Córrego nasce no bairro Duque de Caxias; imagem mostra canalização na rua Maria Mendes
Num terreno baldio da avenida José Monteiro de Figueiredo, a antiga Lavapés, nasce um dos 28 córregos de Cuiabá. Ali mesmo, a água limpa já recebe o esgoto gerado pelo 44º Batalhão de Infantaria Motorizado e pelos prédios do bairro Duque de Caxias.
Enquanto segue seu curso, o riacho encontra dois afluentes, que lhe entregam dejetos de centenas de casas e edifícios do Quilombo e do bairro Popular. Cerca de 600 metros à frente de onde brotou, a água chega ao Parque Estadual Mãe Bonifácia trazendo toda a contaminação e mau cheiro coletados pelo caminho.
“O projeto inicial previa tanques de decantação e um lago com pedalinhos na frente”, lamenta o economista Haroldo Renato Cordeiro Benigno, frequentador do parque desde a criação, há 17 anos.
Antes mesmo disso, a sujeira já passava por ali. É que a região ao redor do parque nunca contou com tratamento de esgoto, assim como 70% de todo o município de Cuiabá. A solução para o córrego Mãe Bonifácia é a criação da estação de tratamento no Ribeirão do Lipa, mas isso ainda vai demorar alguns anos.
Não é novidade
O problema está há tempos nas gavetas do poder público. Em 2013, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) elaborou um plano de manejo do parque e resumiu assim a situação:
“Este córrego recebe dos bairros do entorno e dos outros córregos que compõem a microbacia o lançamento de águas pluviais e de rede de esgoto, bem como os despejos de lixo e efluentes domésticos e industriais, sem qualquer tratamento ou critério, implicando assim, na perda da qualidade das águas e no comprometimento da fauna e flora aquáticas desse local, assim como acontece com o rio Cuiabá.”
Terapia, só que não
O parque tem 77,16 hectares. Nas trilhas, é possível observar a vegetação do cerrado, macacos e pássaros. Oito espécies de aves que realizam migração dentro do território brasileiro são encontradas na área.
“É um lugar tão gostoso para fazer atividade física, espairecer. Tem passarinhos, bichos”, diz a empresária Gláucia Macedo. “O que incomoda – e não sei por que até hoje esse problema não foi sanado – é o esgoto que passa pela ponte”, completa.
Nas trilhas, percebe-se o odor muitos metros antes de se chegar até a água. De perto, o cheiro fica ainda mais forte – e a ponte de madeira que serviria como contemplação acaba virando passagem rápida. Quem anda por ali, aperta o passo.
Em boas condições, a presença de um córrego numa área verde contribui para regular o clima. Algo ainda mais importante numa cidade como Cuiabá. “Caminhar é terapia, mas ninguém faz terapia com mau cheiro”, aponta a advogada Cleria Dequique.
Longo prazo
O promotor Gerson Barbosa, do Meio Ambiente, conta que governos passados já tentaram canalizar o córrego, o que iria mascarar o despejo do esgoto. A iniciativa foi barrada. “Quando canaliza, você mata o rio”, explica.
Em novembro do ano passado, o Ministério Público firmou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com a CAB Cuiabá, empresa responsável pelo serviço de água e esgoto da capital.
No documento, foi definido um plano emergencial para ser cumprido no prazo de um ano e meio no valor de R$ 204 milhões. O tratamento de esgoto da região do córrego Bonifácia não está na lista. A CAB Cuiabá estima que a solução para este caso só virá dentro de cinco ou seis anos.
“Não temos essa solução de imediato. A ideia é construir uma estação de tratamento do Ribeirão do Lipa, na região onde seria o parque Dante de Oliveira, para absorver o esgoto do Santa Rosa, Quilombo e Goiabeiras”