso que você é. Vou provar. Mas eu tenho foro. Cuidado para não perder o seu, que você é suplente.”
Depois de a sessão ser encerrada sob alegação de tumulto, Jajah concedeu entrevista criticando Janaina. “Ela se faz de coitadinha para sensibilizar, se diz muito frágil, mas mostrou muita força e virou três homens lá dentro. Quase me bateu dentro do parlamento”, afirmou.
Jajah ainda rebateu as falas em que ela lembrou da condição dele de suplente. “Eu tive voto. Quem não teve voto foi ela, que nem nome ela tinha, e o voto que ela teve foi comprado com dinheiro de corrupção do pai dela. Ela tem que limpar a boca para falar de mim”, concluiu.
