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Sayonara, Arcanjo e Silva Freire: histórias da justiça trabalhista viram livro

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Sayonara, Arcanjo e Silva Freire: histórias da justiça trabalhista viram livro

A história de várias cidades de Mato Grosso se entrelaça à trajetória dos 80 anos da Justiça do Trabalho no Estado. Dentre as ações judiciais, houveram casos curiosos e até personagens que protagonizaram o cenário sócio-político da década de 1940 – quando das primeiras grandes construções – até os dias de hoje, em que situações desenroladas no ambiente virtual desencadearam processos.

São histórias que renderam um livro! A equipe de comunicação do Tribunal Regional do Trabalho garimpou em documentos de diversas épocas disponíveis no arquivo da Justiça do Trabalho, centenas delas.

Outras narrativas pitorescas de situações vividas em salas de audiências e no dia a dia de quem trabalha no judiciário trabalhista, ganharam uma seção especial. A “Só sei que foi assim” foi desenvolvida com base no relato de magistrados, oficiais de justiça, secretários de audiências e advogados de 1941 até meados de 2017. O livro também marca as comemorações dos 25 anos do Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT).

A jornalista Aline Cubas foi a primeira profissional de assessoria de imprensa a atuar no órgão. Ela ressalta que a crueza dos textos dos processos trabalhistas foi atenuada por uma linguagem descontraída e uma diagramação que facilita a leitura. As ilustrações bastante atrativas do artista Ricardo Leite, o Ric Milk, deram vida a patrões e trabalhadores relatados no livro.

“Ele pode ser utilizado também, como uma fonte de pesquisa, afinal, as histórias contextualizam a época em que foram delineadas, revelando o desenvolvimento do Estado, crescimento econômico e mudanças sociais, mas é sobretudo”, destaca.

equipe jornalistas assessoria de comunicação TRT

Zequias, Sinara e Aline foram à redação do LIVRE contar sobre o livro

Ao seu lado, figuram os jornalistas Zequias Nobres, que chegou em 2012 e Sinara Alvares, desde 2015. Juntos a Fabyola Coutinho – que assina a seção Só Sei que Foi Assim – estudaram processos de diversas épocas. Ademar Adams teve contribuição especial.

“Foram dois anos de pesquisa. Dos arquivos com páginas amareladas e com grafias muito antigas até os dias de hoje, nos processos digitalizados. Fizemos muitas constatações. Antes, a exemplo, a polícia costumava ser a primeira a ser chamada nestes casos”, pontuou Sinara.

Em uma das histórias, a exemplo, um advogado de um trabalhador, na década de 1940, criticou a atitude de uma empregadora que chamou a polícia para resolver um imbróglio. Ela estava bastante insatisfeita com os serviços de um pedreiro – cuja muro havia “derretido” – e não queria fazer o pagamento. Mas resumindo, perdeu a ação. Mas houveram outras conciliações entre empregador e empregado que não foram assim tão rentáveis para o trabalhador, como a exemplo, no primeiro caso relatado no livro, em que o português boêmio teve que pagar os custos do processo. 

Selecionamos algumas histórias curiosas, engraçadas e outras nem tanto de vários períodos. Tem audiência em hospital, dívidas trabalhistas de Arcanjo, reclamação de trabalhador que fez a reforma da pista do saudoso Sayonara e até uma babá que afastada por doença, surgiu no Facebook tirando onda na praia. As histórias completas podem ser acessadas agora mesmo. A obra também está disponível para download gratuito no site do TRT.

No hospital

No Pronto Socorro de Várzea Grande, uma audiência inusitada. Para que o trabalhador pudesse receber suas verbas trabalhistas mais rapidamente, um juiz levou a audiência para os corredores do hospital. Acidentado, ele não podia deixar o hospital, sendo assim, a audiência foi realizada no corredor do hospital entre macas e profissionais de saúde.

Foto no Facebook

Foi Assim livro TRT

Uma babá, de licença médica, viajo para praia e de lá, postou fotos no Facebook, ironizando com as legendas #perguntaseeutobem #tobemdemais. Imagina como foi que ela ficou não é mesmo? Estas e outras histórias você encontra no livro Foi Assim – Vidas, olhares e personagens por trás dos processos trabalhistas em Mato Grosso.

De chorar

Talvez sem ao menos ter consciência de que era vítima de um crime – trabalho escravo -, um trabalhador tentou fugir da fazenda em que trabalhava, em um município do Araguaia. Foi morto para servir de exemplo: primeiro, alvejado por tiros e, em seguida, enforcado sob o olhar dos companheiros. Na denúncia feita pelo Ministério Público do Trabalho, um outro companheiro narrou os horrores daquele dia. Também ele sofreu agressões desumanas como ser amarrado a um caminhão e arrastado e torturado com um alicate.

Construções

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Na década de 1940 a Capital que conhecemos hoje começou a ganhar seus primeiros contornos. Quinze das mais importantes obras foram construídas por uma firma do Rio de Janeiro, a Coimbra Bueno e Cia, que deu vida a muitos prédios cujas edificações resistem ao tempo, tais quais a Residência dos Governadores, Grande Hotel, Cine Teatro Cuiabá e o Liceu Cuiabano. Aconteceu de depois de o concreto armado tomar forma, muitos funcionários contratados foram demitidos, sem justa causa. Mas várias reclamações chegaram à Junta de Conciliação e Julgamento de Cuiabá. A firma carioca teve que quitar muitas dívidas seja pelo cumprimento a sentenças, seja por acordos judiciais.

Silva Freire

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Uma das crônicas narra a ascensão de um dos primeiros servidores da Justiça do Trabalho. O poeta Silva Freire, que é um dos grandes expoentes da literatura mato-grossense, começou a carreira dando andamento a processos, juntando petições ou atendendo o balcão na Junta de Conciliação e Julgamento de Cuiabá. Logo, o jurista foi empossado como oficial de diligência. Mais tarde, como militante trabalhista, ocupou cargos de relevância no governo do presidente João Goulart.

Sayonara

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A casa noturna das mais famosas de Cuiabá, por onde passaram estrelas da música brasileira, como Roberto Carlos, Maysa e Alcione, também foi palco de processo trabalhista na década de 60. Outras estrelas como Agnaldo Rayol, Grande Otelo e Beth Carvalho pisaram naquela pista construída a duras penas pelo servente que recorreu à Justiça do Trabalho em busca de um direito básico: ter sua carteira de trabalho assinada. Ele começou sua história como operário da construção civil na empreiteira responsável pela reforma da pista de dança da boate, em 1960. Mas um acidente no local foi o estopim para uma disputa trabalhista. 

Tiro saiu pela culatra

Um processo da justiça trabalhista foi parar na criminal. Um grupo de capangas armados, contratados para defender a todo custo uma área de conflito nas proximidades da Gleba Cristalino,no Norte de Mato Grosso, foram buscar auxílio da justiça trabalhista para receberem verbas e o FGTS pelas horas trabalhadas na ilegalidade. Eles perderam a causa e ganharam outro problema bem maior…

Arcanjo

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No final de 2003, a prisão de João Arcanjo Ribeiro, apontado como chefe do crime organizado em Mato Grosso, tomou conta dos noticiários e rodas de conversa. O caso refletiu também na Justiça do Trabalho porque vários foram os processos envolvendo apontadores do jogo do bicho. Com sua prisão, centenas de ex-cambistas do jogo do bicho de todo Estado entraram com ações nas varas do trabalho de Cuiabá e outras do interior, cobrando o pagamento de direitos trabalhistas.

 

 

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