Ednilson Aguiar/O Livre
Em depoimento inédito de seu acordo de colaboração premiada, o ex-governador Silval da Cunha Barbosa (PMDB) relata ilícitos e irregularidades cometidos na área do Parque Cristalino, localizado na divisa entre Mato Grosso e o Estado do Pará.
A defesa do ex-governador confirma que os depoimentos foram prestados à promotora Vanessa Cristhina Marconi Zago Ribeiro Scarmagnani do Ministério Público Federal (MPF). As informações, contudo, não constam no acordo de colaboração premiada que teve o sigilo levantado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Silval afirma que o deputado Ondanir Bortolini, o Nininho (PSD), teria construído uma estrada dentro da reserva com aval da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, comandada pelo vice-governador Carlos Fávaro (PSD). O ex-governador ouviu a informação de seu irmão, Antônio Barbosa, o Toninho, que em dezembro de 2016 sobrevoou a área e detectou a existência da estrada.
A estrada e uma ponte sobre o Rio Cristalino, que seria construída futuramente, teriam como objetivo encurtar a distância entre uma propriedade de Nininho no Pará e o município de Alta Floresta, em Mato Grosso. Ao procurar o deputado para saber se havia licença para a construção da estrada e da ponte, Toninho teria ouvido que “estava tudo acertado com Carlos Fávaro”.
O irmão de Silval teria então proposto vender sua parte, 50% da área, para evitar problemas com crimes ambientais. Ao todo, R$ 500 mil teriam sido pagos pela propriedade, sendo R$ 250 mil em dinheiro e o restante com um trator.
A propriedade inteira teria sido comprada por Silval, em 2002, do deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB). Os outros 50% já haviam sido vendidas ao pastor Valdemiro Santiago de Oliveira, da Igreja Mundial do Poder de Deus, antes da negociação com Nininho.
Venda a Valdemiro
De acordo com o ex-governador, a área que abriga a Pousada Cristalino foi comprada de Romoaldo em 2002 e depois revendida ao pastor.
Em depoimento já divulgado anteriormente, o ex-governador afirma ter recebido R$ 400 mil de propina da obra da Arena Pantanal por meio do deputado em uma reforma na pousada.
A negociação da compra teria sido feita por Toninho Barbosa enquanto Silval estava preso em decorrência da Operação Sodoma, do Ministério Público Estadual (MPE), em 2016. Apesar da venda, a propriedade teria continuado a ser utilizada por Romoaldo Júnior.
O pastor teria conhecido a pousada em 2014 e se interessado em comprar a propriedade por R$ 1,5 milhão. Em maio de 2016, em nova negociação, a venda ficou acordada em R$ 900 mil, depois que Valdemiro já havia começado a utilizar a pousada e Toninho foi notificado pela Sema para que desocupasse a área.
Outro lado
O deputado Romoaldo Júnior afirma que vendeu a área a Silval quando ocupava a prefeitura de Alta Floresta, por volta de 2003. Ele afirma ter recebido R$ 1,2 milhão legalmente pela área. Em 2013, o deputado afirma ter realizado uma reforma a pedido do ex-governador, pois morava no local. Romoaldo nega o recebimento de valores ilegais. “Se fosse assim, a minha parte ele está devendo”, brincou o deputado.
O vice-governador Carlos Fávaro diz repudiar a “conotação dada pelo delator” a seu trabalho à frente da Sema. Fávaro afirma que “qualquer afirmação de que houve facilidades ou qualquer outro ato espúrio é leviana e mentirosa”. Segundo o vice-governador, não há registros do processo citado nem autorizações que não tenham seguido os trâmites legais.
De acordo com o deputado estadual Ondanir Bortlini (PSD), Nininho, assim como as ilações anteriores do ex-governador, ele vai provar que tais denúncias são infundadas. “Anteriormente, declarei que não tenho participação nas empresas citadas na delação, assim também como não tenho propriedade nas área citada pelo ex-governador na região do Cristalino”, disse.
Veja nota emitida pelo pastor Valdemiro Santiago de Oliveira:
1.) O Apóstolo Valdemiro Santiago de Oliveira nunca manteve ou mantém qualquer relacionamento comercial, financeiro ou empresarial com o ex-governador Silval Barbosa.
2.) O único encontro entre ambos deu-se em Culto evangélico ministrado pelo Apóstolo perante milhares de pessoas no Estado do Mato Grosso, quando o então Governador lá se dirigiu pedindo oração, participando do referido culto, fato este presenciado por milhares de pessoas.
3.) A proposta de venda de parte da área, que não trata-se de fazenda, mas sim de rancho adjacente a rio, foi ofertada em outra ocasião, pelo Sr. Antonio Barbosa, irmão do ex-governador, junto ao Bispo Rildo Teixeira, então representante estadual da I.M.P.D. (Igreja Mundial do Poder de Deus).
4.) A transação foi intermediada pelo aludido Bispo e por representantes da família de Antonio Barbosa, restando a compra realizada pela esposa do Apóstolo, Bispa Franciléia de Oliveira, observando todos os aspectos legais vigentes.
5.) Desta forma, solicitamos a devida correção da matéria publicada, com os devidos esclarecimentos.
