Agência Brasil
O anúncio do horário de verão é motivo de comemoração para uns e de desconforto a outros. Mesmo a contragosto, começa pontualmente à 0h deste domingo (15) e segue até 18 de fevereiro de 2018. Mas ele pode estar com os dias contados.
É que autoridades do setor elétrico brasileiro constataram mudanças nos hábitos de consumo de energia dos brasileiros. Segundo matéria divulgada pela Agência Brasil neste sábado (14), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) avalia que o que mais tem influenciado o horário de pico do consumo de energia não é mais a incidência de luz solar, e sim a temperatura.
Este ano, o Horário de Verão valerá para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nesses locais os relógios deverão ser adiantados em uma hora. Nos estados do Norte e do Nordeste não haverá mudança nos relógios. Assim, vale para Mato Grosso, mas no caso de Barra do Garças – que adota o horário de Brasília – é neste período que os relógios permanecem inalterados e se igualam ao restante do Estado.
A justificativa para a adoção da medida ano após ano é o aproveitamento do maior período de luz solar para economizar energia elétrica. Em 2013, o país economizou R$ 405 milhões, ou 2.565 megawatts (MW), com a adoção do Horário de Verão. No ano seguinte, essa economia baixou para R$ 278 milhões (2.035 MW) e, em 2015 caiu ainda mais, para R$ 162 milhões. Em 2016, o valor economizado com Horário de Verão baixou novamente, para R$147,5 milhões.
Segundo o ONS, a redução na economia de energia com o Horário de Verão tem a ver com uma mudança no perfil e na composição da carga elétrica no país. Se antes o que determinava o horário de pico do consumo de energia era a incidência da luz solar, hoje é a temperatura. Com isso, o pico de consumo passou a ser entre 14h e 15h e não mais entre 17h e 20h.
Ou seja, a mudança no perfil de consumo de energia também está relacionada ao uso de aparelhos de ar-condicionado, que costumam ser ligados nos horários mais quentes do dia; e, por outro lado, à substituição de lâmpadas incandescentes por modelos mais econômicos, o que reduz o gasto de energia com iluminação.
Por causa do ar-condicionado, o verão pode inclusive levar a um aumento na conta de luz dos consumidores, segundo o professor Reinaldo Castro Souza, do Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CTC/PUC Rio). Um aparelho de ar-condicionado de mil watts de potência, por exemplo, se for ligado oito horas por dia, resulta em cerca de R$ 160 na fatura mensal, em média. Se o uso se estender para 16 horas por dia, o valor dobra, de acordo com o especialista.
Reavaliação
Em agosto, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), o ONS e o Ministério de Minas e Energia chegaram à conclusão que, por causa dessa mudança de perfil de consumo de energia, a adoção do Horário de Verão atualmente “traz resultados próximos à neutralidade para o consumidor brasileiro de energia elétrica, tanto em relação à economia de energia, quanto para a redução da demanda máxima do sistema”.
Apesar da indicação, o governo decidiu manter o Horário de Verão este ano, mas para o próximo ano a medida será reavaliada.
Comportamento
Muitas pessoas acreditam que os dias mais prolongados, garantem melhor aproveitamento do dia. A produtora cultural, Lóris Canhetti tem essa impressão. “Parece que meu dia rende mais. Posso acordar no mesmo horário, mas parece que estou me adiantando, ganhando tempo”.
O médico, Samir Saadeddine Jr comunga da mesma opinião: prefere chegar em casa ainda com a luz do dia. “Eu acordo às 5 da manhã e me sinto bem, por ver o sol nascer e se por”, ressaltando a sensação de bem-estar. E o relógio biológico, como fica? Segundo ele, depois de alguns dias, fica tudo certo. “O organismo se adapta logo a uma hora de diferença”.
O professor de fisiologia do exercício da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), Guilherme Molina explica que “mudar o relógio requer uma adaptação do organismo. Nesse sentido, qualquer alteração tem impacto importante na reprogramação de nossas funções biológicas, o que inclui também questões hormonais”, disse Molina à Agência Brasil.
Segundo o professor, o que nos faz acordar é o pico de produção de um hormônio chamado cortizol, que costuma atuar logo cedo, entre 6h e 8 h. Ao modificar o horário, o pico do cortizol sofre alteração. “A sensação que resulta disso é similar à do jet lag, quando uma pessoa tem de se adaptar a um novo fuso horário após fazer uma viagem de longa distância”, comparou.
“Nos primeiros dias, em geral de cinco a sete dias, as pessoas terão dificuldade de acordar plenamente”.
Mas o fisiologista, também acredita que o horário de verão pode trazer mudanças de hábitos positivas. “Ao possibilitar que cheguemos mais cedo em casa, o Horário de Verão permite que aproveitemos melhor o dia, inclusive para fazermos atividades físicas. Por que não aproveitar o dia para mudar de hábito e praticar alguma atividade física? Há mais tempo para irmos a parques, fazermos caminhadas”, sugeriu.
Divulgação
Opiniões divergentes
A empresária Luciana Prietto desaprova o horário. A única oportunidade para as pedaladas é às 5h da manhã. Como não faz em grupo nos dias de semana, ela teme por sua segurança. “Isso quer dizer que vou ter que substitui-las pela academia, deixa de ser prazeroso”, diz.
A freelancer Ravena Ysatis também acorda cedo para levar a filha à creche. “Como ainda está escuro, tenho que ter mais cautela”, explica.
A bailarina Mariana Prates reclama que não vê economia e concorda que com as altas temperaturas há mais gasto de energia. “Se o motivo é gerar economia na conta de luz e não há diferença do horário normal, para quê mudar?”, questiona. A microempresária, Ariane Barros também concorda: “Não faz nenhuma diferença na conta de energia”.
Ilustração
Opinião igual, tem a jornalista Dani Cunha: “Sempre odiei. Sem falar que acordamos bem mais cedo, está tudo escuro e temos q acender as luzes. Chegamos em casa com sol e ligamos ventilador e ar condicionado. Ou seja: não economiza nada. Para mim, é só transtorno”.
Eu um misto de emoções contraditórias o publicitário Júlio Bedin se diverte: “Amo. Mas amo também quando acaba”.
(com Agência Brasil)