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“Será que fui tão canalha assim?”, questiona Silval

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“Será que fui tão canalha assim?”, questiona Silval

 

Montagem sobre fotos de Ednilson Aguiar/O LIVRE

silval

Cidinho e Silval: transcrição de conversa gravada no CCC ocupa 17 páginas de inquérito

No dia 22 de abril, o senador José Aparecido dos Santos, o Cidinho, visitou o ex-governador Silval Barbosa no Centro de Custódia da Capital (CCC) para uma longa conversa sobre o presente e, principalmente, o futuro.

Sem saber que era gravado por seu interlocutor, Cidinho procurou tranquilizá-lo sobre as articulações que eram realizadas em Brasília para conseguir sua libertação. Um “trabalho muito bem feito”, segundo ele.

Em nota divulgada após o vazamento de parte do conteúdo da conversa, o senador negou que tenha ido ao CCC em nome do ministro Blairo Maggi para convencer Silval a não fazer uma delação.

“Não sou garoto de recado, não recebi orientação e não fui a mando de ninguém (…) Lamento que no vídeo divulgado não conste o áudio, pois, seria de conhecimento de todos que nada falei no intuito de prometer qualquer benefício ao acusado”, afirmou, à ocasião.

A transcrição da íntegra do diálogo ocupa 17 páginas do apenso 6 do inquérito nº 4596 que tramita no STF. O LIVRE destacou alguns dos pontos mais importantes deste encontro. Confira:

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DE CABEÇA PARA BAIXO

O senador pede desculpas pela demora na visita e se mostra solidário à situação do ex-governador. Comenta que o “Brasil está virado de cabeça para baixo” e que “se forem criminalizar o Caixa 2”, todos os políticos ficarão inelegíveis:

“Cidinho: Agora, depois do Caixa 2, se for criminalizar, não vai sobrar ninguém.

Silval: Ne quem?

Cidinho: Caixa 2, criminalizar tudo, não vai sobrar ninguém, preso.

Silval: Hoje não tem clima mais pra passar o Caixa 2, né

Cidinho: Não, mas (incompreensível) achar uma solução porque se não, vai ficar todo mundo inelegivel (incompreensivel).

Silval: Uhum”

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BLAIRO CHATEADO
Silval questiona Cidinho a respeito de um “amigo” em comum cujo contexto remete ao ministro Blairo Maggi. Cidinho diz que o aliado está “chateado com tudo” e cita a sequência de acusações que recaíram sobre ele.

“Silval: E o nosso amigo, Senador?

Cidinho: Ah, chateado com tudo também, né. Coisas de lá, né.

Silval: É, esse negócio da Odebrecht, né.

Cidinho: É, não, tem o (incompreensivel) essa dela, delação do Riva, tem do negócio do Sergio Ricardo, do, do dinheiro …

Silval: É, o negócio da Máfia da Assembleia, né.”

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SILVAL DESCRENTE

Silval se queixa dos quase vinte meses na prisão. Ouve de Cidinho que existe “um trabalho muito bem feito” em andamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o ex-governador se mostra descrente com a suposta mobilização em seu favor. O senador dá detalhes.

“Silval: Eu acho que [o trabalho no STJ] não foi feito não.

Cidinho: Ô loco. É um trabalho intenso. Todo mundo (…)

Silval: Rapaz, não tinha como, rapaz. Eu não mexi porque me garantiram que tavam mexendo.

Cidinho: Só o detalhe não posso, não posso lhe passar (incompreensível).

Silvai: É mesmo?

Cidinho: (incompreensível) que foi feito, foi feito. Isso eu tenho (incompreensivel) que foi feito, agora, pra eu (incompreensível), envolveu até Folha de S. Paulo para (incompreensível) acabar com Lava Jato.”

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DELATOR ARREPENDIDO

Em um trecho interpretado pela PF como uma tentativa de dissuadir Silval de uma possível delação, Cidinho comenta sobre o suposto “arrependimento” do ex-deputado José Riva após depoimentos nos quais “entregou todo mundo”. De acordo com o senador, a PGR estaria “enrolando” para assinar o acordo de delação.

“Silval: Ele tá arrependido?

Cidinho: Por que? Porque ele entregou todo (incompreensível), entregou todo mundo, entregou na base da colaboração (…) e só tão enrolando ele (…)

Silval: Puta que pariu. Achei que ele tinha assinado aquilo lá. Pra ele fazer o que ele fez em depoimento lá, naquele negócio lá, lá na…

Cidinho: Não assinou. Tão enrolando ele. Toda semana marca. Pra semana que vem, tem na outra semana, aí tem um detalhe, não sei o que. Ele já ofereceu o apartamento dele no Rio de Janeiro, e aí a conversa, uma coisa que era emblemática, entregar aquele apartamento no
Rio de Janeiro, o avião, não sei o que, a fazenda, (incompreensível), pa, pa pa e tal, que, ele ofereceu tudo, aí toda semana isso, ele fez o depoimento, tudo e tá dessa forma.”

 

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ACORDO COM PEDRO TAQUES

Silval menciona o suposto acordo firmado com o então candidato ao governo, Pedro Taques, para que o ex-governador não investisse recursos na campanha de seu aliado, o petista Lúdio Cabral. Cidinho confirma saber do assunto. Em contrapartida, segundo ele, Taques se comprometeu a não vasculhar os bastidores da administração anterior. Mas não cumpriu.

“Silval: É, porque na verdade eu, foi feito um acordo pré-eleitoral né Cidinho.

