Gastronomia

Bom e barato: no Bar do Pirú, quem reina é a ventrecha de pacu

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Bom e barato: no Bar do Pirú, quem reina é a ventrecha de pacu
No Buteco do Pirú, as ventrechas saem a todo momento (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Tem bifão de carne e bifão de frango. Mas dificilmente você vai vê-los nos pratos que Pirú – menos conhecido por Benedito Juvena do Nascimento – traz a todo momento de dentro de seu boteco.

Em um zique-zague constante, ele segue em direção às mesas, desordenadamente acomodadas pelos próprios clientes.

Eles se amontoam debaixo das árvores que fazem sombra na calçada do outro lado da rua, em frente ao bar.

Entre um pedido e outro, Pirú olha para os lados para ver se não vem nenhum carro na Fenelon Müller, via movimentada do bairro Dom Aquino.

Clientes preferem a calçada, sob a sombra das árvores (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Do outro lado do balcão, na cozinha aberta aos clientes, a esposa Arenil Viega está a todo vapor, com apoio da nora Laura Barreto.

Ah, e é bem possível que se você chamá-la por Arenil, ela nem vá responder.

“Todos me chamam de Gigi. É que quando eu era criança, eu só me referia a mim como Gigi”, diverte-se ela.

Em sua cozinha, a fórmula infalível: “ventrecha de pacu temperada com sal, alho e limão”.

A receita é da família ribeirinha. Tanto ela quanto Pirú são de Barão de Melgaço. Ela, da comunidade de Capoeirinha, ele, de Correr D’Água.

Ao menos uns 70 pratos com peixe são servidos diariamente. “Começamos às 10h30 e às vezes vamos até 16h”, ressalta Laura. E Gigi emenda: “enquanto estão pedindo, estamos servindo”.

Sentada sob a sombra das árvores, Izan Petterle registrou o Buteco do Pirú sob sua perspectiva

Quando o período é favorável, a pacupeva também ganha destaque, frita ou ensopada com mandioca.

E quem são os clientes?, pergunto: “do simples ao mais chique”, conta Laura. Dona Gigi, concorda fazendo sinal com a cabeça.

Em cima de onde trabalham, o desenho de um olho com um alerta: “fiado, só se este olho piscar”.

Gigi conta que já passaram por maus bocados e, por pouco, não “quebraram”.

“Alguns clientes pediam, a gente fazia. Depois, eles fugiam daqui. É ruim que perde até cliente, não é?”.

A majestosa ventrecha de pacu e seus acompanhamentos. Fotógrafo do LIVRE, Ednilson Aguiar também aprovou!

O prato com ventrecha de pacu sai por R$ 15. Tem arroz, feijão, pirão [delicioso], farofa de banana [que está mais para banana frita com farinha], mandioca e salada temperadinha.

Mas se ainda assim você decidir comer um bife de carne ou de frango, o prato sai por R$ 12.

O Buteco do Pirú funciona de segunda a sábado. Para “molhar o bico”, a tubaína é primeira escolha dos clientes: R$ 4 na garrafa de 600 ml. Depois vem a Coca Cola, por R$ 5 a de 1 litro. Seguida da Brahma, R$ 7 a garrafa. Mas atenção: o restaurante não aceita cartão, tudo deve ser pago com dinheiro.

Pirú conta que quase ninguém se senta ali de frente à cozinha. E achando que seria mais confortável para os clientes um novo lugar, tentaram sair de lá.

“Fomos para um ambiente mais fechado, mas ninguém queria. Eles querem é ficar embaixo das árvores. Tivemos que voltar”, diz.

A Bíblia abençoa a comida e repele energia negativa (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

E um alerta: quem se aproxima com más intenções, pode ser espiritualmente repelido por uma Bíblia estrategicamente colocada à frente do balcão, cujas páginas já foram encapadas com gordura, assim como os peixes da comida regional costumam ser encapados com trigo e farinha de rosca.

“E ela está conosco desde o dia que abrimos. Sempre no Salmo 91. Ela abençoa a comida e abençoa quem tudo de bom desejar para a gente”, diz Gigi.

A cara de Cuiabá

Clientes desde que o boteco abriu, Arthur Osório e Vanderlei Rolin listam os atributos do local simples, mas que atrai gente de todo canto da cidade.

“Hoje decidimos nos encontrar e nos perguntamos: ‘onde é que a gente vai?’. Até pensamos em ir para uma churrascaria, mas na maioria das vezes acabamos vindo para cá”.

Arthur e Vanderlei: clientes desde o início. “Já viramos amigos” (Ednilson Aguiar)

“Comer ao ar livre, na sombra… sem contar o peixe, que é muito bom. Já viramos amigos”, contam.

A propósito, foram posts nas redes sociais do fotógrafo Izan Peterlle que me aguçaram a curiosidade sobre o local. “Izan, onde fica?”, perguntei.

Já não bastassem as constantes declarações de amor ao local, ele aproveitou para fazer ainda mais propaganda, me deixando com mais vontade de conhecer o Buteco do Pirú.

“Almoça lá. ‘Vais ficar freguês’. Só almoço lá, quando vou para Cuiabá [ele mora em Chapada]. Para mim, é símbolo máximo da cuiabania. O lugar, o bairro. Tudo é a cara de Cuiabá”, defendeu.

Ao descer para a capital, Izan almoça lá. Aqui, registrou a chegada de Laura com sua refeição. Adivinhe qual o pedido

Resumindo, virei cliente. Se você quiser conhecer o local, o Buteco do Pirú fica na rua Fenelon Muller, 640, no Dom Aquino. Pela Carmindo de Campos, na direção Porto-Coxipó, basta entrar à esquerda entre o posto e a igreja, nas imediações da Acrimat.

Mas é bom ir logo!

Pirú e Gigi confidenciaram que estão planejando voltar para casa. O casal, junto há 34 anos, se conheceu lá mesmo, em Barão. “Ele jogando bola, eu torcendo para o União dos Amigos de Capoeirinha”, relembra.

“Em um futuro próximo – que é bem provável que seja no ano que vem – vamos voltar para lá. Temos o projeto de levar o restaurante”. Então, corra!

P.S.: Pirú, que atuou como feirante no Porto por mais de 20 anos, tem esse apelido porque quando brincava na rua, por conta de uma briguinha de criança se exaltava, ficava todo vermelho. “Igual pirú”, arremata.

Mais informações: 99943-7560.

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