O fluxo de passageiros no transporte público de Cuiabá aumentou nos últimos dias, se comparado ao início da pandemia, em março. O retorno das atividades econômicas consideradas não-essenciais fez crescer o número de trabalhadores e outros usuários do sistema coletivo.
Um crescimento que gera preocupação quando o assunto é a covid-19. Os ônibus são considerados – junto com os hospitais – os espaços com mais alto risco de transmissão do coronavírus. O ambiente fechado, com pouca ventilação e a falta de distanciamento entre as pessoas são os fatores.
Segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), em Cuiabá, as medidas de isolamento social reduziram em 33% o número de passageiros diários em junho. Dos 250 mil usuários de um dia normal, apenas 75 mil se mantiveram usando o transporte coletivo.
E como a orientação sempre foi para que as pessoas ficassem em casa o máximo possível, a frota chegou a ser reduzida nas primeiras semanas da pandemia. Todavia, pesquisadores afirmam que essa não é a melhor maneira de lidar com a situação.
Hoje, na Capital, 100% dos ônibus voltaram a circular por determinação da Justiça.
Segundo a Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU), a lotação permitida nos ônibus é de 36 passageiros sentados ou 46 – contando quem estiver de pé. O número, porém, pode subir para 55 nos horários de pico.
Atualmente, a frota em Cuiabá tem cerca de 360 ônibus rodando. Isso quer dizer que, por dia, cada um deles transporta – em média – 700 passageiros. Um número que não leva em contas os finais de semana, quando o volume de usuários é reduzido.
Qual a solução?
A quantidade de veículos rodando pela Capital deveria ter aumentado com a nova licitação do transporte coletivo, que prevê a renovação da frota e um número adicional de ônibus.
O edital foi lançado em 2019 e chegou a ser suspenso por recomendação do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT). Após alterações, foi relançado, mas novamente suspenso, dessa vez, em função da pandemia, de acordo com a Prefeitura.
Para evitar a superlotação e proliferação do coronavírus, então, os veículos disponíveis estão fazendo mais viagens que o usual. Além disso, a orientação é “que o usuário, se possível, quando verificar um ônibus lotado, aguarde o próximo”.
Os intervalos entre uma viagem e outra é de até 10 minutos, sustenta a administração municipal.
Trabalhadores em risco
Além dos usuários, os profissionais do transporte coletivo também estão expostos ao risco de contágio. Atualmente, 22 motoristas de Cuiabá e Várzea Grande estão afastados das funções por apresentarem sintomas da covid-19. Três deles testaram positivo para doença.
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Para evitar o contágio, os ônibus receberam cortinas de plástico. Os equipamentos têm o objetivo de isolar os motoristas dos passageiros, que embarcam pela porta da frente.
Lotação: um problema eterno?
Para a pesquisadora Tainá Bittencourt, da Rede de Pesquisa Solidária, o nível de lotação do transporte coletivo nas grandes cidades é um problema que não pode mais ser tolerado.
“Se a lotação de antes era ruim, quando a gente precisa tentar um distanciamento entre as pessoas um pouco maior, por causa da pandemia, isso não pode ser admitido. O espaço entre as pessoas tem que ser maior, então a frota tem que ser maior do que antes, para tentar acompanhar esse distanciamento nos ônibus”, avalia.
E uma possível solução foi pensada por uma empresa: um aplicativo que gerencia a frota e evita que os ônibus andem lotados.
O “Trancity” pode ser baixado gratuitamente em todas as Capitais até março de 2021. Segundo a green4T e Scipopulis, desenvolvedoras da ferramenta, ele já é usado em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.
Com ele as prefeituras podem cruzar os dados e fazer o uso da frota da melhor maneira para tentar evitar o contágio da covid-19.
Na Capital gaúcha, o Trancity auxilia, por exemplo, na gestão da oferta de ônibus. A ideia é assegurar que os veículos que seguem circulando não estejam superlotados, mesmo nos horários de pico.
De acordo com a Prefeitura de Cuiabá, outra empresa já faz esse o monitoramento na Capital. O serviço é pago pela AMTU e fornecido sem nenhum custo para a Semob.