Mayke Toscano/Gcom
Em delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) disse que, em 2014, fechou um acordo com Pedro Taques, então candidato ao governo do Estado, para assegurar que suas contas não fossem investigadas pela nova gestão.
O suposto acerto foi articulado, segundo o depoimento do ex-governador, pelo senador e hoje ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e pelo então prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes.
O conteúdo de mais um trecho da delação de Silval foi revelado em reportagem veiculada nesta terça-feira pelo MTTV, da TV Centro América.
De acordo com o ex-governador, Taques teria exigido que Silval não fizesse investimentos vultosos na campanha de seu candidato, o petista Ludio Cabral. A candidata a vice na chapa do petista era Teté Bezerra, mulher do deputado federal Carlos Bezerra, do PMDB – mesmo partido de Silval.
Em troca, Taques teria pessoalmente firmado o compromisso de “não olhar para o retrovisor”, ou seja, não vasculhar eventuais irregularidades da gestão anterior.
Reunião na casa de Mauro
Silval afirmou que o acordo foi fechado na casa de Mauro Mendes. Taques teria participado de outro encontros e chegou a reclamar da atitude de alguns secretários em apoio aberto à campanha do petista.
À ocasião, Mauro Mendes era coordenador financeiro da campanha e chegou a pedir que Silval fizesse uma doação de R$ 20 milhões à campanha de Taques, como forma de assegurar o compromisso.
Outro lado
Em nota divulgada à imprensa (veja abaixo), Alan Malouf disse que participou e ajudou a captar recursos financeiros para a campanha do governador, além de ter participado de reuniões. Mas declarou que só “detalhará essas reuniões em momento oportuno” e que está à disposição da PGR para esclarecimentos.
O Gabinete de Comunicação do Estado divulgou nota (veja abaixo) afirmando que Silval Barbosa está utilizando o instrumento da delação premiada para fazer “vingança pessoal” e lembrou que o primeiro decreto editado pelo governador Pedro Taques ao tomar posse foi suspender pagamentos e auditar contratos da gestão anterior.
O ministro Blairo Maggi disse que jamais participou de reuniões com Silval nas eleições de 2014 (veja abaixo). Mauro Mendes não foi localizado.
Veja a íntegra da nota divulgada pelo governo
“O Governo do Estado de Mato Grosso vem a público esclarecer o que segue:
01 – O Governo do Estado não tem conhecimento sobre o teor da delação feita pelo ex-governador Silval Barbosa até a presente data.
02 – O governador Pedro Taques lembra que foi adversário do ex-governador nas duas eleições que disputou, sendo a primeira para senador, em 2010, e a segunda para governador, em 2014.
03 – O governador lembra ainda que possui vários adversários e desafetos na vida pública, inclusive políticos, entre os quais João Arcanjo Ribeiro, Hildebrando Pascoal, Silval Barbosa e José Geraldo Riva. E que nunca fez acordos com tais pessoas.
04 – Com um histórico de 15 anos atuando no Ministério Público Federal, Pedro Taques tem uma história de combate ao crime e aos criminosos. Como governador, seu primeiro decreto (001/2015) determinou a suspensão de pagamentos e auditagem de todos os contratos da gestão anterior. Talvez por essa razão o ex-governador atribua a Pedro Taques a responsabilidade pelas ações judiciais e operações policiais que levaram à prisão não apenas de Silval Barbosa, mas de sua esposa e um de seus filhos.
05 – Quanto às ilações sobre eventuais doações eleitorais irregulares, trata-se de mais uma leviandade criminosa daqueles que se utilizam do instrumento legal da Delação Premiada para fazer vingança pessoal ou comércio para atender interesses outros. Pedro Taques reafirma o que já disse em outras situações: sua prestação de contas relativa à campanha eleitoral de 2014 foi aprovada pela Justiça Eleitoral por unanimidade.
06 – O governador aguarda ter acesso à delação para conhecer eventuais acusações contra si para poder se manifestar.
Cuiabá- MT, 22 de agosto de 2017.
GCOM – Secretaria do Gabinete de Comunicação do Governo do Estado de Mato Grosso”
Veja a nota divulgada pelo ministro Blairo Maggi
“Informo que jamais estive presente em reunião política junto com Silval Barbosa, Mauro Mendes e Pedro Taques, uma vez que não participei efetivamente das eleições de 2014, muito menos declarei apoio a qualquer um dos candidatos.
Por essa razão, reitero que não convoquei encontros para tratar de acordos que beneficiassem o ex-governador Silval Barbosa.
Se houve qualquer encontro ou se existia algum interesse em acordos de proteção, foi por parte do próprio Silval Barbosa, uma vez que ele era o governador a época.
Ressalto que temos solicitado reiteradamente ao STF acesso às colaborações premiadas já homologadas, uma vez que estamos sendo procurados pela imprensa a apresentar defesas parciais, sem mesmo conhecer o teor das informações.
Por fim, entendo ser lamentáveis os ataques a minha reputação, mas estou com a consciência tranquila quanto às minhas ações e assim que tiver acesso ao teor da delação, usarei de todos os meios legais necessários para me defender, pois definitivamente acredito na Justiça.
Blairo Maggi“
Veja a nota divulgada pela defesa de Alan Malouf
“Diante dos fatos apresentados, Alan Malouf esclarece que participou sim, ativamente da campanha do governador Pedro Taques, inclusive captando recursos financeiros, conforme já mencionado perante a justiça de Mato Grosso e serão oportunamente detalhados.
Esclarece ainda que participou de inúmeras reuniões na referida campanha. Porém ressalta que detalhará essas reuniões em momento oportuno, estando a disposição na PGR para quaisquer esclarecimentos.
Huendel Rolim”
