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A era das roupas justas chegou ao fim?

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A era das roupas justas chegou ao fim?

A pandemia causada pela COVID-19 fez com que o mundo todo se isolasse e passasse a trabalhar dentro de suas residências. Nesse cenário, deixamos de nos vestir para sermos vistos pelos outros e passamos a nos vestir para nós mesmos.

Podemos dizer que durante o ano de 2020 o tato superou a visão, visto que nós começamos a priorizar o conforto e a flexibilidade real das peças e dos tecidos que utilizamos para nos vestir. Ao que parece, a relevância das sensações táteis sobre as visuais tende a permanecer em 2021 e não apresenta nenhum sinal de que vai embora algum dia.

Se alguma lição sobre moda pode ser aprendida devido à pandemia é a de que nós precisamos de roupas que abracem nosso corpo ou que nos acaricie, ao invés de insistirmos em criar uma estrutura em torno dele. Nossas roupas hoje têm que funcionar e, em muitos casos, elas precisam amolecer e aumentar de tamanho para isso.

No jargão da cultura popular, “amolecer” significa tornar-se piedoso, brando, alguém que cede com facilidade diante de um pedido, ou até mesmo tornar-se fraco. No entanto, para o mundo da moda, historicamente construído a partir do binarismo entre masculino e feminino, amolecer pode ser amplamente entendido como um movimento de afastamento da alfaiataria (moda masculina) em direção ao flou (moda feminina).

Trata-se de uma oposição entre roupas que se comportam como um exoesqueleto versus (em alguns, mas não em todos os casos) roupas que se comportam como uma segunda pele.

A moda se diverte com essa contradição, e a história sugere que as mulheres costumam ser mais livres nos períodos em que as roupas trabalham em favor do seu corpo, ao invés de criar uma espécie de armadura para ele.

As décadas de 1940 e 1980 são exemplos de épocas em que presenciamos uma grande reviravolta, especialmente nos termos da relação das mulheres com o trabalho, um momento em que elas entraram em um território desconhecido. Muitas se inspiraram nos manuais masculinos, adotando silhuetas rígidas personalizadas, a exemplo da silhueta de triângulo invertido que enfatizava os ombros, chamando atenção para a parte superior.

 

Esse tipo de composição mostrava (ou projetava) força, através de uma espécie de presença marcante aumentada pelas roupas, onde ocupar espaço é equivalente a ter poder.

Em contraposição, as modas mais suaves e conscientes do corpo das décadas de 1930 e 1970 muitas vezes se apegaram e revelaram o corpo feminino como uma fonte de poder. O conforto no visual é definido de maneira diferente em diferentes épocas, mas movimento e liberdade são tratados como sinônimos na moda. Além disso, foram essas qualidades que colocaram a moda norte-americana no mapa. Desde o seu surgimento, as roupas esportivas americanas se preocupam em acomodar um estilo de vida ativo. A mulher norte-americana foi historicamente vista como independente, atlética e jovem. As roupas projetadas para ela refletiam as sensações de movimento e modernidade em comparação com os visuais que as antecederam, especialmente em oposição à alta costura francesa, a moda norte-americana se destacou no mundo todo pela sua simplicidade.

Fazer as roupas “funcionarem” requer algumas inovações que abrangem a flexibilidade e a elasticidade. Na década de 1930, os vestidos em seda eram as peças favoritas para as damas da sociedade parisiense frequentarem os seus cafés. Em 1970, os tecidos com elastano começaram a aparecer nas coleções de designers importantes e nas lojas mais populares. Não demorou muito tempo para que a malha também se tornasse uma sensação no mundo da moda, sendo amplamente utilizada em marcas importantes como Halston e Chloé.

A moda “comfy” atualmente

A maneira como nos vestimos pode de fato ter um impacto em como nos sentimos, o que pode explicar o apelo de longo prazo que nós estamos dando para as peças que nos trazem conforto. Pensando na importância da nossa conexão mente-corpo, em certo sentido, o afastamento da alfaiataria para as roupas desestruturadas e confortáveis é uma forma de liberação e descontração para quem a usa, um retorno ao cuidado e preocupação com o conforto do corpo e também talvez, uma tentativa de retornar o seu movimento habitual.

 

Do ponto de vista psicológico, este tipo de roupa mais suave e ampla pode fornecer segurança ou consolo e, simultaneamente, empoderamento e liberdade. O que a tendência ao conforto revela sobre a mentalidade coletiva na pandemia? Uma das possíveis respostas é que talvez nós estejamos prontos para a ação e engajados no tempo presente.

 

O foco da moda se comportando como uma segunda pele no corpo mantém nosso visual ancorado, ou pelo menos com um pé no mundo real, que é onde precisamos estar para reconstruir nossa vida e retornar à normalidade assim que possível.

Aquelas mulheres que, aos poucos, estão voltando para as ruas e para as suas atividades têm preferido adotar uma atitude mais relaxada, usando calça jeans pantacourt, com uma boca larga que balança a cada passo. É uma tendência que você pode querer aderir.

As calças apertadas e justas ao corpo estão oficialmente fora de moda para as gerações mais jovens, ainda que muitos millennials, que cresceram com a tendência dos jeans apertados, nutram um forte amor pelo corte mais justo.

Nos últimos meses, acompanhamos as celebridades mais jovens e elegantes do momento, como Hailey Bieber, Bella Hadid, Katie Holmes e muitas outras aparecerem nas ruas e nos eventos vestindo calças jeans de modelagem mais ampla, com bocas largas e confortáveis. Esse movimento faz sentido, dados os tempos atuais: ao longo do ano passado, todos nós nos deslocamos em direção ao conforto, então por que não adequaríamos nossos jeans para esse contexto, não é mesmo?

As celebridades estilizaram suas calças jeans maiores a partir de uma variedade de combinações chiques e atemporais, compensando seu visual desleixado com casacos feitos sob medida, sapatos de salto alto e bolsas pequenas. Enquanto o jeans mais justo veste e otimiza qualquer roupa, o jeans largo tem o efeito oposto e dá a qualquer roupa uma sensação jovial sem esforço. Além disso, eles são definitivamente muito mais confortáveis.

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