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Cuiabano que vive em Pequim sofre com impacto econômico do coronavírus

Aos poucos empresas começam a funcionar, mas por conta do controle rígido de alguns prédios, é possível que ele tenha que continuar ao computador

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Cuiabano que vive em Pequim sofre com impacto econômico do coronavírus
Mesmo com apelo da família, Jonathan não pensa em retornar ao Brasil. Apenas não vê a hora de voltar para Pequim

Assim como muitas pessoas costumam aproveitar o feriado do Ano Novo chinês para viajar, o profissional de relações internacionais, Jonathan Volpato, escolheu Panzhihua, a sudoeste da China para a curta temporada.

“É como se fosse uma Poconé, mas com 1 milhão de habitantes”, explica o cuiabano criado no município pantaneiro.

Mas, diante do surto do coronavírus, a breve viagem se estendeu mais que o esperado e ele aguarda a temperatura subir um pouco mais para voltar a Pequim.

“Nosso escritório deveria voltar em 24 de fevereiro, mas não sabemos se será possível porque as empresas estão tendo muita dificuldade em organizar a volta de seus funcionários. Alguns prédios têm sido bastante rigorosos no controle de entrada e saída e é bem possível que eu tenha que continuar trabalhando de casa”.

O jovem de 27 anos foi surpreendido sobre o surto de contaminação pelo coronavírus quando ainda estava em Pequim. O alerta soou no dia 20 de janeiro quando foram registrados casos em Pequim (norte), Xangai (leste) e Shenzhen (sul).

Por sorte, onde está desde 26 de janeiro, não há notícias de infectados, mas as ruas ficaram vazias, comércio e escolas fechadas. Funcionam apenas serviços básicos como de segurança, saúde e bancos. Para sair de casa, usualmente, ir ao supermercado, é preciso usar máscaras.

“Mesmo no condomínio onde estou, passei por uma ‘entrevista’ sobre o local de onde eu vinha, por onde tinha passado e se tinha sintomas da doença. Quando saio preciso dizer onde vou e quanto tempo vou ficar”.

Foto panorâmica de Panzhihua / Golden Tulip

Filas no mercado

Mesmo com a ausência do movimento na cidade, conta que encontrou filas no mercado nesta sexta-feira (14). Lá, um atendente continua na entrada, com um termômetro à mão.

“É preciso desinfetar as mãos com álcool-gel e se a temperatura corporal estiver acima do normal, não entra e vai direto para uma unidade de saúde”.

Para a família que acompanha tudo do Brasil, as notícias sobre a média de contaminações, entre 10 a 20 pessoas por dia e o esvaziamento de Pequim, tem trazido angústia. Mesmo assim, Jonathan não pensa em voltar para o Brasil. Não vê a hora de retornar ao lar na capital chinesa.

“Vou esperar meu contrato acabar, que é em agosto. Mesmo se quisesse ir agora, teria arcar com passagens aéreas em valores elevadíssimos”.

Cultura milenar coexiste com China contemporânea: ao fundo, a torre CITIC, edifício mais alto de Pequim, com 528 m

Enquanto isso, as grandes cidades seguem em estado de quarentena, principalmente a capital Wuhan, na província de Hubei, onde o vírus surgiu. Cidadãos estão isolados. Aeroportos fechados e trens e ônibus não circulam.

Tranquilizando a família

Voltando do supermercado

“Eu tento tranquilizar minha mãe. Esse clima de cidade fantasma é resultado de um movimento de proteção coletiva. Eu me preservo e preservo as outras pessoas. Os chineses têm um espírito colaborativo que é inspirador: cuidar de si, cuidar do outro”.

E assim, continua dentro do apartamento com a amiga e o avô dela, acompanhando as notícias pela internet e TV. Nos momentos de resguardo, ele a ajuda a comprar e buscar doações de máscaras em países de todo o globo. Elas já estão faltando na China.

“Eu mesmo tenho cinco delas. A gente aprendeu um jeito de prolongar a vida útil, colocando entre a boca e a máscara, um guardanapo ou um lenço”.

Trabalho prejudicado

Embora boa parte das fábricas chinesas tenham retomado as atividades nesta semana, o retorno ocorre aos poucos. Quem pode trabalhar de casa não precisa se deslocar aos seus trabalhos. Os estudantes devem voltar às aulas somente em março.

Quanto ao trabalho, Jonathan faz o que pode pelo computador. Na China, ele é diretor de Educação em Rede da ONG que promove intercâmbios, Aiesec. Nos dois meses de férias, ele teria recebido um grande fluxo de voluntário, mas a epidemia certamente irá refletir no caixa do próximo mês.

“Estamos preocupados. Esperávamos 300 pessoas, depois caiu para 50 e, por fim, vieram apenas três. Muita gente está receosa por conta do funcionamento dos aeroportos. O controle é muito maior”.

Um susto no inverno chinês

Como as férias foram estendidas em escolas e universidades é bem possível que elas não aconteçam nos meses de julho e agosto, verão chinês. “Esperamos que o cenário melhore em abril, que é quando a temperatura cai”.

Nesta sexta-feira (14), manhã na China e noite de quinta-feira (13) no Brasil, fazia 24º C.

“E isso só impulsiona a propagação do vírus já que as pessoas costumam ficar em ambientes fechados. Passei um susto na semana passada. Minha garganta inflamou, mas depois de três dias tomando chá de mel com limão, melhorei. Confesso que foi um alívio”.

Preconceito e desinformação

A admiração que Jonathan tem pelo país que escolheu para morar, só aumenta. “A China é um exemplo para todas as nações. Infelizmente, muita gente tem medo. Mas muita gente finge medo para justificar o preconceito, a xenofobia”.

Ele pede cautela às informações que são disseminadas. “Muita lavagem cerebral, ataques ao governo. Mas insisto que aqui o clima é de segurança. Não tem histeria. Não tem zumbi nas ruas, não foi sopa de morcego. Isso já foi provado. Não é uma iguaria que se encontre facilmente nas ruas, eu mesmo nunca vi. Deve ser bem cara”.

E ele ressalta: “já sabem como ele é transmitido e como a gente pode se prevenir. Só não sabem ao certo a origem. Sabem que os primeiros infectados estiveram no mercado de animais silvestres e frutos do mar em Wuhan. Mas com a recente descoberta do núcleo do vírus, os testes de vacinas em animais já começaram. Vale ressaltar, 95% dos casos estão concentrados nesta cidade. Ou seja, tudo está sob controle”, diz ao tranquilizar, especialmente, a sua família.

Números do coronavírus

Segundo o El País, associado à Reuters, o número de infectados na China já supera os 60.000, dos quais 1.363 morreram e outros 8.204 se encontram em estado grave. Os casos suspeitos são 16.067, e 5.910 pacientes já se recuperaram após desenvolver doenças associadas ao coronavírus.

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