Cidinho: Foi feito, eu sei.

Silval: Foi feito um acordo pra não investi na campanha do outro (…) Agora, cê vê, fevereiro, ah, fevereiro de 2015, e a auditoria já vem com relatório. Eu tô preso em consequência do Estado.”

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MARCAS DO CÁRCERE 1

A conversa volta a ser sobre a rotina desgatante na prisão. Silval diz que a situação está “esgotando sua vida”, mas ressalta que seu lema é nunca ficar desanimado. Cidinho tenta destacar pontos positivos.

“Silval: Ai cê vai …vai esgotando a saúde, vai esgotando a minha vida, você fica sem bens, a familia tem problema (…)

Cidinho: O que você tem que pensar também é que o que o que cê tá passando, você não vai passar mais, porque o dia que você sair daqui, você não volta mais (incompreensível) aí é tranquilo, né?

Silval: Ah, mas se pegar igual ao Riva.

Cidinho: Se pegar, o pior você já ficou, os dois anos preso. Porque aí já cumpriu a parte fechada.”

 

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TRAIÇÃO DE NADAF

Cidinho se queixa do sistema de “delação” e de amigos que fizeram “sacanagens”. Silval menciona o ex-secretário Pedro Nadaf como exemplo de alguém de sua inteira confiança que, quando confrontado, preferiu fazer um acordo.

“Cidinho: (…) Foda esse sistema de delação.

Silval: É complicado. O Pedro Nadaf, cê vê, né, de dentro de casa (…) Um Secretário de confiança. Porque num governo cê tem que confiar em alguém né Cidinho?”

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MARCAS DO CÁRCERE 2

Questionado sobre o tratamento que recebe no CCC, Silval menciona que há oscilações de “humor” e se queixa de injustiças: quando um interno comete faltas disciplinares, o castigo é para todos.

“Cidinho: Mas o pessoal aqui te trata bem, né?

Silval: É humor (…) Por exemplo, agora nós tamo de castigo, dez dias sem sair pra fora.

Cidinho: Por que?

Silval: Porque ontem teve (…) um agente desentendeu na hora da chamada com um preso desse lado, só o agente e o preso (…) aí em vez de punir só o setor que ele tá ou só a ala…

Cidinho: (incompreensível) Todo mundo?”

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LER UM LIVRO, CARPIR UM LOTE

Silval se queixa de falta de uma sala para leitura prometida pelo juiz Geraldo Fidelis, da Vara de Execuções Penais. O projeto, segundo ele, estava emperrado por falta de uma verba de R$ 2 mil. Cidinho propõe ajudar:

“Cidinho: Vou entrar com recurso.

Silval: Aí, preso não pode ajudar porque tem que ser o governo. O governo não quer vim. Falta uns dois mil reais (…) Que aqui a gente não deixa trabalhar, sempre eu pedi pra trabalhar, em uma horta, quero o que tiver que fazer, carpir, o que for…

Cidinho: Não deixa?

Silval: (…) Se pudesse ler mais você lia cinco, seis, sete livros que a gente lê normalmente.

Cidinho: Pode contar comigo, vou ver com Doutor GERALDO…”

 

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ABANDONADO E ESQUECIDO

Silval se queixa dos aliados da Assembleia Legislativa, que segundo ele não se empenharam para impedir a CPI das Obras da Copa. Cidinho parece concordar com as queixas, mas garante a Silval que não vai seguir o mesmo caminho.

“Silval: Fui abandonado porque, por exemplo, começou a abrir aí as coisas, o governo tinha compromisso. Se oito deputados, seis deputados, segura a CPI na Assembleia ou que dava pra segurar, mas pelo contrário, toda nossa bancada ainda fizeram parte das comissão (…) Isso potencializou a Justiça, tanto o MP. Porra tá todo mundo cagando e andando, fuder ele duma vez.

Cidinho: Todo mundo se acertou … (incompreensível).

Silval: Esqueceram de mim … aí, pô, e eu falava “pelo amor de Deus gente, não é possível, será que eu fui tão canalha assim?” Não é possível, cara. Ajudei todo mundo.

Cidinho: Mas eu não vou te abandonar não.”

 

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AJUDA DO PTX

Silval diz que tem esperanças de que o Ministério Público aceite impor uma fiança para sua liberação. Cidinho questiona se o PTX (o governador Pedro Taques) poderia intermediar a negociação. O ex-governador é reticente:

“Cidinho: Cê não acha assim no caso, ele conversando com ela, o Ministério Público, o Ministério Público (incompreensível) aceita essa fiança?

Silval: Quem?

Cidinho: O PTX.

Silval: Ele não conversa.

Cidinho: Ahn?

Silval: Ele não conversa.

Cidinho: (incompreensível).

Silval: Não sei se ele conversa, esse cara é muito falso.”

 

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VINHO E RISADAS

Ao final do encontro, Cidinho pede calma ao ex-governador e promete “resolver” seu caso.

Cidinho: Daqui a uns dias nós vamos estar juntos tomando um vinho e…

Silval: Isso

Cidinho: Só dando risada do passado (incompreensível).

Silval: Manda um abraço pro BLAIRO.

Cidinho: Deus sabe o que está fazendo, você é uma pessoa do bem, sempre…

Silval: Manda um abraço pra (incompreensível) uma hora passa, não tem tempestade que dure para sempre.

Cidinho: É, segura as pontas aí que nós vamos resolver isso aí.

Silval: É, né?

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