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Coleta seletiva de lixo não é prioridade em Cuiabá e Várzea Grande

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Coleta seletiva de lixo não é prioridade em Cuiabá e Várzea Grande

Ednilson Aguiar/O Livre

Coleta coletiva de lixo, bairro morado do ouro

Lixo misturado no bairro Morada do Ouro, em Cuiabá

 

Alternativa de baixo custo para reduzir o gigantesco volume de lixo produzido nas grandes cidades e colaborar com o meio ambiente, a coleta seletiva não parece ser prioridade nos dois maiores municípios de Mato Grosso: Cuiabá e Várzea Grande. Nas duas cidades, os resíduos ainda são despejados em lixões a céu aberto onde montanhas de dejetos se acumulam, atraem urubus e colocam em risco a saúde de catadores.

Na capital, as tímidas iniciativas que surgiram em gestões passadas estão minguando. Do outro lado da ponte, a prefeitura até admite ceder caminhões às cooperativas, mas se recusa a gastar dinheiro com educação ambiental. 

Em Cuiabá
Na avenida Milton Figueiredo, a principal via do bairro Morada do Ouro, em Cuiabá, quase ninguém sabe que o bairro possui coleta seletiva. A reportagem do LIVRE passou quase duas horas percorrendo condomínios e estabelecimentos comerciais. Conversou com onze pessoas. Somente uma sabia da existência do serviço.

Marciel Rodrigues da Silva, dono de uma lanchonete na principal avenida do bairro, separa o lixo seco e leva para o condomínio onde mora, em outro bairro, onde há contêineres específicos. “Se deixar os sacos aqui na frente, amanhece tudo rasgado”, diz.

Poucos metros depois dali, num edifício, o lixo dos 24 apartamentos é misturado. Restos de comida, plástico, papel, vidro – tudo vai para o mesmo local. A estudante Ane Caroline Carvalho, de 21 anos, nasceu ali e nunca ouviu falar da separação dos resíduos. “Acho que eu teria a conscientização de separar. Mas acredito que muitas pessoas não entenderiam a importância”, diz. 

O mesmo acontece no condomínio localizado do outro lado da avenida. “Nunca ouvi essa conversa”, responde o aposentado San Costa, que mora ali há seis anos. E se a coleta seletiva fosse feita? “Seria viável”, diz.

Ednilson Aguiar/O Livre

Coleta coletiva de lixo, bairro morado do ouro

Ane Caroline nasceu no bairro Morada do Ouro, mora na avenida principal e nunca ouviu falar da coleta seletiva

 

Vontade política
Na feirinha gastronômica realizada no bairro às terças e quintas, a regra é: cada um recolhe seu lixo e leva embora. O comerciante Luiz Otávio Santos faz sucos naturais ali há sete anos. Ele conta que uma vez avistou o caminhão da coleta seletiva – mas em outro bairro. “Vamos tentar implantar a coleta aqui na feirinha. Tenho um projeto em parceria com um vereador”, diz.

O comerciante não precisaria buscar a ajuda de um vereador se houvesse “vontade política” por parte do poder público, avalia Wanderlei Cavenagli, presidente da Coopemar, que faz a coleta seletiva na Morada do Ouro. Ocorre que a cooperativa só possui um caminhão para atender mais três bairros: CPA I, Bosque da Saúde e Jardim Califórnia. Somente na Morada do Ouro, são cerca de cinco mil moradores. 

“São poucas casas que separam o lixo. O volume é muito pequeno, menos de cinco toneladas por mês”, diz. Com pouca adesão, a saída é procurar empresas, que fornecem grandes volumes de papel, plástico e vidro.

O lixo passou a ser coletado na Morada do Ouro por volta de 2010. Segundo Cavenagli, a prefeitura de Cuiabá cedeu um caminhão para a cooperativa. Na época, a presidente do bairro, Elizabeth Pinheiro, passou “três meses” indo de casa em casa para convencer os moradores a separar o lixo seco do úmido. Junto com ela, algumas catadoras e até um servidor da prefeitura. 

Não houve, porém, uma campanha educacional bem planejada, maciça e forte – necessária para mudar hábitos tão arraigados. Beta, como é conhecida, relata que, ao menos na rua dela, o lixo ainda é separado. No fim das contas, “vai da consciência de cada um” e da atitude do poder público. “Acho que falta que a prefeitura dê mais apoio e faça um trabalho mais focado”, opina. 

O LIVRE está tentando contato com o secretário de Serviços Urbanos de Cuiabá, José Roberto Stoppa, desde o dia 31 de março. Foram enviadas algumas perguntas ao celular do secretário, mas não houve resposta.

Ednilson Aguiar/O Livre

Projeto Coopermar de reciclagem

Separação de papelão na cooperativa Coopermar, que recolhe o lixo no bairro Morada do Ouro

 

Do outro lado da ponte
Em Várzea Grande, o Ministério Público tem pressionado a prefeitura para implantar a coleta seletiva. No final do mês de março, o secretário de Serviços Públicos, Breno Gomes, informou ao LIVRE que cederia dois caminhões às cooperativas logo no início de abril.  O compromisso não foi cumprido até hoje, segundo Valquíria Pereira, do movimento nacional de catadores.

Questionado sobre a coleta seletiva, o secretário se mostrou animado com a possibilidade de reduzir custos para a prefeitura, que paga à empresa Locar cerca de R$ 140 por quilo coletado, mas rejeitou veemente a possibilidade de investir recursos para fazer a educação ambiental – ou seja, para ensinar às pessoas como e por que separar o lixo. 

“Uma das exigências que nós fizemos é que não vamos pagar [pela educação ambiental]. Aí não aceitamos”, respondeu, alegando simplesmente que não há recursos.

Em seguida, a reportagem questionou como as pessoas seriam educadas a adotar um novo hábito. “Nós temos um problema cultural, e não só da coleta seletiva. As pessoas jogam lixo na rua, jogam entulho em qualquer lugar”, disse, mudando de assunto.

O LIVRE insistiu. “Não vamos pagar salário para os catadores fazerem isso [educação ambiental]”, finalizou o secretário.

A catadora Valquíria diz que a implantação da coleta seletiva está longe de ser algo complicado. “O que falta é interesse”, resume. Segundo ela, os passos seriam simples: a prefeitura doaria áreas públicas para as cooperativas se instalarem fora dos lixões e pagaria pelos serviços prestados pelos catadores. “Eles [prefeitura] querem que nós fiquemos encarregados de tudo”, reclama.

Ednilson Aguiar

Cidinha, coordenadora do Fórum Lixo e Cidadania de MT

 Lixão de Várzea Grande abriga quase 200 catadores

 

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